Coppe desenvolve sistema de apoio ao diagnóstico da tuberculose
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Data: 22/12/2010
O Brasil, que ocupa a 19ª posição no ranking dos 22 países que concentram 80% de casos de tuberculose no mundo, contará com tecnologia de ponta para combater a doença. Fruto de uma parceria entre a Coppe e a Faculdade de Medicina da UFRJ, o sistema de apoio ao diagnóstico, denominado Neural TB, está em fase de implantação no Rio de Janeiro e em mais cinco municípios do país. A tecnologia auxiliará médicos e enfermeiros na triagem e identifição da doença. O objetivo é aumentar a eficiência, reduzindo o tempo de diagnóstico e acelerando o início do tratamento correto.
O projeto piloto, que conta com o apoio do Programa Nacional de Controle de TB do Ministério da Saúde, está sendo implantado desde o mês de novembro em dez unidades de saúde no município do Rio de Janeiro, capital de um dos estados com a maior incidência de tuberculose (TB) no Brasil, com mais de 30% dos casos tratados sem diagnóstico bacteriológico, e em mais cinco municípios no país: Guarulhos, Paranaguá, Salvador, Porto Alegre e São Luís.
Nona causa de ingresso hospitalar e quarta em mortalidade por enfermidades infecciosas no país, a tuberculose vem aumentando, principalmente associada à epidemia da Aids, ao aumento da pobreza e a condições de moradia inadequadas. “É importante salientar que a tuberculose não se combate apenas com medicamento. Está muito ligada a fatores sociais, é um indicador de pobreza. Por isso, é necessária a mobilização de diferentes setores da sociedade no combate efetivo da doença”, ressalta Afrânio Kritski, vice-diretor da Faculdade de Medicina e coordenador do Programa Acadêmico de Tuberculose (PAT) da UFRJ.
O sistema, que utiliza redes neurais artificiais para indicar o grupo de risco do paciente e a probabilidade de ele ter a doença ou não, foi testado durante 12 meses no Centro Municipal de Saúde de Guadalupe, em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro. O resultado foi animador, com mais de 90% de acerto na indicação dos casos da doença, bem superior ao teste clássico da baciloscopia de escarro que é disponibilizado ao paciente nas unidades de saúde. “Mais importante ainda é que o resultado no diagnóstico obtido com o Neural TB foi similar àquele observado com novos testes moleculares, disponíveis apenas para o sistema público de países industrializados”, ressalta Kritski.
Equipados com um netbook contendo um sistema informatizado para coleta de dados, os profissionais de saúde farão a triagem a partir da aplicação de um questionário que inclui perguntas sobre tosse seca ou com catarro, perda de peso, dor no peito, febre, sudorese noturna, entre outras. No fim da entrevista, o profissional de saúde já obtém do sistema a informação sobre a probabilidade do paciente ter TB. Assim, ele pode agilizar a consulta médica, a solicitação de outros exames é orientar o paciente quanto aos cuidados que deve tomar para não transmitir a doença para os familiares (cobrir a boca ao tossir, usar máscara quando estiver perto de crianças ou idosos etc.).
A proposta é ir aonde a tuberculose está, fornecendo informações à unidade de saúde sobre os locais que precisam receber mais atenção dos agentes comunitários e sobre as características mais frequentes de quem pode abandonar o tratamento. “Assim, é possível providenciar o fornecimento do medicamento diretamente na casa do paciente dessa região. Espera-se que com essas medidas o doente receba assistência domiciliar antes mesmo que ele procure o hospital”, explica Seixas.
Agilidade no diagnóstico, tratamento mais eficaz
Os pesquisadores da Coppe e da Faculdade de Medicina da UFRJ conseguiram desenvolver uma forma mais eficiente de diagnosticar a doença que pudesse ser facilmente utilizada pelo Sistema Único de Saúde (SUS), pois, em nosso meio, cerca de 30% a 40% dos pacientes são tratados sem a confirmação da doença. Os métodos tradicionais disponíveis ou são lentos ou têm pouca sensibilidade para detectar a doença. A baciloscopia, por exemplo, é um exame rápido e barato, mas tem menos de 60% de acerto. Já a cultura do escarro, mais eficiente no diagnóstico, com cerca de 80% de sensibilidade, leva em média entre 30 e 40 dias para concluir o resultado”, afirma o professor de Engenharia Elétrica da Coppe, José Manuel Seixas, um dos coordenadores do projeto.
“A tuberculose exige agilidade no diagnóstico, seja nas unidades de saúde de nível primário, emergências, UPAs, ou mesmo em hospitais. O volume de pessoas que buscam atendimento nos hospitais é muito alto nas grandes metrópoles. Precisamos evitar que pacientes procurem hospitais sem antes receber atendimento apropriado nos Postos de Saúde, ou retornem para casa sem orientação adequada e voltem a transmitir a doença para outras pessoas”, adverte Afrânio. A ideia é estabelecer uma abordagem que auxilie o profissional de saúde a identificar no primeiro atendimento e que pacientes têm maior chance de ter TB no pulmão, além de agilizar o cuidado preventivo, evitando a irradiação da doença.
Um terço da população pode estar infectada
Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de um terço da população mundial pode estar infectada com o bacilo da tuberculose. São cerca de 9,4 milhões de novos casos por ano, e cerca de 2 milhões de pessoas com TB morrem. No entanto, é uma doença que tem cura, desde que seja diagnosticada precocemente e tratada de forma adequada.
No intuito de evitar equívocos no diagnóstico, os pesquisadores do Laboratório de Processamento de Sinais da Coppe estabeleceram uma classificação do risco de TB ativa para o paciente. Depois de responder ao formulário de triagem, o paciente é classificado conforme o risco de doença com sinal verde, amarelo ou vermelho. “Aqueles que recebem sinal vermelho ou amarelo são encaminhados diretamente ao especialista em tuberculose ou a um clínico geral. Os que recebem sinal verde, dependendo do caso, podem ser dirigidos para outras especialidades”, explica Seixas.
O projeto também tem como meta futura tornar o procedimento de atendimento mais eficiente, auxiliando o profissional de saúde a identificar na triagem quais necessitam de medidas especiais para evitar o abandono do tratamento. “Ao interromper o tratamento ou usar de modo irregular os medicamentos, o bacilo da TB presente no pulmão torna-se resistente aos medicamentos, ocorrendo a denominada TB multirresistente, mais difícil e cara de ser tratada, ou, pior ainda, a TB extremamente resistente (chamada TB XDR), para a qual não há mais possibilidade de cura”, afirma Afrânio Kritski.
O projeto conta com o apoio da Faperj, do CNPq e do Ministério da Saúde.