A crise do setor aéreo
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Data: 17/08/2007
O número de passageiros nos aeroportos brasileiros cresceu 59% nos últimos oito anos, resultando, em média, num aumento anual de 6%. O movimento de passageiros nos aeroportos administrados pela Infraero saltou de 64 milhões para aproximadamente 102 milhões. No entanto, neste mesmo período, o movimento em aeroportos sofreu uma redução de 6%. Para o professor do Programa de Produção da COPPE, Elton Fernandes, o caos aéreo instalado nos aeroportos brasileiros é fruto da falta de regulação e não somente do conflito entre oferta e demanda. As empresas que dominam o mercado doméstico passaram a usar aviões de grande porte e otimizaram a lotação das aeronaves, muitas vezes obrigando os passageiros a fazer escalas sem relação alguma com sua intenção de destino. “As escalas, concentradas nos aeroportos de Brasília e de Congonhas, resultaram em grande número de passageiros em trânsito, o que gerou um verdadeiro caos, principalmente no aeroporto de Congonhas, que chegou a ter um movimento de 18 milhões de passageiros no ano de 2006. No final, a sociedade é que está pagando por isso”, concluiu o professor Elton Fernandes durante apresentação de estudo no seminário sobre a crise do setor aéreo realizado dia 9 de agosto na COPPE.
O seminário, coordenado pelo diretor da COPPE, Luiz Pinguelli Rosa, contou com a presença do presidente da Associação dos Pilotos da VARIG, Elnio Borges Malheiros; do professor da École National de l’Aviation Civil da França, Felix Mora Camino; do presidente da Sociedade Brasileira de Transporte Aéreo e professor do ITA, Anderson Ribeiro Correia; do professor do Programa de Engenharia de Produção da COPPE, Elton Fernandes, do professor colaborador da COPPE, Respício Espírito Santo e do economista e consultor Paulo Rabello de Castro.
Dificuldade de acesso a informações sobre o setor inibe pesquisas e novas propostas
No debate, Fernandes também alertou para a falta de investimentos orientados pelo novo cenário da aviação civil nos últimos anos e chamou atenção para a falta de pesquisas na área. Segundo o professor, no Brasil o acesso aos dados referentes à aviação civil é restrito, o que dificulta a realização de pesquisas que possibilitariam à comunidade científica realizar análises e propor sugestões para os problemas. “Curiosamente, num setor em que há muitos dados, não existe análise publicada sobre incidentes aéreos e seus desdobramentos.”, afirma Fernandes.
Outro custo debitado na conta da sociedade tem sido o preço das passagens aéreas. Para o economista e consultor, Paulo Rabello de Castro, a sensação de que os preços baixaram é falsa. “Se levarmos em conta os atrasos e cancelamentos de vôos e a falta de segurança, vemos que o usuário está pagando um alto preço pelo serviço”, afirma. Levantamentos preliminares realizados pelo economista estimam um aumento de 50 a 60% nas passagens, considerados esses transtornos enfrentados. Os órgãos reguladores do setor também foram alvos de crítica. Para Fernandes, criou-se uma confusão entre as atribuições dos órgãos que atuam no segmento. “ANAC, CONAC, Infraero não se entendem. Falta articulação entre eles”, criticou. A favor da desregulamentação do setor, o professor da Escola de Engenharia e colaborador da COPPE, Respício Espírito Santo, defende a liberdade aliada à fiscalização. “Cada órgão deve ter o seu papel bem definido, as empresas aéreas devem ter liberdade para operar, mas deve haver maior rigor nos aspectos de segurança”.
Enquanto isso o País assiste o esvaziamento do setor. O presidente da Associação de Pilotos da VARIG, Elnio Borges Malheiros, alertou para os problemas que podem surgir, caso o país não consiga operar segundo padrões internacionais de segurança. “Sofremos auditorias constantes. Caso na próxima avaliação o Brasil não consiga se manter no Grupo 1 da aviação internacional, ficará impossibilitado de operar em determinados destinos internacionais, principalmente europeus e americanos. Com isso nossa indústria aeronáutica perderia o direito de certificação própria”, adverte.
Segundo Malheiros, para uma efetiva prevenção de acidentes é necessário estabelecer uma técnica de investigação. “Considerada o estopim do caos aéreo, a ausência da Varig na malha aeroviária levou à concentração de demanda por parte da Gol e da TAM. Isso vem intensificando o uso das aeronaves e a sobrecarga dos equipamentos de operação e da tripulação”, afirma. Para o professor Respício, o país deve buscar conhecer experiências similares ocorridas no passado. “Para evitar futuros problemas e resolver os atuais, é preciso aprender com os acertos e, principalmente, com os erros já cometidos aqui e no exterior”.
Entre o público presente, o professor do Programa de Engenharia de Transportes da COPPE, Ronaldo Balassiano, apontou para a necessidade de um plano de ação mais abrangente. “O que falta ao país é uma política de transportes. A solução dos problemas do setor aéreo passa por uma política nacional, por um planejamento do setor de transportes como um todo”, afirma.