Robô da COPPE rumo à região Polar Sul
Planeta COPPE / Engenharia Elétrica / Notícias
Data: 03/10/2007
O robô Luma será um dos principais integrantes da expedição brasileira que parte dia 23 de novembro rumo à região Polar Sul. Para enfrentar as adversidades da Região Antártica, cuja temperatura pode chegar a 20° negativos, o robô está passando por uma série de adaptações no laboratório de Controle da COPPE. Os pesquisadores que vão acompanhar o destaque da equipe nesta aventura, cuja primeira etapa terá duração de um mês, também tiveram que passar por testes e treinamentos. A missão, que faz parte do Ano Polar Internacional, tem como objetivo principal mapear a biodiversidade marinha nas águas profundas da baía do Almirantado, na Ilha Rei George, que fica próxima à península Antártica. Esta é uma das regiões do Planeta que mais vem sofrendo com o degelo em função do aquecimento global.
A baía do Almirantado ocupa uma área de 386 km2, onde encontram-se estações de pesquisa do Brasil, Polônia, EUA, Peru e Equador. Além da baía, os especialistas também irão explorar áreas mais profundas do Estreito de Brainsfield, nas proximidades da Península Antártica. Nesta missão, onde se pretende coletar material em áreas de até 500 metros de profundidade, o robô da COPPE terá um papel fundamental. A equipe responsável pelo monitoramento e operação do robô na Antártica será coordenada pelo professor Ramon Costa, do Programa de Engenharia Elétrica da COPPE, e conta com mais dois integrantes: os alunos de Mestrado e Doutorado Rodrigo Fonseca e Alessandro Jacoud.
Para concluir a missão, os pesquisadores farão duas viagens durante o próximo verão austral ao continente gelado – a primeira será em novembro deste ano e a outra em março de 2008. O cronograma apertado, os detalhes da infra-estrutura e clima locais são os principais desafios que terão pela frente. “Além dos possíveis problemas com os equipamentos, vamos ter que enfrentar o frio e a neve, que podem atrapalhar bastante”, afirmou Rodrigo, aluno de Mestrado da COPPE e um dos três brasileiros que acompanharão o robô.
Luma: tecnologia nacional desenvolvida com poucos recursos
“A idéia é de que o robô da COPPE alcance a maior profundidade possível para fazer a coleta de organismos em ambientes extremos. Pretendemos analisar a diversidade da vida marinha tanto a coluna d’água quanto nos fundos marinhos, caracterizando-os o mais amplamente o ambiente daquela área. Por isso, o Luma é um dos integrantes essencias dessa missão. O material coletado, que fará parte de um guia de organismos existentes na baía, será um importante legado para a pesquisa e futuras gerações”, ressalta a professora Lúcia de Siqueira Campos, do Instituto de Biologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que é coordenadora geral do projeto MABIREH – Vida Marinha Antártica: Biodiversidade em Relação à Heterogeneidade Ambiental na Baía do Almirantado, Ilha Rei George, e áreas adjacentes.
Desenvolvido com recursos dez vezes menores que o estimado por pesquisadores estrangeiros, o Luma é a prova de que é possível transpor obstáculos com criatividade e competência. “Tivemos que ser criativos e trabalhar somente com a certeza de que daria certo. Fizemos um trabalho simples e ortodoxo, pois não havia espaço para erros e desperdício de verba. A tecnologia do Luma é 100% nacional, o que destaca o desenvolvimento do país na área da robótica”, afirmou o professor Ramon Costa.
“Com projetos como o Luma mostramos que o Brasil compete de igual para igual com qualquer um. É fascinante ver que todo o projeto foi construído aqui, pela equipe da COPPE.”, ressalta o doutorando Alessandro, que está ansioso para embarcar no novo desafio. As tecnologias desenvolvidas pelo grupo para a adaptação do robô às águas da Antártica foram determinantes para o sucesso do equipamento nos testes já realizados no tanque oceânico da COPPE.
Inicialmente, o equipamento foi projetado apenas para operar em profundidade reduzida, de cerca de 40 metros, sendo necessária uma série de adaptações para que atingisse os 500 metros de limite da Baía do Almirantado. O atual sistema de flutuação, por exemplo, é composto por garrafas PET, que apesar da eficiência não suportaria as condições extremas de pressão que serão enfrentadas em grandes profundidades. “Estamos desenvolvendo outro sistema que suporte altas pressões e que seja leve e eficaz como o das garrafas PET”, afirmou o professor Ramon. Além da troca dos flutuadores, o equipamento precisa de mudanças estruturais, cabos e câmeras para apresentarem melhores resultados no mapeamento do fundo da Baía.
Mudanças climáticas: os impactos sobre a margem continental brasileira
tentos aos desdobramentos das mudanças climáticas ocorridos nesta região, os especialistas pretendem avaliar seus impactos sobre a margem continental brasileira, por onde circulam massas d’água provenientes da Antártica. O objetivo é verificar como processos que ocorrem na Antártica podem influenciar a riqueza, diversidade e distribuição de recursos vivos presentes na margem continental brasileira.
“Uma coisa que poucas pessoas se dão conta é de que a região da Península Antártica está mais próxima das regiões Sul e Sudeste do Brasil que a própria Amazônia. Muitas friagens que recebemos nessas regiões, inclusive no Rio, por exemplo, provêm da Antártica”, lembra Lucia, que estará na baía do Almirantado em janeiro e fevereiro de 2008.
“Pretendemos mapear a diversidade da vida marinha e investigar a conexão biológica da Região Antártica com a da América do Sul, especialmente com a margem continental brasileira profunda. Longo prazo, vamos correlacionar e sinalizar de que forma essas massas frias e ricas em nutrientes influenciam a produtividade marinha que se encontra no fundo da margem brasileira”, explicou.
Ano Polar Internacional – mais de 63 países participam do evento
O continente gelado, que funciona como um refrigedor da Terra, concentra cerca de 80% da água congelada do mundo. “A Antártica não é uma área tão isolada quanto se acreditava. Há uma forte influência desta região no sistema terrestre como um todo, tanto em relação a processos atmosféricos quanto a formação de massas d’água que circulam no Planeta.”, adverte a pesquisadora.
O Ano Polar Internacional é uma iniciativa da Organização Meteorológica Mundial que contará com a participação de 63 países. Dos 227 projetos que serão realizados até 2011, o Brasil comandará 28 estudos na Antártica e no Ártico. “Nossa equipe foi convidada e mostramos que o Luma poderia, com algumas adaptações, realizar o trabalho. Após três anos de conversas e reuniões chegamos a um acordo e entramos de vez no programa”, afirmou o professor Liu Hsu, vice-coordenador do projeto.
O projeto brasileiro engloba 12 subprojetos de diferentes instituições nacionais e está integrado internacionalmente a dois projetos voltados para a área de ciência da vida marinha, estabelecidos no escopo do Comitê Internacional de Pesquisa Antártica: Antarctic Marine Biodiversity Information System (SCARMarBIN) e o Census of Antarctic Marine Life (CAML).