COP 15: A Contribuição da Coppe
Planeta COPPE / Engenharia Civil / Engenharia de Transportes / Engenharia Oceânica / Planejamento Enérgico / Notícias
Data: 14/12/2009
O Brasil teve um importante papel na reversão da expectativa mundial em relação ao comprometimento das principais lideranças com novas metas de redução de gases de efeito estufa na Conferência do Clima em Copenhague (e com formas de financiar tal esforço). Parte dessa influência positiva pode ser creditada a instituições sediadas na Cidade Universitária, no Rio de Janeiro. Cerca de dez cientistas, pesquisadores e professores da Coppe/UFRJ integram a delegação brasileira que está na Dinamarca. Quatro deles fazem parte do IPCC, o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas. Outros atuam em unidades sediadas ou ancoradas na Coppe que realizam estudos sobre o tema, entre elas o Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas.
Conheça a avaliação dos especialistas entrevistados nesta reportagem sobre os desdobramentos das discussões sobre o clima, no Brasil e no mundo, e suas expectativas em relação aos resultados da reunião realizada na Dinamarca.
“O pessimismo em relação a um possível fracasso da conferência de Copenhague deu lugar a um otimismo moderado em relação a um acordo político com metas de corte de emissões. Ao mudar sua posição histórica e propor uma meta voluntária de redução das emissões dos gases de efeito estufa, o Brasil e em seguida os Estados Unidos e a China abriram caminho para uma nova esperança”, avalia Luiz Pinguelli Rosa, diretor da Coppe e secretário executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas.
Lula e o Fórum do Clima
O Brasil teve um importante papel na reversão da expectativa mundial em relação ao comprometimento das principais lideranças com novas metas de redução de gases de efeito estufa na Conferência do Clima em Copenhague (e com formas de financiar tal esforço). Parte dessa influência positiva pode ser creditada a instituições sediadas na Cidade Universitária, no Rio de Janeiro. Cerca de dez cientistas, pesquisadores e professores da Coppe/UFRJ integram a delegação brasileira que está na Dinamarca. Quatro deles fazem parte do IPCC, o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas. Outros atuam em unidades sediadas ou ancoradas na Coppe que realizam estudos sobre o tema, entre elas o Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas.
Conheça a avaliação dos especialistas entrevistados nesta reportagem sobre os desdobramentos das discussões sobre o clima, no Brasil e no mundo, e suas expectativas em relação aos resultados da reunião realizada na Dinamarca.
“O pessimismo em relação a um possível fracasso da conferência de Copenhague deu lugar a um otimismo moderado em relação a um acordo político com metas de corte de emissões. Ao mudar sua posição histórica e propor uma meta voluntária de redução das emissões dos gases de efeito estufa, o Brasil e em seguida os Estados Unidos e a China abriram caminho para uma nova esperança”, avalia Luiz Pinguelli Rosa, diretor da Coppe e secretário executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas.
Lula e o Fórum do Clima
Historicamente, a diplomacia brasileira sempre se recusou a adotar qualquer tipo de meta, baseada na premissa de que o país não pode prejudicar seu desenvolvimento, que é assimétrico em relação ao dos países industrializados. Mas foi o próprio presidente Lula quem virou o jogo ao convocar mais uma reunião com Luiz Pinguelli Rosa, em agosto deste ano. Convencido de que todos os países – ricos ou pobres – têm contribuição a dar, o presidente incumbiu mais uma vez o secretário executivo do Fórum de consultar os setores da sociedade para recolher opiniões com vistas à reunião de Copenhague.
“Fizemos reuniões com todos os 14 fóruns estaduais, com entidades ligadas à questão das cidades, com o setor de silvicultura, com centrais sindicais e com o fórum dos governadores da Amazônia, reunido em Manaus”, conta Neilton Fidelis. Da última reunião presidencial do Fórum, no dia 9 de novembro, participaram desde ativistas da campanha TicTac (cuja mensagem é: “O mundo quer um acordo pra valer”) a representantes da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Isso, diz Fidelis, confirma a posição do Fórum de ser aberto a contribuições de qualquer cidadão interessado no tema.
Foi assim que, mantidos o princípio da responsabilidade diferenciada e o conceito de emissões históricas, o Brasil mudou de posição e deve anunciar, em Copenhague, ações voluntárias para cortar quase 40% de suas emissões até 2020 (em relação ao crescimento tendencial), sendo 20% pela redução do desmatamento da Amazônia em 80%, como está no Plano Nacional sobre Mudança do Clima.
