Coppe debate Soluções Tecnológicas de Baixo Carbono
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Data: 16/06/2023
A Coppe/UFRJ lançou nesta quinta-feira, 15 de junho, o Centro Virtual de Soluções Tecnológicas de Baixo Carbono, com o objetivo de envolver a comunidade científica da Coppe, em parceria com o poder público e a iniciativa privada, em busca de soluções para a descarbonização da economia. Neste âmbito, foram destacadas duas iniciativas: a plataforma digital BxC, de soluções de baixo carbono, para permitir uma integração rápida e eficiente entre as empresas, as instituições e os especialistas da Coppe; e cursos de ensino a distância (EAD) sobre soluções de baixo carbono, que terão dois módulos iniciais com início já em agosto.
O diretor da Coppe, professor Romildo Toledo, destacou a importância do apoio do Governo do Estado do Rio de Janeiro, através de sua Fundação de Amparo à Pesquisa do (Faperj), para a criação do Centro Virtual de Soluções Tecnológicas. “Temos o prazer de anunciar o Centro, é um tema de grande interesse da sociedade, um tema global. A Coppe lidera uma ação que, certamente, transbordará suas fronteiras, para toda a UFRJ, para que a gente busque descarbonizar os vários segmentos industriais, visando à transição energética. São desafios enormes que precisamos superar em um intervalo de tempo curto”, avaliou professor Romildo.
“O Centro funcionará dando visibilidade às diversas competências que temos na Coppe. Teremos em nossa plataforma todos os nossos laboratórios. Temos cerca de 60 mil m² de infraestrutura laboratorial, e esse capital humano de mais de 300 professores e 700 pesquisadores, 300 pós-doutores, mais de dois mil mestres e doutores em formação, está à disposição para ajudar a solucionar a problemática da descarbonização”, completou.
A vice-diretora da Coppe, professora Suzana Kahn, à frente do projeto, destacou que a ideia vinha sendo pensada há tempos pela diretoria. “O mundo passa por muitas transformações, energética, digital, cultural, comportamental, e o fluxo de investimentos tem migrado e, com ele, o foco da pesquisa e desenvolvimento. Há tempos temos refletido como a academia pode servir melhor à sociedade e as empresas incorporarem a tecnologia que é desenvolvida aqui na universidade”, pontuou.
“Na plataforma, a gente mostra áreas que dão sustentação ao tema, como transformação digital, inventário de carbono, análise de ciclo de vida, planejamento energético e ambiental. Conversamos com a Faperj sobre a importância de consolidar e sistematizar tudo isso. Mesmo muitos de nós da Coppe não conhecemos toda essa potencialidade. Por isso criamos essa plataforma BxC, com esse jeito meio Faria Lima de plataforma de negócios, com terminologia mais empresarial”, explicou professora Suzana.
“A forma de funcionamento é o recebimento da demanda, desenhamos juntos a estratégia, fazemos a conexão, enquadramos, acompanhamos a contratação e execução, articulação com spin offs e, finalmente, a chegada da solução de baixo carbono ao mercado. Nós temos a ideia de conectar as empresas a investidores que estão interessados em negócios relacionados ao baixo carbono, além de fundos filantrópicos, bancos de desenvolvimento e agências de fomento”, complementou a professora, idealizadora do projeto.
Visão de futuro
Os lançamentos foram feitos durante o debate “Soluções Tecnológicas de Baixo Carbono: competências e visão de futuro”. No evento, o diretor-presidente da Enauta, Décio Oddone, ressaltou que a visão sobre transição energética vem mudando. “Há necessidade de inclusão energética, quase 700 milhões de pessoas não têm acesso à eletricidade. Aquela visão otimista de que algumas poucas soluções miraculosas possibilitariam a transição já não existe. Vai ter que haver muita inovação, mas vai passar por uma série de fatores. Ainda vejo pouca interação entre universidade e sociedade e dela com seus ex-alunos. Eu vejo muito preconceito com o recurso privado. É preciso tirar esse ranço ideológico. A Coppe é um retrato do sucesso dessa colaboração”, refletiu Décio.
Na visão do secretário executivo da ABESPetro, Telmo Ghiorzi, o petróleo, “diferentemente do que muitos pensam, continuará vivo por muito tempo”. “Quando o petróleo entrou na matriz energética mundial em 1859, o carvão era a principal fonte de energia e após isso sua produção subiu 40 vezes. A fartura material gerada pela Revolução Industrial, nós estamos precisando dela de novo. Ainda há muita gente pobre no mundo. Por isso o petróleo continuará por muito tempo. Não podemos deixar tanta gente com fome para não produzir um grama de CO².Continuaremos produzindo, talvez até mais que os 90 milhões de barris produzidos por dia. Mas, de modo mais limpo”.
Pegando como gancho um comentário da professora Tatiana Roque, secretária municipal de Ciência e Tecnologia, que citou, na abertura do evento, a economista ítalo-britânica Marina Mazzucato, Telmo disse que falta ao país uma POM (política orientada à missão) de exportar bens e serviços. “Corremos o risco de em dez anos sermos um grande produtor de hidrogênio verde e amônia e importador dos bens necessários à sua produção. Ter recurso natural será cada vez menos uma vantagem comparativa, a vantagem será a indústria. Devemos industrializar na direção das energias renováveis e buscando a exportação, como a tecnologia de high pressure separation (hisep), desenvolvida pela Petrobras e que serve para separar CO² do gás natural e reinjetá-lo. Um CCUS (carbon capture, utilisation and storage) altamente sofisticado. Conseguiremos produzir e exportar essa tecnologia e os insumos necessários?”, questionou Telmo.
