Coppe, Shell e Petrobras inauguram laboratório para recuperação avançada no pré-sal
Planeta COPPE / Engenharia Civil / Notícias
Data: 03/12/2018
A Coppe/UFRJ inaugurou nesta quinta-feira, 29 de novembro, o Laboratório de Recuperação Avançada de Petróleo (LRAP). Com investimento de 117 milhões de reais da Shell Brasil e da Petrobras, o laboratório está capacitado para produzir tecnologia que permitirá ao país expandir a fronteira de produção de petróleo, extraindo mais recursos das reservas já exploradas e das que ainda entrarão em operação. A Shell Brasil investiu R$ 107 milhões e a Petrobras R$ 10 milhões neste projeto que faz parte do compromisso de investimentos com P&D, gerenciado pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
No novo laboratório serão realizadas pesquisas cujo objetivo é investigar e desenvolver técnicas de recuperação avançada aplicáveis a rochas carbonáticas do pré-sal brasileiro. Trata-se de uma nova área de pesquisa, cujos resultados poderão representar bilhões de dólares em royalties e novos investimentos no Brasil.
De acordo com dados da ANP, o fator de recuperação de óleo no Brasil é de 21%. Segundo o professor do Programa de Engenharia Civil da Coppe, Paulo Couto, coordenador do LRAP, um aumento de apenas 1% na taxa de recuperação das rochas brasileiras poderá representar 11 bilhões de dólares em royalties, gerando um incremento das reservas brasileiras em 22 bilhões de barris, e novos investimentos da ordem de 16 bilhões de dólares.
A cerimônia contou com a presença (na foto, da esquerda para a direita) do presidente da Shell Brasil, André Araújo; do diretor da ANP, Felipe Kury; do decano do Cento de Tecnologia (CT), professor Walter Suemitsu; do Pró-Reitor de Planejamento, Desenvolvimento e Finanças, Roberto Gambine; do diretor da Coppe, professor Edson Watanabe; do gerente-executivo do Centro de Pesquisas da Petrobras (Cenpes), Orlando Ribeiro.
O laboratório foi apresentado pelo coordenador do LRAP, professor Paulo Couto. Também participaram das apresentações técnicas a líder do Programa de P&D da Shell Brasil, Frances Abbots; o superintendente de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnologia da ANP, Alfredo Renault; a gerente de P&D da Shell Brasil, Jane Zhang ; o gerente de Tecnologia de Hidrocarbonetos da Shell, Martin Kraajiveld; o gerente-executivo de Reservatórios da Petrobras, Cláudio Ziglio; e o professor da Universidade de Heriot-Watt, Mehran Sohrabi .
Centro de excelência mundial na recuperação de poços carbonáticos
De acordo com o professor Paulo Couto, os equipamentos adquiridos para o laboratório são capazes de operar quaisquer fluidos dos reservatórios localizados em grandes profundidades, sob 700 vezes a pressão atmosférica e até 150º C. “Temos um equipamento único no mundo, uma estufa de escoamento em meios porosos, equipada com scanner de raios-x, que permitirá fazer imagens dinâmicas em alta pressão e alta temperatura do escoamento de petróleo em rochas carbonáticas. Um dado único no mundo, que não existe na literatura, e a Coppe/UFRJ e a Universidade Heriot-Watt despontam como pioneiras neste campo”.
“Contudo, equipamentos de nada servem sem pessoas qualificadas para operá-los. Neste sentido, a colaboração com Universidade Heriot-Watt, iniciada em 2013, foi imprescindível para a formação de recursos humanos. A partir do Centro de Recuperação Avançada de Soluções em CO2, a equipe do LRAP foi treinada na Escócia. A universidade ainda enviou técnicos ao Brasil que nos auxiliaram com os novos equipamentos in loco”, reconhece o professor.
Na avaliação do presidente da Shell Brasil, André Araújo, o desenvolvimento de tecnologia é o caminho do futuro, por isso a multinacional investe, anualmente, um bilhão de dólares em pesquisa e desenvolvimento. “A cláusula de P&D faz parte das nossas obrigações com a ANP, mas não temos qualquer problema com isso. Consideramos importante que parte do benefício das riquezas brasileiras seja investida no Brasil, em pesquisas feitas por brasileiros. Está no DNA desta empresa que já tem 105 anos de Brasil”, destaca.
Segundo a gerente de Tecnologia em Reservatórios Carbonáticos da Shell Brasil, Frances Abbots, a recuperação de reservatórios nos campos do pré-sal serão um enorme desafio. “São os mais interessantes e talvez mais difíceis poços de petróleo do mundo. Mas temos os equipamentos necessários e pessoas talentosas. Queremos que o LRAP se torne um centro de excelência mundial na recuperação de poços carbonáticos. E o mais importante para nós é que podermos ajudar no desenvolvimento do talento jovem brasileiro”, enalteceu em ótimo português a geóloga inglesa.
Segundo o gerente-executivo de Reservatórios, da Petrobras, Cláudio Ziglio, ampliar o fator de recuperação é uma atividade crucial para a indústria de petróleo, pois o processo de produção é caro, sobretudo em alto-mar. “O desafio é produzir aquele petróleo difícil, viscoso ou muito pesado, e para isso precisamos de muita pesquisa. Essa parceria será crucial para isso. Há uma curva de aprendizado muito grande pela frente. Cada ponto percentual que conseguirmos será trabalhoso, mas valerá a pena”.