“Ao longo destes últimos anos, o Fórum saiu do anonimato, ganhou a sociedade, tornou públicas as discussões sobre o clima e criou capilaridade”, diz Neilton Fidelis.
Segundo Luiz Pinguelli Rosa, outra importante contribuição do Fórum foi acabar com os impasses semânticos que muitas vezes bloqueavam as negociações diplomáticas, assumindo um linguajar mais claro.
Professor do Programa de Planejamento Energético (PPE), membro do IPCC e orientador de várias teses sobre a questão do clima defendidas nos últimos anos, Roberto Schaeffer concorda que o papel do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas foi crucial no sentido de fazer ouvir a voz de outros segmentos da sociedade:
As expectativas em relação aos possíveis resultados da Conferência do Clima de Copenhague eram muito baixas. Os Estados Unidos haviam acabado de votar um projeto de lei de redução de emissões na Câmara de Deputados, mas não houve tempo de votá-la no Senado e o país parecia não poder se comprometer com meta alguma. O mundo todo já estava trabalhando com um cenário em que decisões importantes teriam de ser postergadas para maio/junho de 2010 ou até mesmo para a COP-16, no México. Essa expectativa foi corroborada por uma reunião entre Estados Unidos e China, que esperavam um acordo meramente político. A grande surpresa foi a reversão dessa expectativa, e o Brasil teve um papel fundamental nisso.
Para Schaeffer, a principal explicação para essa mudança de postura foi a politização da questão no próprio país: o Ministério do Meio Ambiente (MMA) ganhou proeminência com a ênfase dada à questão do clima pelo ministro Carlos Minc e sua equipe.
A Secretária de Mudanças Climáticas e Qualidade Ambiental do MMA, Suzana Kahn Ribeiro, professora do Programa de Engenharia de Transportes da Coppe, faz parte dessa equipe. Vice-presidente do Grupo de Trabalho 3 do IPCC, Suzana contribuiu efetivamente na formulação da proposta que está sendo apresentada em Copenhague pelo governo brasileiro e integra a delegação oficial na reunião da Dinamarca. Experiência em negociações sobre o tema não lhe falta: coordenou, com um colega do Japão, o capítulo dedicado aos transportes no 4º Relatório de Avaliação do grupo de Trabalho 3 do IPCC, publicado em maio de 2007.
A fonte do clima na Coppe
Para que o Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas assumisse um papel protagonista, ele tem sido regularmente municiado com projetos e estudos produzidos em outros espaços de reflexão. Na Coppe, o embrião das discussões e estudos sobre as mudanças do clima foi o Programa de Planejamento Energético (PPE). O Programa tem contribuído há mais de duas décadas com produção de conhecimento sobre o tema e, mais recentemente, colaborado com propostas de mitigação e adaptação, por meio de estudos realizados por professores e pesquisadores, além de dissertações de mestrado e teses de doutorado defendidas pelos alunos.
“O PPE é a ‘célula-mãe’ de vários outros centros de estudos criados de lá para cá, dentro e fora da instituição, que têm por foco as mudanças climáticas”, afirma Pinguelli.
O Instituto Virtual Internacional de Mudanças Globais (Ivig), criado no ano 2000, é um exemplo desse desdobramento. Multidisciplinar e virtual, o Ivig articula instituições no Brasil e no exterior com governos e empresas e trabalha em três grandes linhas relacionadas às transformações globais: mudanças climáticas globais; mudanças de paradigmas; inovações tecnológicas e mudanças institucionais no setor de energia.
Segundo Marcos Freitas, professor do PPE da Coppe e coordenador do Ivig, princípios que hoje já se tornaram correntes – como a dimensão ética na questão do clima e da responsabilidade histórica dos países que puderam se desenvolver sem restrições ao longo de quase três séculos – foram formulados em teses de doutorado defendidas no Programa e em estudos realizados por pesquisadores do Ivig.
