Coppe debate benefícios e riscos do descomissionamento de estruturas offshore

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Data: 27/10/2023

Os professores Paulo Solomon e Murray Roberts à mesa. Joseph Nicolette e professor Sean van Elden participaram remotamente

A Coppe/UFRJ recebeu nesta sexta-feira, 27 de outubro, o 1° Seminário Científico Internacional Descomissionamento Sustentável, uma iniciativa do hub Conexões Interdisciplinares para o Descomissionamento Sustentável (Conids). O evento, realizado no auditório da Coppe, teve como tema “Serviços Ecossistêmicos no Ambiente Marinho” e proporcionou um rico debate sobre a experiência internacional e as perspectivas futuras do descomissionamento de estruturas offshore.

O seminário teve como palestrante o professor Murray Roberts, da Escola de Geociências da Universidade de Edimburgo (Escócia), e como painelistas o professor Sean van Elden, da Universidade de Westeen Australia, Paulo Solomon, do Instituto de Biologia (IB/UFRJ) e pesquisador do Sage, e Joseph Nicolette, vice-presidente do Ecosystem Service Economics of Montrose Environmental (Austrália).

De acordo com o professor Murray Roberts, está se construindo um consenso científico de que a remoção completa das estruturas não é sempre a melhor opção. Segundo ele, há uma mudança rumo a uma política de descomissionamento sustentável, mas a escala do desafio requer que governos, indústrias e universidades somem forças.

O professor Murray Roberts, da Universidade de Edimburgo (Reino Unido)

O professor Roberts abordou projetos como o Decommissioning – Relative Effects of Alternative Management Strategies (Dreams) e demais projetos do Insite (Influence of Structures In The Ecosystem – Influência das estruturas no ecossistema, em português), grupo de pesquisa, do qual Roberts faz parte do conselho consultivo, dedicado à compreensão do impacto das estruturas feitas pelo homem no ambiente marinho do Mar do Norte.

O projeto Dreams envolveu uma compilação do que a literatura científica apresenta e como ela pode embasar a tomada de decisão. “Há tanto aspectos positivos quanto negativos para a sociedade. Como disse o Lord May, cientista-chefe do governo britânico entre 1995 e 2000, ‘o papel dos cientistas não é escolher entre alternativas, mas determinar quais são estas alternativas’”, afirmou Roberts.

O professor da Universidade de Edimburgo abordou ainda projetos com uso de embarcações autônomas e demais mecanismos de Inteligência Artificial e o estudo sobre como campos eletromagnéticos de cabos de tensão em estruturas eólicas offshore impactam o comportamento da fauna marinha, sobretudo em elasmobrânquios (tubarões e raias).

“Não é a minha área do conhecimento, mas um artigo dos professores Abigail Davies e Astley, Hastings, da Universidade de Aberdeen, mostra que as emissões de gases de efeito estufa, resultantes do descomissionamento, vêm sendo subestimadas em 50%. Segundo os autores, o descomissionamento da infraestrutura de óleo e gás já resultou na emissão de 25 MtCO2e (megatoneladas de equivalente de carbono) globalmente e representam 0,5% das emissões globais anuais. E elas vão aumentar exponencialmente, chegando a 5 GtCO2e, até 2067. Isso traz questões importantes e grandes incertezas”, relatou.

Conservar as estruturas e transformá-las em novos ecossistemas

O professor Marcelo Igor (PEnO) é um dos coordenadores do Conids

Vice-presidente da Montrose Environmental, Joseph Nicolette falou sobre avaliação comparativa que é realizada na empresa australiana, no projeto Net Environmental Benefit Analysis-Comparative Assessment (NEBA-CA). O projeto visa maximizar os benefícios dos serviços ecossistêmicos ao público enquanto gerencia os riscos ambientais.

Segundo Nicolette, a avaliação comparativa deve atender a critérios como: objetividade; transparência; relevância e qualidade das informações; consistência com as normas regulatórias; proteção da saúde humana e ambiental; incorporar o conhecimento dos stakeholders; ser replicável e cientificamente robusta.

“A avaliação deve considerar os serviços ecossistêmicos, quer sejam de uso ecológico, como cadeia alimentar da vida selvagem, proteção em relação a predadores, habitat para nidificação e desova, ou de uso humano, como pesca, turismo, atividades náuticas, caça, observação de pássaros”, enumerou.

De acordo com Nicolette, estudando as consequências em longo prazo das possíveis opções para descomissionamento de estruturas offshore, os pesquisadores do NEBA-CA concluíram que proteger as estruturas no próprio local mostrou trazer mais benefícios e menos riscos e prejuízos, ao passo que a remoção completa das estruturas teria o resultado oposto.

O professor Paulo Salomon, do Instituto de Biologia (IB/UFRJ), fez uma descrição do cenário que o descomissionamento encontra no Brasil, um país com quase oito mil quilômetros de extensão costeira e cuja zona econômica exclusiva (ZEE), com 960 mil km², não ao acaso é chamada de “Amazônia Azul”.

Pesquisador associado do Núcleo Prof. Rogério Valle de Produção Sustentável (Sage) da Coppe, Salomon apresentou também o projeto Novo Bioma Fluminense, iniciado em 2013, e que contou com expedições interdisciplinares ao litoral do estado do Rio de Janeiro, em 2021 e 2023.

O professor Sean van Elden, da Universidade de Western Australia, por sua vez, destacou que o uso de Stereo-Bruvs (baited remote underwater stereo-video systems) se mostrou um método efetivo para amostragem de comunidades de plataformas offshore. Segundo van Elden, foram realizadas seis expedições em três anos, na costa noroeste da Austrália, na qual a exploração de petróleo começou em 1953 e cerca de sessenta plataformas continuam em operação.

“As expedições geraram 1.125 bruvs, 1.700 horas de filmagens e 35 mil animais de 358 espécies foram encontradas. O método é custo-eficiente, não-destrutivo e pode ser usado em larga escala gerando um registro do momento presente das comunidades marinhas. A nossa conclusão é que as plataformas offshores podem ser avaliadas como novos ecossistemas, a plataforma de Wandoo atende a esses critérios e atua como uma área marinha protegida (MPA) de facto.”

O hub Conexões Interdisciplinares para o Descomissionamento Sustentável (Conids) é coordenado pelos professores Virgílio Ferreira Filho, do Programa de Engenharia de Produção (PEP), e Marcelo Igor, do Programa de Engenharia Oceânica (PEnO), e tem coordenação-executiva da pesquisadora Laurelena Palhano (PEP).

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