Brasil se despede de Pinguelli

Planeta COPPE / Notícias

Data: 04/03/2022

Mais de 100 pessoas compareceram na tarde de ontem, 3 de março, ao Átrio do Palácio Universitário da UFRJ, na Praia Vermelha, para se despedir do Professor Titular da UFRJ e ex-diretor da Coppe/UFRJ, Luiz Pinguelli Rosa. O velório contou com a presença da reitora da UFRJ, a professora Denise Pires; do diretor e ex-diretores da Coppe, os professores Romildo Toledo, Nelson Maculan, Luiz Bevilacqua e Edson Watanabe; políticos, estudantes, amigos e familiares.

Em seu discurso de despedida, o diretor da Coppe, Romildo Toledo, ressaltou a dedicação do professor Pinguelli à administração da Coppe e sua luta para trazer políticas públicas para que a Ciência e a Tecnologia avançassem no país.

“Ele foi uma pessoa especial e de grande importância para a instituição, ao longo da sua história. “Consolidou o projeto original do nosso criador, o professor Coimbra, transformando a Coppe no maior instituto de pós-graduação em Engenharia da América Latina. Além disso, tinha uma grande visão humanitária. Entendia perfeitamente a importância da ligação da universidade com a sociedade e a formulação de políticas públicas que beneficiassem a população. Espero que possamos dar continuidade ao seu trabalho. Pinguelli fará muita falta à Coppe, à UFRJ e ao Brasil”, afirmou Romildo.

A reitora da UFRJ, professora Denise Pires, lamentou a partida de Pinguelli, “defensor nato da universidade brasileira e da difusão da ciência e da tecnologia. Seu compromisso com uma universidade de qualidade que transpira pesquisa deixará uma lacuna entre nós e um aprendizado permanente. Transmitimos força aos familiares, aos amigos e à comunidade acadêmica neste momento de consternação”.

O professor Nelson Maculan, ex-Reitor da UFRJ, lembrou da longa amizade com Pinguelli e de sua defesa pela qualidade da pesquisa na universidade. “A universidade deve muito a ele”, ressaltou. Também presente ao velório, a deputada federal Jandira Feghali (PC do B-RJ), disse que Pinguelli foi uma grande referência para todos que participam da vida parlamentar. “Ele era a pessoa que a gente consultava para desenvolvermos políticas públicas. Deixou um imenso legado e muitos discípulos”.

Pinguelli consolidou o projeto original do nosso criador, o professor Coimbra, – diz Romildo Toledo

A atuação do professor em prol do desenvolvimento do país também foi destacada pelo vereador do município do Rio de Janeiro, Lindbergh Farias. “Chamávamos o Pinguelli para todos os debates nacionais. Ele nos deixa num momento de luta pela soberania nacional, para retomar a democracia no Brasil, o papel do setor energético e da Energia como estratégia. O Pinguelli continuará representando muito para todos que defendem esse outro Brasil”.

O deputado federal Marcelo Freixo (PSB-RJ) disse que “Pinguelli foi um grande amigo. Tinha um carinho e admiração pela forma que ele lidava com as pessoas. Um ser humano muito simples, capaz de lidar com o diálogo. Em todos os momentos das lutas políticas do Rio de Janeiro ele nunca teve dúvida de que lado deveria estar a Ciência e toda sua produção de conhecimento. Uma perda muito grande para a produção científica do Brasil. Queríamos muito que ele visse o Brasil melhorar, diferente do que está sendo nesse momento. Ele merecia ver essa mudança que o Brasil vai viver em 2022. A gente tem que dedicar a ele tudo que a gente conseguir transformar nesse País em 2022”.

Confira os depoimentos de mais colegas e amigos de Pinguelli presentes ao evento.

Autoridades e instituições também demonstram pesar

O falecimento do ex-diretor da Coppe/UFRJ, professor Luiz Pinguelli Rosa despertou consternação e demonstrações de luto e de admiração em todo o Brasil. Diversas instituições e personalidades públicas manifestaram o seu pesar pela partida do Professor Emérito.

O ex-presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva destacou que Pinguelli foi profundo conhecedor do sistema elétrico brasileiro, trabalhando e defendendo incansavelmente o desenvolvimento social, econômico e tecnológico do Brasil, bem como o avanço da ciência e a segurança energética do país. “Foi presidente da Eletrobrás no meu governo e diretor da Coppe/UFRJ, instituição fundamental de pesquisa do nosso Brasil, por exemplo no desenvolvimento das tecnologias que permitiram a exploração do pré-sal. Pinguelli Rosa deu imensa contribuição para a evolução e defesa do sistema energético brasileiro, que hoje está sob ataque de entregadores do país. Fará grande falta ao Brasil”, afirmou Lula.

A ex-presidente da República, Dilma Rousseff, ressaltou que o professor Pinguelli foi um homem à frente do seu tempo, “um visionário defensor da ciência e do país”. “Ele foi um nacionalista que colocou o Brasil e os interesses do povo no centro de todo o seu trabalho intelectual e científico. Eu lamento muito a sua perda. Deixo aos seus familiares e amigos o meu profundo respeito e transmito a eles e ao país minha solidariedade e o sentimento de tristeza”, declarou Dilma.

