COPPE desenvolve estudo inédito sobre Mudanças Climáticas e Energia
Planeta COPPE / Planejamento Enérgico / Notícias
Data: 04/06/2008
A COPPE divulgou, no dia 2 de junho, estudo inédito que mostra os impactos das mudanças climáticas no sistema energético brasileiro. Patrocinado pela Embaixada do Reino Unido, o estudo aponta a vulnerabilidade do país no uso da energia. Ao participar da divulgação do estudo, o presidente da Eletrobrás, José Antonio Muniz Lopes, se interessou especialmente pelos resultados apresentados para o futuro da geração da energia eólica. Segundo ele, a empresa vai aprofundar a análise do estudo, com o objetivo de ter mais bases para futuros investimentos.
Os dados apurados mostram que poderá haver uma migração da produção eólica para o litoral, reduzindo seu potencial energético entre 30% e 60%, mas tornando algumas áreas mais atrativas economicamente. “O potencial eólico se reduz, mas deixa de ser disperso, se concentrando basicamente no litoral. Isso poderá fazer com que algumas áreas se tornem economicamente mais atrativas, tornando o investimento mais viável”, explicou um dos coordenadores do estudo, Roberto Schaeffer.
O estudo também aponta uma redução da geração de produção hidrelétrica – responsável hoje por 85% da geração de eletricidade do país – de 1% a 2% nos cenários de emissões altas e baixas respectivamente. A Bacia do São Francisco será a mais afetada, podendo sofrer uma queda de 7,7% na produção de energia. O presidente da Empresa de Pesquisas Energéticas (EPE), Maurício Tolmasquim, disse que os dados estão dentro dos parâmetros que o setor e o próprio governo vêm considerando. Acrescentou que ainda há incertezas embutidas no estudo.
Na opinião de Schaeffer, entretanto, a incerteza não é uma justificativa para ficarmos esperando o que vai acontecer. A expectativa é de que o estudo sirva como reflexão na análise dos futuros modelos de geração de energia. Ele alertou ainda que o fato de o sistema brasileiro de energia elétrica ser interligado não garantirá que futuras reduções da geração da Bacia do São Francisco, como prevê o estudo, venham a ser compensadas no que se refere à estabilidade do fornecimento.
O diretor da COPPE, Luiz Pinguelli Rosa, enfatizou, por sua vez, a importância do uso racional e eficiente de energia. “Não podemos nos prender somente à oferta de energia. É preciso pensar que a mudança no clima implicará em uma mudança nos padrões de consumo. É necessário racionalizar o uso, evitar o desperdício. Acho que essas são algumas lições de nossa discussão hoje aqui”.
A apresentação do trabalho também contou com a presença do diretor-geral da Aneel, Jerson Kelman, do coordenador do Programa de Planejamento Energético da COPPE, Luiz Fernando Loureiro Legey, e do professor do Programa de Planejamento Energético da COPPE, Alexandre Szklo, também coordenador do estudo.
País vulnerável
A vulnerabilidade do país está presente em praticamente todas as regiões brasileiras. O Nordeste será principal afetada pela mudança no clima global, com impactos sobre a bacia do Rio São Francisco, reduzindo a produção de energia hidrelétrica.
A mamona, cuja produção se concentra nesta região, será uma das culturas mais afetadas porque o aumento da temperatura poderá prejudicar o cultivo. As mudanças previstas no Nordeste se refletirão sobre o programa social do governo federal de estimular a produção de agricultura familiar. A cana-de-açúcar é a única que não deverá ser afetada negativamente, pois as principais regiões produtoras continuarão com as condições climáticas propícias ao cultivo.
Medidas sugeridas
Diante do quadro de redução na oferta de energia e da projeção de um aumento no consumo – devido à maior necessidade de condicionamento de ar – os pesquisadores da COPPE não têm dúvida de que é preciso aumentar o uso racional de energia e a eficiência energética; expandir a oferta de eletricidade, a partir de combustíveis alternativos, como resíduos sólidos urbanos e bagaço de cana; e ampliar a oferta de biocombustíveis, sobretudo biodiesel.
O estudo inédito “Mudança Climática e Seguranca Energética no Brasil” foi coordenado pelos professores Roberto Schaeffer e Alexandre Szklo, do Programa de Planejamento Estratégico da COPPE, e contou com a participação dos pesquisadores André Frossard, Raquel Rodrigues de Souza, Bruno Soares M. C. Borba, Isabella V. L. da Costa, Amaro Pereira Júnior e Sergio Henrique F. da Cunha. O estudo, realizado com o apoio da Embaixada do Reino Unido, está disponível no site.
Leia mais sobre o estudo:
As Vulnerabilidades às Mudanças Climáticas das energias renováveis
Mudanças Climáticas provocam aumento de consumo de energia