Continuidade do desmatamento fará Brasil ultrapassar em 137% a meta de emissões para 2030

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Data: 16/09/2022

Estudo conduzido por pesquisadores da Coppe/UFRJ e divulgado nesta quinta-feira, 15 de setembro, aponta que, se a política ambiental brasileira seguir seu curso atual, as emissões de gases de efeito estufa vão ultrapassar em 137% a meta assumida pelo país no Acordo de Paris e em suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDC, na sigla em inglês), para 2030. Além disso, a continuidade do desmatamento poderá levar ao “ponto de não retorno”, em que a Amazônia seria conduzida a um processo irreversível de savanização.

Essas conclusões fazem parte do “Cenário Continuidade”, uma atualização dos estudos desenvolvidos por pesquisadores do Centro de Estudos Integrados Sobre Meio Ambiente e Mudanças Climáticas (Centro Clima), laboratório vinculado ao Programa de Planejamento Energético da Coppe, com a coordenação do professor Emilio La Rovere, no âmbito da iniciativa Clima & Desenvolvimento, idealizada pelo Instituto Clima e Sociedade (iCS), pelo Instituto Talanoa e pelo próprio Centro Clima.

Os pesquisadores trabalharam duas hipóteses de cenários de continuidade da atual política ambiental. No primeiro, o crescimento do desmatamento segue o ritmo do período 2018-2021 na Amazônia, no Cerrado e na Mata Atlântica, e se estabiliza em 2026. No segundo, o desmatamento nestes biomas continua crescendo no mesmo ritmo até 2030.

Em 2021, a iniciativa Clima e Desenvolvimento: Visões para o Brasil 2030 lançou um exercício coletivo de análise da conjuntura e de construção de futuros desejados para a descarbonização e para o desenvolvimento da economia brasileira nesta década. A iniciativa envolveu cerca de 300 especialistas e lideranças de empresas, governos subnacionais, investidores, parlamentares, organizações comunitárias e associações privadas.

Uma das principais mensagens do relatório publicado em 2021 é que sim, é possível descarbonizar a economia e obter crescimento do PIB. No entanto, apontam os pesquisadores, “entre 2012 e 2018 se observou uma estabilização das taxas anuais de desmatamento, cessando a sua queda pronunciada registrada desde 2005. Com uma pequena redução das remoções propiciadas pela restauração vegetal, e pelo aumento das emissões da agricultura, da pecuária e do uso de combustíveis fósseis, o total das emissões nacionais de GEE cresceu cerca de 20% de 2013 a 2018. Esse crescimento se acelerou fortemente a partir de 2019, devido principalmente à retomada de altas taxas de desmatamento anuais na Amazônia e em outros biomas do país”.

De acordo com o estudo, a taxa anual de desmatamento na Amazônia passou de 754 mil hectares em 2018 para 1,3 milhões de hectares em 2021, com uma elevação média de 183 mil ha/ano.

Essa tendência levou a Iniciativa Clima e Desenvolvimento a elaborar um novo Cenário, finalizado em setembro de 2022, nomeado Continuidade, que no setor Mudança de Uso da Terra (LULUCF, sigla em inglês) considera duas hipóteses de taxas de desmatamento e, portanto, foi divido em Continuidade 1 e 2. Os Cenários de Mitigação Adicional (CMA1 e CMA2), elaborados em 2021 foram mantidos e recomendam a radical redução do desmatamento e aumento de sumidouros de carbono, e também a precificação do carbono, com a criação de um mercado de cotas comercializáveis de emissões para o setor industrial; e o estabelecimento de uma taxa de carbono sobre as emissões do uso de combustíveis fósseis nos demais setores da economia, crescendo anualmente até atingir 9,5 US$/tCO2e (dólares por tonelada de equivalente de carbono) em 2025 e 19 US$/tCO2e em 2030.

Alerta contra a savanização da Amazônia

De acordo com o estudo, para cumprir os acordos internacionais e atingir as metas voluntariamente assumidas pelo país, é decisivo conter a elevação e reduzir as taxas anuais de desmatamento, principalmente na Amazônia. Os autores ressaltam ainda os outros benefícios que a Amazônia presta à sociedade brasileira, como a manutenção do clima na região e o transporte de umidade para outras regiões brasileiras uma contribuição fundamental para a disponibilidade de recursos hídricos e a produtividade agrícola do país.

“Na verdade, o desmatamento acumulado é uma ameaça cada vez mais concreta à integridade do próprio bioma amazônico. A comunidade científica vem alertando repetidamente para o perigo de se chegar a um nível entre 20 e 25% de desmatamento do bioma: a partir desse ponto, as mudanças decorrentes no clima na região poderiam deflagrar um processo de sua ‘savanização’, sem retorno. Estima-se que a área desmatada até hoje já tenha atingido 17% da cobertura original da floresta amazônica”, explicam os autores, que enfatizam que a continuidade da devastação colocará em risco a integridade da Floresta Amazônica já em 2030.

A continuidade da devastação observada nos últimos quatros anos levaria a Floresta Amazônica a um desmatamento acumulado de quase 20 milhões de hectares no período 2022-2030, elevando as emissões brasileiras dos gases de efeito estufa, aponta a pesquisa.

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