Coppe e Instituto de Biofísica da UFRJ desenvolvem teste para Covid-19 que custa menos de R$ 5,00
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Data: 28/08/2020
A Coppe/UFRJ e o Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho (IBCCF), da UFRJ, desenvolveram um novo teste sorológico para detecção de anticorpos para a Covid-19. Batizado com o nome S-UFRJ, o teste desenvolvido sob a coordenação dos professores Leda Castilho, da Coppe, e André Vale, do Instituto de Biofísica, terá custo inferior a R$ 5,00.
O S-UFRJ embarca tecnologia escalonável e custo reduzido de produção da proteína S (spike), presente na estrutura do novo coronavírus. O baixo custo da proteína desenvolvida no Laboratório de Engenharia de Cultivos Celulares (Lecc) da Coppe, associado a uma coleta de amostras mais simples e acessível, possibilita o acesso e a expansão da testagem, que são fatores importantes, principalmente em países em desenvolvimento. No Brasil, testes rápidos aprovados pela Anvisa têm sido comercializados em farmácias por mais de R$ 130,00.
Segundo a coordenadora do laboratório da Coppe, Leda Castilho, a produção de testes confiáveis e de baixo custo no país permitirá ampliar significativamente a testagem da população brasileira, que hoje é muito baixa. “Os testes que detectam anticorpos do tipo IgG mostram se a pessoa já teve contato com o vírus ou não, e são muito importantes para compreender a disseminação da doença. Também podem subsidiar modelos epidemiológicos, auxiliar no desenvolvimento de vacinas, assim como permitir que decisões de políticas públicas sejam cientificamente embasadas”, explica a professora do Programa de Engenharia Química da Coppe.
Coleta mais simples e resultados mais rápidos
O S-UFRJ é uma variação do teste ELISA (sigla em inglês para ensaios de imunoabsorção enzimática). Segundo o professor André Vale, coordenador do Laboratório Intermediário de Biologia de Linfócitos (LIBL), do Instituto de Biofísica da UFRJ, o S-UFRJ simplifica o procedimento de coleta, que pode ser feito com um simples furo no dedo do paciente e o depósito de uma gota de sangue em uma tirinha com papel filtro padronizada pelo LIBL. “A coleta é barata e simples de realizar. Pode ser enviada até pelos Correios, e ainda permite a fácil composição de um banco de amostras”, afirma o professor.
Segundo os autores do estudo, muitos dos testes rápidos aprovados pela Anvisa têm desempenho questionável. Uma marca de teste rápido comercializada no Brasil foi comparada com o teste S-UFRJ e apresentou acertos que variaram de 0% para pessoas infectadas com até quatro dias, desde o início dos sintomas, até 71% de acerto para os infectados cujos sintomas começaram há 20 dias ou mais. Já o S-UFRJ apresenta 40% de acerto nos primeiros quatro dias de sintomas. Em dez dias, ele já ultrapassa 90% e, finalmente, atinge 100% de acerto quando é feito a partir de 20 ou mais dias do surgimento dos sintomas.
A proteína S é uma das proteínas responsáveis pela estrutura tridimensional do novo coronavírus, o SARS-CoV-2. “Ela é responsável pela ligação do vírus às células humanas, permitindo sua entrada e multiplicação. A proteína S é um alvo prioritário do sistema imunológico, sendo, portanto, a proteína mais promissora para o desenvolvimento de ensaios de diagnóstico sorológico”, explica Leda Castilho.
De acordo com o professor André Vale, o teste desenvolvido na UFRJ detecta a presença de anticorpos que são gerados pelo organismo em resposta à exposição ao vírus. Portanto, ele não substitui o PCR, que detecta a presença de material genético do vírus em secreções respiratórias nos primeiros dias após início dos sintomas. Conforme explica o professor, o S-UFRJ, além de identificar anticorpos, pode quantificá-los, mesmo em pessoas que não tiverem tido sintomas.
Quando o plasma de indivíduos convalescentes foi avaliado, o resultado do teste S-UFRJ apresentou correlação direta com a capacidade de neutralizar o novo coronavírus, medida no Instituto de Biologia da UFRJ, em trabalho coordenado pelos professores Amílcar Tanuri e Orlando Ferreira.
A pesquisa teve seus resultados divulgados em um artigo intitulado “An affordable anti-SARS-COV-2 spike ELISA test for early detection of IgG seroconversion suited for large-scale surveillance studies in low-income countries”, ainda sem revisão por pares (peer review), mas já disponibilizado na plataforma MedRxiv. Segundo o professor André Vale, a publicação é mais do que um artigo científico: “É um alerta de que não é preciso importar e gastar tanto dinheiro do contribuinte, sabe porquê? Porque temos universidade pública fazendo trabalho interdisciplinar”.
O projeto contou com a participação de pesquisadores da Coppe, do Instituto de Biofísica, do Instituto de Biologia e da Faculdade de Medicina da UFRJ. Em breve, os exames começarão a ser aplicados na Cidade Universitária e depois poderão ser ampliados para a população em geral.
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