Aula inaugural do PEQ homenageia fundador da Coppe

Planeta COPPE / Engenharia Química / Notícias

Data: 27/03/2013

Em sua aula inaugural de 2013, ano em que completa 50 anos de atividade, o Programa de Engenharia Química da Coppe fez uma volta no tempo e prestou uma justa homenagem ao professor Alberto Luiz Coimbra e aos docentes pioneiros do PEQ. O evento, realizado dia 18 de março, proporcionou aos alunos que lotaram o auditório do Bloco G a oportunidade de conhecer a história do programa contada por seus protagonistas. Assista aqui à cobertura do evento.

“O Programa de Engenharia Química foi a alma mater da Coppe. É uma espécie de medida padrão, que calibra os outros programas”, destacou o diretor da Coppe, Luiz Pinguelli Rosa, ao participar da sessão de abertura da aula, ao lado da pró-reitora de Pós-Graduação e Pesquisa da UFRJ, Débora Foguel; do decano do Centro de Tecnologia (CT), Walter Suemitsu; do representante da Finep, Rodrigo Fonseca; dos representantes do BNDES, Raul da Silva Andrade (ex-aluno da Coppe e bolsista do então BNDE), e Gaspar Jacomini; e do coordenador do PEQ, professor Paulo Lage.

Ex-aluno, hoje no BNDES, Raul Andrade pretigiou a aula inaugural

Após a sessão de abertura, dois pioneiros da Coppe – os professores Carlos Augusto Perlingeiro, já docente do PEQ em 1963, depois seu coordenador, e Saul D’Ávila, primeiro doutor formado no programa – foram convidados a sentar ao lado de Coimbra para compor o painel ”O PEQ da concepção à maturidade“, moderado pelo professor Cláudio Habert, que começou ressaltando o caráter duplo da comemoração.

“Por um lado, queremos reconhecer as contribuições dos que construíram o PEQ e preservar a sua memória, e de outro, aproveitar o momento e as experiências acumuladas para refletir sobre o seu futuro e o da Coppe”, disse o professor Habert.

Idealismo que resiste ao tempo

Fundador da Coppe, Coimbra disse que faria tudo de novo

Aplaudido de pé por professores e alunos ao entrar no auditório, Alberto Luiz Coimbra falou sobre os primeiros tempos da Coppe, lembrando que a instituição foi criada para formar professores, e engenheiros criativos para a indústria brasileira. Ele também se declarou preocupado com a situação do ensino no Brasil.

“O governo deveria fazer hoje no ensino básico o mesmo que fez no passado na pós-graduação, investindo em professores com dedicação exclusiva e tempo integral. O maior apoio que o governo pode dar à pós-graduação no Brasil é melhorar o ensino básico”, disse o fundador da Coppe.

Sobre o passado, Coimbra lembrou como convencia os alunos a cursar o mestrado na Coppe: “Eu lhes falava sobre a importância do projeto para o desenvolvimento do país, convencia-os com amor, dizia a eles que a pós-graduação era importante para o progresso do Brasil”, disse ele. “Criar a pós-graduação era uma necessidade. Uma questão de soberania. O desenvolvimento da ciência e da tecnologia era uma questão de independência para o país.”

Carlos Augusto Perlingeiro e Saul D’Ávila também falaram sobre os primeiros tempos da Coppe e do PEQ. Perlingeiro lembrou com saudade dos preparativos que antecederam a criação da Coppe. Para trabalhar no instituto, ele teve de tomar uma decisão difícil para um jovem engenheiro no começo da década de 1960. Abriu mão de um emprego promissor na Petrobras para, a convite do professor Coimbra, abraçar o projeto de fazer mestrado.

“O trabalho feito na Coppe serviu de inspiração para os órgãos governamentais estruturarem a pós-graduação no Brasil nas décadas seguintes”, disse o professor Saul D’Ávila, que passou dez anos na nova instituição e foi para a Unicamp em 1976. Seguiu o caminho trilhado por outros graduados da Coppe que implantaram programas de pós-graduação em universidades de outros estados.

Habert, Saul, Coimbra e Perlingeiro: encontro de pioneiros

Mas, a ousadia e as mudanças propostas pelo novo modelo, como a dedicação exclusiva e o maior rigor acadêmico, geraram, na década de 1960, uma certa rejeição entre antigos professores da Universidade. “O grupo de Coimbra era visto, por alguns docentes, como um bando de teóricos”, recorda Carlos Perlingeiro, referindo-se à ala dos descontentes com as transformações.

