Especialistas criticam traçado da Linha 4 do Metrô

Planeta COPPE / Engenharia de Transportes / Notícias

Data: 22/08/2012

Especialistas da área de transporte e representantes da sociedade civil criticaram o projeto atual da Linha 4 do Metrô carioca, que se estenderá de Ipanema até o Jardim Oceânico, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro. A Linha 4 e suas alternativas foi o tema do debate de abertura do X Rio de Transportes, nesta quarta-feira, 22 de agosto, no Auditório da Coppe/UFRJ, na Cidade Universitária. O seminário termina nesta quinta-feira.

A construção da Linha 4 do Metrô, a partir da Estação General Osório, em Ipanema, como extensão da Linha 1, passando por Ipanema e Leblon até chegar a São Conrado, foi duramente criticada por pesquisadores e especialistas da área de transportes e por representantes do Clube de Engenharia e de movimentos da sociedade civil. Os participantes defenderam a adoção do traçado original, em forma de rede, saindo do Largo da Carioca, e passando pelos bairros de Laranjeiras, Botafogo (Dona Marta), Humaitá, Jardim Botânico e Gávea.

Para o professor de Engenharia de Transportes da Coppe, Paulo Cezar Ribeiro, presidente do Comitê Organizador da décima edição do Rio de Transportes, ainda é possível reverter a situação. “Por que o Governo do Estado não faz o projeto com base no traçado anterior, que aumentaria a capacidade do sistema? Essa é a grande questão a ser discutida. Pelo traçado novo, você está limitando a capacidade”, afirma. Se o traçado anterior fosse adotado, ele formaria uma rede com as linhas 1 e 2. No projeto atual, a Linha 4 seria uma espécie de extensão da Linha 1.

Para o gerente de Projetos da Rio Trilhos, Heitor Lopes de Souza, os critérios que levaram à opção pelo novo traçado, que passa pelos bairros de Ipanema e Leblon, estão relacionados à demanda. Segundo ele, o trajeto inicial, passando por Laranjeiras, Humaitá e Jardim Botânico, receberia cerca de 110 mil passageiros por dia, mas não houve interesse por ele no momento da licitação. Já pelo novo trajeto passariam cerca de 230 mil pessoas diariamente. Entretanto, o gerente da Rio Trilhos lembrou que ambos os números já estão defasados. A demanda cresceu.

De acordo com os levantamentos apresentados pelo gerente da Rio Trilhos, cerca de 50% dos passageiros que embarcariam no Jardim Oceânico desceriam na Zona Sul, entre a Gávea, o Leblon e Ipanema. No entanto, os pesquisadores também questionaram essa hipótese.

“Foi apresentado aqui um pressuposto de que os passageiros que embarcarem na Barra desceriam em Ipanema e no Leblon. Mas as matrizes de origem e destino não mostram isso. Portanto, os passageiros que embarcarem na Zona Sul já terão dificuldade de entrar nos trens”, afirma o professor da Coppe, Paulo Cezar Ribeiro.

Segundo Paulo Cezar Ribeiro, ainda é possível retomar o projeto original. “A obra só começou no trecho entre Barra e Gávea. No outro trecho ainda não se começou a fazer nada. Então, é possível fazer a obra pelo trajeto original. O metrô é uma coisa contínua. O de Londres, por exemplo, continua em construção até hoje. É uma construção dinâmica”, explicou o professor do Programa de Engenharia de Transportes da Coppe.

Ex-presidente do Metrô e ex-secretário municipal de transportes, Miguel Bahury, membro do Conselho Diretor do Clube de Engenharia, defendeu que a Linha 4 seja independente da Linha 1. Além disso, Bahury destacou a importância da retomada da ligação entre as estações Estácio e Carioca, também previstas nos projetos iniciais do Metrô.

De acordo com o cronograma da Rio Trilhos, as obras da Linha 4 deverão ser concluídas até dezembro de 2015. A partir daí, seria iniciado um período de testes de dois meses até o trecho começar a ser operado regularmente, antes das Olimpíadas de 2016.

Também participaram das discussões os professores Eva Vider, da Escola Politécnica da UFRJ e colaboradora da Coppe; Carlos David Nassi, vice-coordenador do Programa de Engenharia de Transportes da Coppe/UFRJ; Luiz Antônio Silveira Lopes, do Instituto Militar de Engenharia (IME); e Alexandre Rojas, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), além do vereador Eliomar Coelho. O diretor da Coppe, professor Luiz Pinguelli Rosa, participou da mesa de abertura e também manifestou sua preocupação com a questão do traçado do metrô.

A segunda mesa do X Rio de Transportes foi dedicada ao corredor BRT (Bus Rapid Transit) TransOeste, que liga a Barra da Tijuca (Terminal Alvorada) até Santa Cruz. O tema foi apresentado pela gerente de Gestão da Mobilidade da Rio Ônibus, Paula Leopoldino. Segundo ela, a extensão do TransOeste até o bairro de Campo Grande deverá ser concluída nos próximos dois meses. Até 2016, o sistema deverá chegar até o Jardim Oceânico, quando transportará cerca de 220 mil passageiros por dia.