COPPE participa de encontro internacional em Manaus sobre impactos socioambientais da indústria do petróleo
Planeta COPPE / Engenharia Civil / Notícias
Data: 19/12/2005
Professores, pesquisadores e técnicos da COPPE / UFRJ participaram em Manaus do 1º Congresso Internacional Piatam (Potenciais Impactos e Riscos Ambientais da Indústria do Petróleo e Gás na Amazônia) promovido pela Petrobras de 11 a 15 de dezembro. Com mais de mil participantes e cerca de 250 trabalhos acadêmicos inscritos, o encontro apresentou os avanços científicos e tecnológicos para compreender os complexos ecossistemas da região e deu especial ênfase na discussão sobre a inclusão social da população local.
Parceira da Petrobras desde a concepção do Projeto Piatam, em 1999, junto com a Universidade Federal do Amazonas e o INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), a COPPE constitui uma das espinhas dorsais deste programa com suas modelagens ambientais, feitas a partir de avançadas técnicas computacionais. Elas permitem analisar a dinâmica das águas e dos territórios onde são processados e por onde são transportados o gás e o óleo extraídos em Urucu, maior província petrolífera terrestre brasileira, a 700 quilômetros de Manaus.
Ao construir cenários no computador a partir dos dados reais coletados no âmbito do Projeto Piatam, a COPPE ajuda a monitorar as atividades de produção e transporte e contribui para que a indústria petrolífera elabore planos de contingência para casos de acidentes.
A revolução digital e modernos equipamentos como computadores, satélites, sensores e radares fornecem dados indispensáveis para que o mundo virtual renda serviços inestimáveis ao real. Integrantes da equipe do professor Luiz Landau, da COPPE, Luiz Paulo de Freitas Assad e Nicole Mehdi apresentaram em Manaus a modelagem hidrodinâmica e de dispersão de óleo na plataforma continental amazônica e região oceânica adjacente.
Assad e Mehdi transpuseram para o computador os resultados de estudos de processos do oceano e da atmosfera, bem como a modelagem de fluidos geofísicos variados. Mostraram como a variação da descarga fluvial – de 220 milhões de m3 por segundo no pico, em maio, a 100 milhões de m3/seg, em novembro – são fatores importantes para determinar o que aconteceria com o óleo no caso de um acidente e como agir para prevenir danos ambientais e sociais.
Mapas de sensibilidade a derrames de óleo
O estudo da vulnerabilidade à erosão no trecho Coari-Manaus apresentado por Cláudio Barbosa, da UFAM., Gabriel Silva, da Universidade do Norte Fluminense, historiou a evolução dos mapas de sensibilidade a derrames de óleo da Petrobras. Renato Martins mostrou cenários de derrame de óleo na refinaria Isaac Sabbá, de Manaus, que serviram para a elaboração do plano de contingência da refinaria.
Combinando ferramentas de batimetria sonar com imagens de satélite, o pesquisador inglês Bruce Forsberg, da Universidade de Bristol, atualmente no INPA de Manaus, mapeou a morfologia de parte dos leitos dos rios Purus e Solimões, bem como de ilhas e áreas de confluência. As modelagens derivadas dessas medições ajudam a prever as dimensões espaciais e temporais de áreas alagadas. É importante lembrar que, todos os anos, 17% do território da Amazônia Central são inundados. É um pulsar ainda relativamente pouco estudado, com conseqüências para a vida em todos os aspectos.
Outro pesquisador britânico, Matthew Wilson, da Universidade de Exeter, debruçou-se sobre a modelagem hidráulica de áreas alagadas e sobre o estudo da vegetação que permanece alagada durante boa parte do ano. Usando imagens de radar da nave Endeavour com os resultados de uma missão de campo em 2005 financiada pela NASA e pela Royal Society, os cientistas construíram modelos para estudar a dinâmica das áreas inundadas.
O trabalho foi árduo. Em determinados trechos, foi preciso aproximar-se das árvores e corrigir os dados imprecisos do satélite com a medição feita manualmente, determinando-se a parte do tronco submersa e a parte que fica fora d´água com ajuda de câmeras digitais especialmente calibradas.