Anos mais tarde, durante o regime militar, na década de 1970, esta rejeição aliada a intolerâncias de alguns setores do proprio governo levou a Coppe a enfrentar uma intervenção. O professor Coimbra chegou a ser afastado, so sendo permitido a sua volta à UFRJ alguns anos depois. Nesse período, os que ficaram tiveram que se empenhar para preservar a instituicao e mante-la fiel aos seus princípios.

Se valeu a pena enfrentar todas as dificuldades? O próprio Coimbra responde.

“O que mais valeu a pena é poder ver a Coppe com o sucesso que tem hoje. Só não vai valer a pena, se o governo não ajudar a manter o que ajudou a criar”, afirma Coimbra, dizendo que, se fosse preciso, faria tudo de novo. “Faria um pouco diferente, devido à experiência, mas faria tudo de novo”, conta o professor, hoje com 90 anos.

A criação da sigla Coppe também foi recordada. Segundo o professor Perlingeiro, ao levarem à gráfica o material para impressão do primeiro catálogo da Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia da UFRJ, o dono da gráfica disse que a instituição precisava de uma sigla e ele próprio sugeriu que fosse Coppe. Em homenagem ao seu fundador, a instituição teve o nome mudado, em meados da década passada, para Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia.

Em meio às histórias, alguns nomes foram lembrados por sua contribuição à Coppe e ao PEQ. Um desses nomes foi o de José Pelúcio Ferreira, criador do Fundo de Tecnologia (Funtec), responsável pelo financiamento da pós-graduação no Brasil, na década de 1970, quando atuava no então Banco Nacional de Desenvolvimento, atual BNDES. Outro nome muito lembrado foi o do professor Giulio Massarani, um dos fundadores da Coppe, ex-professor do PEQ e cuja carreira se confunde com o crescimento do Programa de Engenharia Química e com o fortalecimento da Coppe.

Desafios: inovar e formar pesquisadores de alto nível

Paulo Lage apresentou panorama atual do Programa

Após o painel em homenagem aos 50 anos da Coppe, foi realizado um outro, com o tema “O PEQ de hoje e o PEQ de amanhã”. Nele, o professor Paulo Lage apresentou um panorama atual do programa e lançou questões que foram discutidas por alunos e professores de diferentes gerações em um animado debate. Foram abordados temas como a lacuna existente entre a ação da universidade e as demandas tecnológicas da sociedade no campo da inovação e o desafio de formar pesquisadores de alta competência diante de um cenário de formação deficitária nos níveis de ensino fundamental e médio

A questão do compromisso com a inovação foi destacada pelo aluno de doutorado do PEQ, Cauê Torres de Oliveira Guedes Costa. “É importante formar doutores para as empresas, para a sociedade, e não apenas para a academia”, afirmou Cauê, que é representante dos alunos no Conselho Deliberativo da Coppe.

Coimbra recebeu a camisa ao som do hino do Botafogo

Ao final, professores atuais do PEQ homenagearam com placas seus antigos mestres e foi prestada uma homenagem especial ao professor Coimbra. Ao som do hino do Botafogo, seu time de coração, o fundador da Coppe recebeu, das mãos do professor Martin Schimal, duas camisas do time alvinegro com o nome de Coimbra nas costas. Uma delas tinha o número 7, eternizado por Garrincha. A outra, com o número 10, tinha a inscrição “PEQ 50 anos”.

Por fim, o professor do PEQ, José Carlos Pinto, em sua participação no debate, deixou uma mensagem aos alunos. “Refundem a Coppe todos os dias. Não tenham medo de reinventar e de experimentar. Vivam. Façam o diferente. Vocês são a locomotiva da Coppe”.

Professores homenageados

Carlos Augusto Guimarães Perlingeiro (Evaristo Biscaia*); Carlos Russo (Márcia Dezotti); Enrique Luis Lima (Argimiro Secchi); José Luiz Fontes Monteiro (Vera Salim); José Vladimir de Oliveira (Ângela Uller); Krishnaswamy Rajagopal (Frederico Tavares); Lidia Chaloub Dieguez (Victor Teixeira); Maury Saddy (Helen Ferraz); Ronaldo Nóbrega (Cristiano Borges); Rubens Sampaio Filho (José Carlos Pinto) e Saul Gonçalves D´Avila (Tito Lívio Alves).

Os professores Afonso Telles, Antonio Santos Vargas, Geraldo Lippel Sant´Anna Jr. e Magali Cotrim não puderam comparecer e receberão suas placas posteriormente.

*Os nomes entre parênteses são dos professores em atividade que entregaram as placas aos homenageados.