Cidade Universitária ganhará ponte estaiada e Rio novo cartão postal
Planeta COPPE / Engenharia Civil / Engenharia de Transportes / Notícias
Data: 06/09/2011
A Cidade Universitária, que recebe diariamente, em média, 65 mil pessoas e 25 mil veículos, ganhará, até dezembro deste ano, uma ponte estaiada, com ligação direta à Linha Vermelha em direção ao Centro. A nova via se baseia em estudos feitos pelo professor Francisco Lopes, do Programa de Engenharia Civil da Coppe, e do arquiteto Ivan Ferreira Carmo, hoje prefeito da Cidade Universitária. Os traçados preliminares foram feitos em 2008 por membros do Comitê do Plano Diretor da UFRJ, liderados pelo professor da Coppe Carlos Antonio Levi (atual reitor da UFRJ). Sua construção foi negociada pelo governador Sérgio Cabral, após compromisso assumido em 2007 com a diretoria da Coppe e com a reitoria da UFRJ, para solucionar uma parte dos problemas de trânsito da Cidade Universitária e seu entorno.
Com acesso pela Avenida Pedro Calmon e pela Rua Moniz de Aragão, a nova ponte está sendo aguardada com grande expectativa pelas pessoas que estudam e trabalham na Ilha do Fundão. Para saciar a curiosidade daqueles que passam pelo local e gostariam de saber mais sobre a ponte, o Planeta Coppe foi direto às fontes e traz nesta reportagem mais detalhes sobre a ponte que beneficiará milhares de pessoas que diariamente sofrem com os congestionamentos formados nas saídas próximas ao Hospital Universitário Clementino Fraga Filho.
O vice-governador do estado do Rio, Luiz Fernando Pezão, destacou a importância da participação da Coppe no início do projeto durante encontro com o diretor e vice-diretor da Coppe, Luiz Pinguelli Rosa e Aquilino Senra, na primeira semana de setembro, no Palácio Guanabara.
“Além de ajudar a resolver o problema de mobilidade de toda a comunidade de estudantes e trabalhadores da Ilha do Fundão, a ponte estaiada será mais um cartão-postal na cidade devido à beleza do seu desenho. Essa obra é muito importante para o Rio e faz parte do programa de revitalização do Canal do Fundão, firmado entre o governador Sérgio Cabral e a Petrobras, que inclui, além da ponte, a dragagem de canais da região, que é a porta de entrada do Rio de quem chega ao aeroporto internacional”, diz Pezão.
Arquitetura e plasticidade
Ponte estaiada é uma ponte cujo conjunto de pistas é sustentado parcial ou totalmente por elementos estruturais flexíveis, formados por feixes de cabos de aço e fixados em uma ou mais colunas de altura elevada. Os elementos flexíveis são chamados de estais, e as colunas são conhecidas como pilones. Além das características construtivas diferentes das adotadas nas pontes que se apoiam exclusivamente em pilares fincados no solo, as pontes estaiadas geralmente se distinguem pela beleza plástica proporcionada pelo arranjo dos estais.
O projeto formal-estrutural e arquitetônico da nova ponte da Cidade Universitária foi feito pelo arquiteto Alexandre Chan. Ela terá 930 metros de comprimento e duas pistas com 4,5 metros de largura cada. A parte central da via cruzará o Canal do Fundão, que separa a Ilha do Fundão do continente, e terá 172 metros de vão livre, sem pilares, sustentado por cabos de aço distribuídos em 15 estais frontais, em formato de leque-harpa, e mais três pares traseiros. Os cabos ficarão presos a um pilone com altura total de 96 metros, já contando a sinalização de navegação aérea e um mastro de para-raios.
Homenagem aos biguás
Iniciada em abril de 2010, a construção da ponte faz parte do Programa de Recuperação e Revitalização do Canal do Fundão. Executado pela Secretaria de Ambiente do Estado do Rio de Janeiro, o Programa conta com financiamento da Petrobras. Trata-se de uma compensação à cidade do Rio de Janeiro pelo derramamento acidental de óleo ocorrido na Baía de Guanabara no fim dos anos 1990.
O visual da nova ponte é moderno, com efeitos especiais que aproveitarão o reflexo solar até o entardecer; à noite, a iluminação será feita por projetores. O arquiteto Alexandre Chan percebeu que o formato do pilone é semelhante ao movimento de um pássaro marinho ao emergir da água e lembrou-se do esforço que o biguá, ave marinha comum na região, fazia para sair da água oleosa durante o acidente na baía. Por isso, o pilone foi batizado de Biguá Renascido.
A ponte poderá ser utilizada por todos os tipos de veículos, mas, segundo o prefeito da Cidade Universitária, Ivan Ferreira Carmo, é provável que seja necessário impor restrições a veículos de baixa velocidade, como os caminhões, entre 16h e 18h30 – o horário de pico na Ilha do Fundão. Estima-se que, nessa parte do dia, cerca de mil veículos atravessarão a ponte a cada hora. Por isso, algumas operações especiais de controle de tráfego estão sendo estudadas.
“Nossa previsão”, diz Ivan, “se baseia no número de veículos que saem do campus no horário de pico e vão em direção ao Centro da cidade pela Linha Vermelha. Quando essa via estiver congestionada, teremos de adotar algumas medidas. Uma das possibilidades em estudo é impedir a entrada de automóveis particulares pela parte norte da Ilha, nas imediações do Hospital Universitário, evitando, assim, um tráfego mais intenso no interior do campus”.
Cartão postal do Rio
Na escolha da solução estrutural para a nova via foram levados em conta quesitos como a acessibilidade, os custos, a aparência, a parte operacional da construção propriamente dita e, principalmente, as características dos solos. A Ilha do Fundão é formada pela junção, por meio de aterro, de pequenas ilhas. O fato de a ponte ser estaiada, não necessitando de pilares para cruzar o canal, torna a obra mais rápida, explica Francisco Lopes, professor da Coppe. Outra vantagem é que a nova via não causará impacto na navegação naquela parte do canal. Uma terceira vantagem apontada pelo professor é o potencial da ponte para se tornar uns dos cartões postais do Rio de Janeiro, graças a seu visual.
Mas, apesar de ser mais uma opção de saída da Cidade Universitária, a nova ponte é considerada pelos professores do Programa de Engenharia de Transportes da Coppe uma solução paliativa, ou seja, não resolverá todos os problemas do trânsito na região. Francisco Lopes concorda com eles, porque os engarrafamentos no campus são consequência de congestionamentos fora da Ilha do Fundão. Além disso, o número de veículos particulares que trafegam no campus não para de crescer e, de acordo com estimativa do comitê do Plano Diretor da UFRJ, deve chegar a 40 mil nos próximos dez anos.
“A melhor solução é o transporte coletivo”, diz Francisco Lopes. Por isso, o Comitê do Plano Diretor está buscando alternativas como a construção de um ramal de trem até a Cidade Universitária, partindo da estação de Bonsucesso. A proposta foi apresentada à concessionária Supervia, que, no entanto, não acenou com possibilidade de implantação a curto prazo. Outra opção, já em implantação, é o BRT Transcarioca, que ligará a Barra ao Galeão, passando pela Ilha do Fundão.