Em um estudo de caso da costa do Nordeste que servirá de modelo para o Piatam Oceano, novo programa a ser iniciado em 2006, a pesquisadora Marilyn Seagal, da Universidade de Utah relatou dificuldades que podem afetar a extração de petróleo em plataforma marítima, como ventos extremos, ondas, correntes, variáveis sismológicas. Contou que adversidades meteorológicas causaram a perda de 80% de um investimento de 630 milhões de dólares em uma missão científica de estudo das várias fases da produção de óleo.
Piatam: cientistas se inspiram na natureza para desenvolver técnicas de proteção à Amazônia
Sensor biológico, uma espécie de peixe elétrico típica da Amazônia dá o primeiro sinal em caso de derramamento de petróleo. A análise da composição mineral em grãos de pólen pode auxiliar na avaliação de impactos em ecossistemas sensíveis, como manguezais. Estes são apenas dois dos inúmeros exemplos de trabalhos científicos que vêm sendo desenvolvidos no âmbito do Programa Piatam. Em cinco anos, o Piatam cresceu e envolve hoje mais de 300 pessoas de instituições de ensino e pesquisa do Amazonas como a Universidade Federal do Amazonas (UFAM), o Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (INPA) e a Fundação Centro de Analises, Pesquisa e Inovação Tecnológica (Fucapi), além do Centro de Pesquisas da Petrobras (Cenpes) e da COPPE.
Entre suas ramificações estão o Piatam Mar, que estuda a área costeira da região amazônica, o Piatam Oceano, que a partir de 2006 focará as águas de 20 metros a 3 mil 500 m de profundidade do Oiapoque à Foz do Parnaíba, e o Cognitus, que usa novas formas de compreensão do mundo amazônico usando as lentes da Semiótica, da Filosofia, da Teoria do Caos ou das Artes Plásticas e propondo aplicações práticas da robótica e da nanotecnologia.
Em tupi, a palavra “pyatã” significa “aquele que é bravo, forte, guerreiro, rijo e vigoroso”. No caso do Piatam, o vigor se alicerça no conhecimento das instituições científicas brasileiras e no apoio financeiro da Petrobras e da Finep.
O gasoduto Manaus-Coari é um investimento de 500 milhões de dólares da Petrobras para transportar 10 bilhões de m3 ao dia através de tubulação de 20 polegadas ao longo de 383 quilometros em plena selva amazônica. Segundo Ronaldo Mannarino, coordenador de gás e energia da Petrobras, o início do funcionamento está previsto para o final de 2006.
Mannarino, que acabou de comandar sete audiências públicas bem-sucedidas para explicar à sociedade civil os objetivos do projeto, enfatizou o foco do Projeto Piatam em inclusão social, geração de emprego e renda para as populações locais nas nove comunidades abarcadas pelo gasoduto, e proteção ambiental. Os projetos de cidadania incluem serviços tão diversos quanto assistência odontológico, emissão de documentos e regularização fundiária.
Depois de uma primeira fase de montagem de bancos de dados colhidos em excursões periódicas em barcos, em quatro diferentes estações hidrológicas do Rio Solimões (entre Coari, onde se localiza o Terminal do Solimões e Manaus, onde fica a refinaria Isaac Sabbá), o Piatam entrou firme na fase de aplicações práticas, afirma Alexandre Rivas, coordenador do programa pela UFAM. Segundo Rivas, a parceria academia-empresa, que envolve centros de excelência e inteligência, como a COPPE / UFRJ é única no Brasil.
Cinco robôs ajudam na coleta de dados sobre a região, facilitando a tomada de decisões e a análise de dados. Eles fazem parte do Projeto Cognitus. Segundo Fernando Pellón de Miranda, geólogo do Cenpes/Petrobras e um dos idealizadores do Piatam, um dos principais desafios é o estudo da variação do ciclo hidrológico dos rios Negro e Solimões, que chegam a subir 14 metros entre os períodos de seca e cheia. Este estudo permite elaborar mapas de sensibilidade nas regiões potencialmente expostas a derramamentos Segundo Pellón, o Piatam mostra que é possível explorar e produzir petróleo respeitando o meio ambiente.