Centro Clima
Cada vez mais, a universidade precisará capacitar profissionais e especialistas para formular os cenários e modelos que servem de base para enfrentar os problemas decorrentes do aquecimento global, como os inventários de emissões de gases do efeito estufa. O Centro de Estudos Integrados sobre Meio Ambiente e Mudanças Climáticas (Centro Clima), da Coppe, um dos “filhotes” gerados pelo PPE, já fez os inventários de gases de efeito estufa da cidade do Rio de Janeiro, do Estado do Rio e da cidade de São Paulo. Além disso, está elaborando o projeto Siderurgia Verde, para o estado de Minas Gerais.
Com mais de 40 estudos e projetos que subsidiaram dissertações de mestrado e teses de doutorado, além de livros, artigos e trabalhos apresentados em congressos, o Centro Clima ajuda na elaboração dos relatórios do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) e de estudos para o secretariado da Convenção do Clima. Também contribuiu para a elaboração do inventário nacional de gases de efeito estufa do setor energético.
Ações voluntárias de mitigação
Logo depois do anúncio dos resultados de Copenhague, os países terão de começar a trabalhar para cortar as emissões. No caso do Brasil, a questão é como pôr em prática o prometido esforço voluntário (emissões entre 36% e 39% abaixo das previstas para 2020, se mantida a tendência atual).
Diversas ações – as chamadas Namas (sigla em inglês de nationally appropriate mitigation actions) – podem contribuir para evitar emissões de gases de efeito estufa pelo Brasil. Os especialistas da Coppe apontam entre elas o programa de redução do desmatamento na Amazônia e no cerrado; o reflorestamento para produção de carvão vegetal de origem renovável, a ser utilizado no setor siderúrgico em substituição ao coque e ao carvão mineral (“siderurgia verde”); medidas de eficiência energética; expansão da produção e uso de biocombustíveis e de energia elétrica a partir de fontes renováveis.
Economia do clima: quem paga a conta?
Segundo Emilio La Rovere, professor do PPE e também membro do IPCC, a questão mais importante no debate em Copenhaque é: quem paga a conta? Até que ponto os países industrializados se comprometerão financeiramente com metas que impeçam que a temperatura global aumente mais do que 2ºC até o fim do século? Um dos maiores desafios da COP 15 é a definição de um pacote financeiro para permitir que os países desenvolvidos invistam em nações emergentes, tanto para compensar emissões, por meio do mercado de carbono, como para ajudar na redução efetiva, por meio de ações como corte de desmatamento e transferência de tecnologia.
Uma das principais propostas é um fundo de emergência com aproximadamente US$ 10 bilhões, para permitir a países como o Brasil e a China a implementação imediata de seus planos de mitigação de emissões de gases de efeito estufa, sem esperar até 2012, quando termina o primeiro período do Protocolo de Kyoto, para começar a agir. Os Estados Unidos estariam prontos para financiar o fundo fast-track – como tem sido chamado o mecanismo financeiro de emergência.
Pequena a conta não é. Segundo o estudo Economia das Mudanças do Clima no Brasil, coordenado pela pesquisadora Carolina Dubeux, da Coppe, o país pode perder entre R$ 719 bilhões e R$ 3,6 trilhões até 2050, caso nada seja feito para reverter os impactos das mudanças climáticas. Do estudo – uma espécie de “relatório Stern” para o Brasil – também participaram os professores Roberto Schaeffer e Emilio La Rovere, todos do PPE da Coppe. O trabalho, divulgado em fins de novembro, foi realizado por uma grande equipe interdisciplinar, envolvendo, além da Coppe/UFRJ, outras instituições de pesquisa como USP, Unicamp, Embrapa, Inpe, Fiocruz, FBDS, Ipam, Ipea e Fipe.
Ações de adaptação: Baixada Fluminense e zona costeira do Rio de Janeiro
Os professores Paulo Canedo, do Programa de Engenharia Civil, e Paulo Rosman, do Programa de Engenharia Naval e Oceânica, apontam adaptações necessárias para prevenir Baixada Fluminense e zona costeira das consequências dos fenômenos extremos previstos pelo IPCC. Saiba mais sobre as ações de adaptação às mudanças climáticas na Baixada Fluminense e na zona costeira do Rio de Janeiro em matéria do Planeta Coppe.
Texto: Kristina Michahelles (jornalista colaboradora)
Conheça mais sobre os estudos e as unidades da Coppe citados na matéria acessando os links a seguir.
Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas
Plano Nacional sobre a Mudança do Clima
Centro Clima
Instituto Virtual Internacional de Mudanças Globais (Ivig)
Estudo sobre Economia do Clima