Segundo o diretor de Comunicação e Responsabilidade Social Corporativa da Engie Brasil, Gil Maranhão Neto, o Brasil tem uma oportunidade enorme de desenvolver toda uma cadeia de bens e serviços em torno da transição energética. “Se tem um país onde o hidrogênio verde será viável, será o Brasil. Não dá pra mensurar a oportunidade que isso trará para a Ciência, para adaptar, tropicalizar, em vez de simplesmente importar”.
Para o CEO da Petrogal Brasil, Daniel Elias, a transição energética vai dar muito trabalho e requerer competência, o que é uma boa notícia para uma instituição como a Coppe. “Não há um caminho único a seguir. Há geografias no globo, por exemplo, em que a demanda por carvão faz sentido. Temos que encontrar soluções customizadas para as necessidades singulares, que não gerem mais desigualdades. Isso vai requerer criatividade e investimento”.
Consenso em relação ao gás natural
Durante o debate, uma questão suscitada pela professora Suzana Kahn gerou um rápido consenso entre o diretor-executivo de Transição Energética e Sustentabilidade da Petrobras, professor Mauricio Tolmasquim, e o presidente da Shell Brasil, Cristiano Pinto da Costa: o gás natural.
“Sendo bastante direto, o Brasil não tem tanto gás assim. O Brasil é um país petrolífero, não gasífero. É importante entender isso, para não ter frustrações. Nosso gás está a uma distância muito grande da costa e a uma grande profundidade. Não é competitivo comparado ao shale gas americano (obtido do xisto betuminoso) ou ao gás russo. Brasil é rico em vários recursos, mas não nesse. Não temos tanto gás como gostaríamos de ter e o que temos não é exatamente ao preço que gostaríamos que tivesse”, explicou Tolmasquim, professor do Programa de Planejamento Energético da Coppe.
“É bom ver o Tolmasquim falar abertamente sobre isso. Eu passei 10 anos trabalhando na área de gás da Shell lá fora e sempre me surpreendeu essa percepção de que o Brasil tem abundância de gás. Os fatos mostram o contrário. Temos na casa de 12 TCF (trilhões de pés cúbicos), a América do Norte tem 400. Rússia mais de 1.000, o campo na fronteira entre Irã e Qatar tem 900. Além disso, o gás brasileiro está associado a produção do óleo, e 95% da receita offshore vem do óleo. Tirar esse pouco gás a 250 km da costa, em alta profundidade, trazer e trazer à costa, ele nunca vai chegar com um preço competitivo”, concordou Cristiano da Costa.
“Temos também que desmistificar o tema da reinserção do gás. As grandes operadoras são vilanizadas por reinjetar gás. Ninguém faz isso porque quer. Quarenta por cento do gás é pela reinserção de CO², quarenta é questão econômica, ter pressão para extrair o petróleo, 10% é na Amazônia, no Campo de Urucu e os outros 10% estão esperando a abertura do gasoduto da Rota 3 para vir ao mercado”, avaliou.
Para Cristiano da Costa, pouca atenção é dada à eficiência operacional como forma de reduzir a pegada de carbono dos hidrocarbonetos. “A indústria de transporte dobrou nas últimas duas décadas, reduzindo emissões em 40%. O Brasil tem petróleo de baixa intensidade de carbono e baixo custo operacional, consequentemente maior competitividade. Aqui, na Coppe, o LRAP ajuda a gente a desenvolver projetos que aumentam a eficiência e os fatores de recuperação”, destacou.
O debate foi moderado pela professora Suzana Kahn e contou com a participação do presidente da Shell Brasil, Cristiano Pinto da Costa; do CEO da Petrogal Brasil, Daniel Elias; do diretor-presidente da Enauta, Décio Oddone; do diretor executivo de Transição Energética e Sustentabilidade da Petrobras, Mauricio Tolmasquim; do diretor de Comunicação e Responsabilidade Social Corporativa da Engie Brasil, Gil Maranhão Neto, e do secretário executivo da ABESPetro, Telmo Ghiorzi. Todos os executivos presentes foram unânimes em destacar a importância de buscar soluções de baixo carbono como parte de uma agenda responsável de transição energética.
Antes do debate, foi feita uma apresentação dos 60 anos da Coppe, em que foi lançado um vídeo sobre a história da instituição. Deste momento, participaram a secretária de Ciência e Tecnologia da Prefeitura do Rio de Janeiro, Tatiana Roque, e o superintendente de Inovação e Sustentabilidade da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico, Indústria, Comércio e Serviços do Governo do Estado do Rio de Janeiro, Mauricio Guedes. Este foi o segundo evento da série “Agenda Coppe e Sociedade”, que faz parte das comemorações dos 60 anos de atividades da instituição.
O debate permanece disponível no canal da Coppe no YouTube.
- Centro Virtual de Soluções Tecnológicas de Baixo Carbono