A Eletrobras, comandada pelo professor Pinguelli de janeiro de 2003 a maio de 2004, também lamentou, em comunicado oficial, o falecimento do seu ex-presidente. “Sua gestão foi marcada pela promulgação das leis que redefiniram o modelo institucional do setor elétrico, em março de 2004, reafirmando as funções da empresa como holding das concessionárias federais. Também neste período, a Eletrobras assumiu a gestão técnica e financeira do Programa Luz para Todos”.

A política é indissociável da universidade

Carioca, filho do alfaiate Avilla Rosa e de Dalva Pinguelli Rosa, costumava dizer que parte de sua formação se devia às conversas sobre política que ouvia na alfaiataria do pai, na qual colaborava diariamente após retornar do colégio. “Acho que aprendi mais na alfaiataria do que na escola”, dizia.

Para Pinguelli, “a política é indissociável da Universidade”. Democrata convicto, foi preso ao se manifestar contra o golpe militar que depôs o presidente João Goulart. Em 1986, logo após o fim do regime militar, a eleição de Pinguelli para seu primeiro mandato como diretor da Coppe foi parte do processo de redemocratização. “A primeira coisa que fizemos foi convidar os professores que haviam sido expulsos pelos militares para retornar à instituição”, lembrava.

Nos anos 1990, liderou a discussão de temas centrais, aproximando ainda mais a universidade da sociedade. Em maio de 1993, juntamente com o sociólogo Herbert de Sousa, conhecido como Betinho, contribuiu para a criação do Comitê de Entidades Públicas no Combate à Fome e pela Vida (Coep).

Foi um crítico do processo de privatização de empresas públicas. No ano 2000, como diretor da Coppe, Luiz Pinguelli Rosa, enviou carta ao presidente da República e ao ministro de Minas e Energia alertando sobre o risco de uma grave crise no setor elétrico. A previsão se confirmou em 2001, quando o governo federal teve de montar um plano de racionamento de energia elétrica que ficou conhecido como“apagão”. Parte desse capítulo ele registrou em seu livro “O Apagão: por que veio / Como sair dele?”.

Saiba mais sobre a destacada atuação institucional de Pinguelli aqui mesmo no Planeta Coppe Notícias.

A Coppe presta sua solidariedade à sua família, a seus filhos Luiz Fernando, Luiz Eduardo e Leonardo, seus netos Arthur e Helena. E também aos nossos professores, pesquisadores, alunos e servidores para os quais ele sempre fará parte do grupo dos “imprescindíveis”. Obrigada, Luiz Pinguelli Rosa. Eternamente em nossa memória.

Excelência a serviço da universidade, do país e do mundo

Mestre em Engenharia Nuclear pela Coppe/UFRJ (1969), doutor em Física pela Pontifícia Universidade Católica pela PUC-Rio (1974), no ano seguinte ingressou como docente na Coppe e no Instituto de Física da UFRJ.

Professor Titular da UFRJ, Pinguelli foi eleito cinco vezes para o cargo de diretor da Coppe (1986-1989; 1994-1997; 2002, 2007-2011; 20011-2015). Seu mandato de 2002 foi interrompido em 2003 para que assumisse a presidência da Eletrobras, na qual permaneceu até maio de 2004.

Membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e do conselho da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Luiz Pinguelli Rosa foi membro do Conselho Pugwash (1999-2001) – associação fundada por Albert Einstein e Bertrand Russel, voltada para o combate ao armamento nuclear, a qual foi agraciada com o Nobel da Paz em 1995. Foi secretário-geral da Sociedade Brasileira de Física por dois mandatos, de 1994 a 1998, e presidente da Associação Latino-Americana de Planejamento Energético, de 1994 a 1998.

Desde 1998, foi autor ou revisor de relatórios do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU, entidade que recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 2007. Desde 2004, foi secretário executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas (FBMC), órgão presidido pelo presidente da República, que reúne representantes de órgãos governamentais e entidades da sociedade civil.

Orientou mais de 100 teses de doutorado e dissertações de mestrado. É autor de sete livros e tem mais de 180 trabalhos científicos publicados, a maioria deles no exterior. É autor de Tecnociências e humanidades: novos paradigmas, velhas questões, publicado em dois volumes pela editora Paz e Terra, em 2006, e que concorreu entre os dez selecionados ao Prêmio Jabuti, na categoria Humanidades. Saiba mais sobre a fecunda produção acadêmica do professor Luiz Pinguelli Rosa.

Confira “A política é indissociável da universidade”, entrevista com Luiz Pinguelli Rosa, publicada na revista Engenharia e Inovação: a arte de antecipar o futuro, em comemoração dos 50 anos da instituição. A entrevista, na íntegra, se concentra da página 46 à 51.

Saiba mais sobre a trajetória acadêmica de Pinguelli aqui no Planeta Coppe Notícias.