Qualificando os profissionais da Sociedade do Conhecimento
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Data: 27/02/2007
O Centro de Referência em Inteligência Empresarial (Crie) da COPPE está completando nove anos. Fruto de uma experiência inovadora, o Crie tornou-se referência no País na produção e aplicação de novos conceitos em gestão do conhecimento e tecnologia da informação. O Planeta COPPE saiu em campo para conferir os desdobramentos desta iniciativa pioneira. Entrevistou ex – alunos e profissionais que passaram pelo Centro e constatou que o Crie já influenciou muita gente e suas idéias vêm sendo disseminadas por esse mundo a fora.
O economista Rochester Gomes da Costa, um dos veteranos do grupo que participou da implantação do Crie, tornou-se analista da área de pequenas empresas inovadoras da Finep. Mestre em Engenharia de Produção pela COPPE, Rochester diz que a experiência no Centro e as oportunidades oferecidas foram fundamentais para sua qualificação profissional e escolha da trajetória que resolveu seguir. Seu trabalho não poderia ser mais sintonizado com a proposta do Crie: Rochester avalia os projetos de empreendedores que buscam financiamento para colocar em prática idéias inovadoras. “Tenho saudades daquele tempo. Foi um período muito rico na minha vida. Aprendi muito”, ressalta o ex-aluno que participou de vários projetos que levam o selo do Centro e hoje aplica o conhecimento adquirido na principal financiadora de estudos e projetos do país.
O Crie funciona como um laboratório para os alunos que cursam na COPPE o Mestrado e o Doutorado em Engenharia de Produção ou ingressam na pós-graduação lato sensu voltada para executivos, o Master on Business and Knowledge Management (MBKM). Neste laboratório, eles participam de projetos de consultoria para empresas, órgãos de governo, entidades não – governamentais, tendo a oportunidade de testar, na prática, novas concepções de gestão. É também crescente o número de empresários e executivos que buscam o Crie interessados em tornar suas organizações mais adequadas às necessidades da nova sociedade, batizada pelos especialistas de Sociedade do Conhecimento.
Segundo o professor Marcos Cavalcanti, coordenador do Centro, a principal função do Crie é contribuir para a inserção competitiva do Brasil nesta nova sociedade. “Não há dúvida de que, hoje, o fator mais importante na produção de riquezas é o conhecimento. Por isso, formamos alunos aptos a lidarem com as demandas dessa sociedade que está nos obrigando a buscar novas formas de responder a uma transformação radical de conceitos e valores”, afirma.
A teoria na prática: Negócios de sucesso criados durante o curso
Inaugurado em 1999, o MBKM já formou mais de 450 alunos. Muitas idéias desenvolvidas nos trabalhos de conclusão de curso transformaram – se em negócios que vendem produtos intangíveis. A editora E-Papers é um exemplo de negócio que nasceu durante o MBKM. A empresa edita e vende livros pela internet que podem ser disponibilizados como e-books ou em versão impressa. As publicações têm preços bem mais acessíveis do que aquelas editadas de forma convencional. É o que se pode chamar de um negócio típico da nova sociedade: tem como base uma ferramenta ágil e democratiza o acesso ao conhecimento, tanto pelo meio como pelo preço.
A proprietária da E-Papers, Ana Cláudia Ribeiro, foi aluna da primeira turma do curso de pós-graduação da COPPE. No final de 1999 abriu sua empresa, que conta com mais de 300 títulos. “Eu já tinha pensado em abrir uma empresa antes de cursar o MBKM, mas durante o curso montei um plano de negócios e aprendi a estabelecer regras para tornar a idéia realidade. Desenvolvi o projeto da E-Papers no meu trabalho de conclusão de curso e, logo depois, participei do edital de seleção da Incubadora de Empresas da COPPE. A proposta foi selecionada e a empresa ficou incubada dois anos” – conta Ana Cláudia.
Em 2002, a E-Papers, tornou-se autônoma e desde então não parou de crescer. Hoje, ostenta uma carteira com mais de oito mil clientes cadastrados, de pessoas físicas a grandes empresas. A E-Papers também edita a revista “Inteligência Empresarial”, um produto do Crie coordenado pelo professor Cavalcanti, que aborda temas específicos de Tecnologia da Informação e Gestão do Conhecimento, com tiragem impressa de mil exemplares.
Assim como Ana Cláudia Ribeiro, o ex-aluno da COPPE, Jorge Alberto Reis, também foi um dos autores de um projeto que se tornou caso de sucesso: o Ingresso.com, responsável pela venda de 70% dos ingressos de cinema em todo o Brasil. O negócio, que ainda tem como sócio o aluno de doutorado do Prof Cavalcanti, fez tanto sucesso que foi vendida em 2005 para a empresa Submarino, a maior empresa de comércio eletrônico do Brasil. Segundo Cavalcanti, o bom desempenho da Ingresso.com e da E-Papers confirma a tese de que a “sorte” nos negócios é fruto de trabalho e capacitação, não acontece por acaso.
As chamadas empresas “pontocom”, aquelas cujas relações principais acontecem na internet, surgiram em grande quantidade com a popularização da rede mundial de computadores. Muitas destas empresas, no entanto, foram à falência pouco tempo depois de seu surgimento. “As que sobreviveram, a exemplo da E-Papers e da Ingresso.com, foram criadas por pessoas que conheciam as características da economia do conhecimento e planejaram muito antes de agir: buscaram informações sobre o setor onde pretendiam atuar, identificaram as demandas não atendidas e tecnologias adequadas, além de terem desenvolvido processos de negócio alinhados com a nova economia”. Para reforçar sua tese, Cavalcanti cita uma frase atribuída a Tomas Edison, um grande empreendedor inovador, que costumava dizer que a fórmula do sucesso é 1% de inspiração e 99% de transpiração. “Os exemplos da Ingresso.com e da E-Papers mostram um caminho para o Brasil: criar um ambiente adequado, que estimule nossos jovens a realizar os 99% de transpiração de maneira produtiva, usando seus conhecimentos”, aconselha o professor.
Governos terão papel mais articulador e menos executivo na nova sociedade
Muitos profissionais que passaram pelo Centro encontram – se hoje replicando idéias e conceitos em empresas públicas, privadas e em órgãos de governo. Eles estão tendo a oportunidade de colocar em prática aquilo que aprenderam e as organizações, por sua vez, estão tendo a oportunidade de se adequarem às novas demandas. Segundo Cavalcanti, o processo de transição para a nova sociedade implicará em muitas mudanças, que vão do aumento da importância de ferramentas técnicas a transformações no papel das pessoas, das empresas e do próprio governo. Na opinião do professor, os governos passarão a ter um novo papel menos executivo e mais articulador.
“As ferramentas técnicas, como computadores, são fundamentais para a inserção competitiva na sociedade do conhecimento, mas simplesmente provê-las não basta. A simples distribuição de computadores, por exemplo, seria tão absurda quanto dar livros a analfabetos antes de ensiná-los a ler. É preciso valorizar o conhecimento tácito, aquele que não pode ser quantificado, diferente da informação processada por computadores. Se o Brasil apenas produzir bens, seja café, soja ou celulares, não será capaz de avançar nesta nova sociedade. O foco precisa estar na educação e no conhecimento”, ressalta.