Tese revela as carências no atendimento a pacientes com câncer
Planeta COPPE / Engenharia Biomédica / Notícias
Data: 13/08/2007
Os gestores de saúde do estado de São Paulo precisam realocar a infra-estrutura disponível para garantir um atendimento eficiente aos pacientes que sofrem de câncer e buscam assistência no Sistema Único de Saúde (SUS). Esta é uma das conclusões da tese de doutorado de autoria do engenheiro biomédico Saint Clair Gomes Júnior, defendida na COPPE, que foi vencedora do Prêmio de Incentivo em Ciência e Tecnologia para o SUS 2006. O pesquisador desenvolveu um sistema computacional que permitiu avaliar a infra-estrutura de 52 Centros de Alta Complexidade em Oncologia (Cacon).
Os resultados confirmaram em números o que os usuários do Sistema enfrentam diariamente na prática: A infra-estrutura hospitalar estadual é insuficiente ou precisa ser remanejada para atender a real demanda. Segundo o pesquisador, que trabalhou com os dados obtidos em 2002, para garantir a assistência integral aos casos de câncer diagnosticados, os hospitais precisariam dispor de 2.653 leitos cirúrgicos, mas contavam apenas com 673. O estudo revelou também que para o atendimento aos pacientes diagnosticados seriam necessárias 147 salas de cirurgia e 297 poltronas de quimioterapia.
Além de detectar as necessidades, o sistema identificou disparidades entre infra-estrutura e demanda. Enquanto faltavam leitos, sobravam equipamentos de terapia da radiação profunda: para uma demanda de 102, os hospitais dispunham de 206. “O sistema mostrou ser uma importante ferramenta para avaliação e apoio à implantação de uma gestão integrada, que possa adequar a oferta de infra-estrutura hospitalar à demanda de pacientes”, ressalta a orientadora da tese, Rosimary Terezinha de Almeida, professora do Programa de Engenharia Biomédica da COPPE.
A tese, intitulada Modelo de Simulação da Infra-estrutura Necessária à Assistência Oncológica no Sistema Único de Saúde, teve como objetivo dimensionar a infra-estrutura necessária para o tratamento de pacientes de câncer, sugerindo propostas para melhorar a gestão dos recursos destinados a assistencia oncológica no SUS. Segundo Saint Clair o estudo aponta para a necessidade de revisão dos atuais parâmetros usados para dimensionar a assistencia oncológica no SUS, bem como a infra-estrutura e os tetos orçamentários deste órgão, como a ampliação das unidades hospitalares.
São Paulo: único com dados recentes e disponíveis sobre o atendimento a pacientes de câncer
De acordo com dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA), estimava-se para o ano de 2002, 117, 5 mil novos casos de câncer no estado de São Paulo, dos quais pelo menos 43% poderiam ter sidos atendidos pelo SUS. Com a ajuda do sistema desenvolvido por Saint Clair, foi possível identificar os tratamentos indicados para os 50,6 mil pacientes atendidos: 52,5% foram para cirurgia oncológica, 42,7% para radioterapia e 48,5% para quimioterapia. Para realizar o estudo, o pesquisador utilizou dados fornecidos pelo Registro Hospitalar de Câncer da Fundação Oncocentro de São Paulo (FOSP), SUS e INCA.
O estado de São Paulo foi escolhido pelo pesquisador por ser o único no País a disponibilizar dados mais atualizados de acompanhamento do tratamento de câncer. No Rio de Janeiro, por exemplo, os dados mais recentes são de 1993. “É preciso fazer modificações estruturais no sistema para que todos os casos de câncer que chegam ao SUS recebam assistência satisfatória. O modelo desenvolvido é uma ferramenta de manipulação de fácil utilização que pode ser aplicado em qualquer região do Brasil. Mas para isso, é necessário que os dados estejam disponíveis”, afirma o pesquisador.