“Eu me sinto orgulhoso por esse laboratório ser fruto do esforço conjunto da academia e da indústria. Ele vai propiciar a formação de uma nova geração de engenheiros. Os alunos poderão trabalhar com soluções reais para problemas do dia a dia da indústria do petróleo, e tudo o que desejo é que venham trabalhar com a gente”, torce Ziglio.
Investimentos de vulto no horizonte do país
Para o superintendente de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnologia da ANP, Alfredo Renault, a inauguração do LRAP é uma evidência de que o Brasil começa a colher frutos da ideia de que as empresas multinacionais deveriam ter compromisso com os projetos de P&D do país. “Parece que isso começa a se consolidar. O efeito dessa cláusula de obrigatoriedade está se espalhando, além do belíssimo trabalho feito pela Petrobras”, avalia Renault. Em sua opinião, o formato interdisciplinar e pluri-institucional da parceria serve de exemplo para que surjam novas iniciativas de sucesso. “Tenho conversado muito com o professor Watanabe sobre formas de alavancar a inovação. Um dos caminhos que vislumbramos é apostar em projetos tripartite universidade/fornecedor/operador”.
“Estamos vivendo um momento mágico, de quase alinhamento cósmico, no qual as empresas, ANP e universidade estão com a mesma preocupação: gerar inovação. Aplicar tecnologia gerada nos laboratórios e levar esses resultados a campo com a maior celeridade possível. E incentivar a criação de empresas de base tecnológica, startups”, avalia Orlando Ribeiro, gerente-executivo do Centro de Pesquisas da Petrobras (Cenpes).
O diretor da ANP, Felipe Kury, mostrou-se entusiasmado com a inauguração do laboratório e também com as perspectivas para o setor de óleo e gás. “Devemos fazer ano que vem a rodada excedente da cessão onerosa. Todos estão ansiosos para que isso aconteça para continuar o calendário de rodadas no pré-sal e áreas de concessão. O contexto se faz muito favorável para que o investimento em pesquisa e inovação se materialize. As empresas estão conseguindo maximizar o seu retorno e o fator de recuperação é muito importante. Um por cento de recuperação já pode gerar investimentos de 18 bilhões de dólares. Na Bacia de Campos, 1% pode adicionar um bilhão de barris em reservas”, explica Kury.
Universidade pública, gratuita, de qualidade e para todos
Representando a Reitoria, o pró-reitor Roberto Gambine elogiou a iniciativa e aproveitou o momento para fazer uma defesa emocionada da universidade pública, que vem sendo desqualificada em um contexto no qual a ignorância de seu significado histórico e importância social lhe faz alvo de preconceito ideológico crescente. “Foi nesta instituição, a Coppe, que foi possível constituir o conhecimento necessário para a exploração do petróleo em águas profundas. Foi nos laboratórios do CCS que foi estabelecida a relação entre a Chikungunya e a microcefalia, e aqui neste momento inauguramos o LRAP. Por isso, aproveito este momento para repelir com veemência este preconceito que considero medieval contra a UFRJ, as universidades públicas e nossos professores. A nossa doutrina é a melhor formação de alunos e a geração de conhecimento. E fazemos isso em condições muito difíceis”, criticou Gambine.
“Quando jovens de qualquer município, de qualquer região do país, são aprovados pelo sistema de seleção unificada, não pensam duas vezes. Pegam suas mochilas, se despedem das famílias e vêm para o Rio de Janeiro. E às vezes perdemos esses jovens por não termos os recursos mínimos para garantir a permanência deles. Esses alunos são exceção no cenário de desgraça social a que muitos são submetidos, e que com muita dificuldade alcançam a universidade pública. São mentes brilhantes e quadros para o futuro que podem ser desprezados porque não podemos garantir alojamento e alimentação. Convido para que saiamos daqui com esse compromisso, de defender a universidade pública gratuita, de qualidade e para todos”, defendeu o pró-reitor.
Um sonho compartilhado
Segundo o professor Paulo Couto, os planos para o laboratório começaram a ser delineados há cinco anos, e nasceram da necessidade de gerar métodos que pudessem melhorar a produtividade dos poços brasileiros, principalmente visando às reservas do pré-sal. “No final de 2012, começamos a discutir o projeto com a indústria, mais especificamente a BG. Em 2013, com apoio fundamental da ANP, esse projeto foi aprovado e teve início em janeiro de 2014. Em 2016, a Shell adquiriu a BG e, desde então, tem dado apoio incondicional.”, relata. O potencial de crescimento do laboratório logo agregou outro parceiro, assim, em 2016, foi celebrado um novo projeto entre a Petrobras e a Coppe, complementando a capacitação do LRAP em petrofísica.
“No começo, éramos apenas quatro: eu, Santiago Drexler, Thiago Saraiva e Thais Silveira. Hoje, somos mais de 50 pessoas. Somos engenheiros civis, engenheiros mecânicos, engenheiros químicos, químicos, geólogos, físicos e geofísicos. Uma equipe verdadeiramente interdisciplinar trabalhando sob rígidas regras de segurança, meio-ambiente e saúde”, orgulha–se o coordenador.
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