COPPE ajuda a reduzir custo de software nacional
Planeta COPPE / Engenharia de Sistemas e Computação / Notícias
Data: 23/08/2005
Acaba de ser inaugurado no Brasil o Instituto de Engenharia de Software (IES). A COPPE é uma das sócias – fundadoras dessa entidade, com sede no Rio de Janeiro, que tem como principal objetivo tornar a indústria de software brasileira mais competitiva neste mercado global que movimenta mais de 260 bilhões de dólares anuais. Trata-se de um desafio e tanto para os integrantes do novo instituto que vão ter que trabalhar duro para reverter a acanhada posição do Brasil no ranking do mercado mundial de software. As pesquisas revelam que o país responde por apenas 1, 3 % deste mercado, cuja liderança é dos Estados Unidos, com 49%. Com base na balança comercial, constata-se que nos últimos anos o Brasil vem perdendo posição neste mercado: Importamos cerca de 90% do que consumimos. De 1990 ao ano 2000, passamos de 50 milhões a 1, 2 bilhões de dólares o total de gastos com importação de software.
No intuito de reverter este quadro, o novo instituto pretende promover uma campanha de melhoria na qualidade dos processos de produção de software no Brasil e na América Latina. Para isso, vai adotar um modelo de referência desenvolvido pela Sociedade Softex, a COPPE e outros centros de pesquisa, denominado MPS BR. Elaborado sob a coordenação da professora Ana Regina Rocha, do Programa de Engenharia de Sistemas da COPPE, o modelo poderá reduzir em até seis vezes os custos de implantação e avaliação de processos de software para as empresas nacionais do setor.
Os integrantes do IES se unem a Sociedade Softex somando esforços para uma verdadeira campanha no sentido de estimular as empresas nacionais a adotarem o modelo e qualificar pessoal para utilizá-lo. A meta é de que, até 2006, 120 empresas nacionais já estejam utilizando o modelo para melhorar o patamar dos seus produtos, tornando-os aptos para uma certificação. Para acelerar o processo, a idéia é divulgar o produto em instituições que possam ter um papel multiplicador.
Criado para atender a realidade do mercado brasileiro, o MPS BR é um produto 100 % nacional, embora também 100% aderente a normas e modelos internacionais. Segundo a professora Ana Regina, que coordenou a equipe técnica do modelo, a iniciativa de adotar um modelo próprio vai beneficiar o setor nacional de software como um todo, já que a indústria brasileira caracteriza-se por empresas novas e de pequeno e médio porte. Tomando como base a receita, 79,5% do mercado é formado por pequenas empresas. Das 10 mil empresas de software existentes no país, 50% são novas, tendo sido criadas no decorrer dos anos 90.
O modelo brasileiro foi desenvolvido e será implantado com apoio do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), da FINEP e do BID. “A adoção do MPS BR será um passo fundamental para o aumento da competitividade da nossa indústria de software, que tem entre seus principais concorrentes grandes empresas estrangeiras”, afirma a Diretora da COPPE, Angela Uller, que assinou o estatuto de criação do IES durante a cerimônia de inauguração.
Pesquisadores começaram a trabalhar praticamente sem recursos financeiros
A criação do MPS.BR confirma o ditado popular que diz nunca ser tarde para acordar. A movimentação dos agentes que compõem o instituto – empresas, associações, governo e universidades – se deu a partir de uma pesquisa encomendada pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), em 2001, que revelou que o país estava perdendo terreno nesse setor que gera mais de 180 mil empregos diretos. No início, percebendo que não era possível ficar de braços cruzados, a Softex reuniu as empresas e buscou o apoio das universidades. O fato de os dois centros de excelência do Brasil nesta área, a COPPE, da UFRJ, e a PUC, estarem localizados em um mesmo município, no Rio de janeiro, contribuiu para dar agilidade ao processo.
No início, mesmo sem recursos aportados, os pesquisadores arregaçaram as mangas e começaram a trabalhar. As próprias instituições que hoje compõem o IES, entre elas universidades, anteciparam os recursos gastos inicialmente para alavancar o projeto. “Todos que participaram dessa iniciativa tinham ciência da premência do país em adotar um modelo de qualidade para o software brasileiro, cujo preço fosse acessível para as nossas empresas. Foi com base nesses princípios que desenvolvemos o MPS BR”, garante a professora Ana Regina, da COPPE.
Para se ter uma idéia das vantagens de se ter um modelo nacional de referência, basta colocar os números na mesa. Segundo a professora Claudia Werner, diretora acadêmica adjunta da COPPE, uma avaliação de processos de software utilizando modelos internacionais custa a partir de 20 mil dólares. Se a empresa quiser dar o passo seguinte, o chamado nível 3, precisa desembolsar mais 25 mil dólares. “É muito caro para o porte da maioria das nossas empresas, quase inacessível. Mas para ter um setor fortalecido e indústrias com condição de aumentar a produção e disputar no mercado mundial, não há como fugir de avaliações da maturidade dos processos das organizações”, afirma Werner.
O MPS BR, cujos custos de avaliação inicial são de cerca de 10 mil Reais, ainda não é um modelo com validade internacional. Mas é um passo fundamental para que a empresa brasileira possa chegar lá, pois adota os critérios internacionais e possui custos acessíveis. Além disso, o BID já está aportando recursos para que o MPS BR se torne um modelo de referencia latino-americano. Os clientes já existem: Cuba, Peru, Chile, Argentina e Uruguai estão interessados. No Brasil, instituições de grande porte já procuraram a COPPE para torna seus processos aptos a possuírem a avaliação MPS. Entre eles, destacam-se o BNDES, o Tribunal Superior Eleitoral, a Marinha do Brasil e a Força Aérea Brasileira.