Depósitos de lixo podem estar contaminando solos e rios no interior do Estado do Rio
Planeta COPPE / Engenharia Civil / Notícias
Data: 29/04/2002
“Os aterros localizados no interior do Estado do Rio de Janeiro são verdadeiros lixões que provocam danos ao meio ambiente e risco à saúde pública”. Com esta frase a engenheira Flávia Faria resume a conclusão da tese de mestrado que defendeu em março deste ano no Programa de Engenharia Civil da COPPE, sob orientação do Prof. Claudio Mahler. Para realizar sua pesquisa, Flávia avaliou 16 depósitos de resíduos sólidos urbanos no estado do Rio, dos quais 15 estão situados na bacia do rio Paraíba do Sul e um em Macaé. Dos depósitos visitados, na opinião da pesquisadora, apenas dois podem ser definidos como aterros sanitários. “Os outros 14 são lixões que funcionam de forma precária e surgiram espontaneamente, sem o menor planejamento”, afirma Flávia. A pesquisadora alerta ainda para a necessidade de se avaliar de forma aprofundada o nível de contaminação do solo e do lençol freático nessas regiões. “Tudo leva a crer que essa contaminação já esteja ocorrendo em vários desses locais atingindo, inclusive, o rio Paraíba do Sul, que é a mais importante fonte de abastecimento do estado”, adverte. Flávia visitou os aterros de resíduos sólidos dos municípios de Macaé, Barra do Piraí, Barra Mansa, Cantagalo, Cordeiro, Itatiaia, Mendes, Nova Friburgo, Petrópolis, Piraí, Quatis, Resende, Teresópolis, Valença, Vassouras e Volta Redonda.
Embora a cidade de Niterói não tenha sido objeto desta tese, Flávia resolveu conferir a situação do depósito da cidade em que mora. “Ë um verdadeiro lixão. Tudo está errado”, revela a pesquisadora. Segundo ela, o depósito de Niterói recebe 600 toneladas de lixo por dia e já alcançou 120 m de altura. “É chocante ver o exército de catadores que se embrenha neste lixo, cercado pela comunidade do Morro do Céu. Nele as crianças brincam e os bichos são criados”, lamenta. “Casos como esse revelam a premência de implementação de um plano de gerenciamento integrado de resíduos sólidos no estado”, afirma.
Piraí, um aterro modelo
Há quatro anos, o aterro sanitário de Piraí sofreu uma intervenção do Ministério Público. Desde então, a prefeitura assinou um convênio com a UERJ, dando origem a um trabalho de gerenciamento que incluiu a escolha de um local apropriado, o planejamento da disposição de resíduos e a monitoração do funcionamento deste aterro. “Este trabalho transformou um lixão em aterro modelo de eficiência no estado”, ressalta Fávia.
Um aterro planejado deve seguir alguns critérios de engenharia, entre os principais a impermeabilização da base do aterro – para proteger o solo e o lençol freático; a compactação diária do lixo no local de disposição; a coleta e tratamento do chorume oriundo e gases decorrentes da decomposição da matéria orgânica e monitoramento do sistema, entre outros itens básicos.
Mas um aterro planejado também pode sofrer imprevistos. Este é o caso do aterro do município de Macaé, que terá sua vida útil abreviada. Projetado para atender as necessidades do município até 2006, sua capacidade limite será atingida em dezembro deste ano, ou seja, quatro anos antes do previsto. As autoridades do município alegam que o rápido crescimento econômico da cidade, alavancado pelo boom da indústria petrolífera na região, foi o principal motivo do abreviamento da vida útil do depósito.
Novo Índice de Avaliação
Para avaliar o funcionamento dos depósitos de lixo, Flávia desenvolveu o “Índice de Qualidade de Aterros de Resíduos Urbanos” (IQA), baseado no sistema utilizado pela Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB), em São Paulo, para avaliar a eficiência dos aterros sanitários. O modelo classifica as áreas de disposição final em três condições: inadequadas, controladas e adequadas, conforme a pontuação alcançada dentro de um limite de 0 a 10 pontos. Com pontuação abaixo de 6 a área é considerada inadequada, de 6 a 8 controlada e apenas acima de 8 é credenciada como adequada.
Para desenvolver o IQA Flávia também pesquisou sistemas semelhantes utilizados nos Estados Unidos e na Europa para monitorar aterros sanitários ativos. Com o grau de aprofundamento utilizado no modelo desenvolvido na COPPE, a pesquisadora só encontrou um sistema semelhante na Alemanha, utilizado no monitoramento de aterros desativados. Segundo Flávia, a exemplo da Alemanha, todo aterro desativado deveria ser monitorado durante um período mínimo de 30 anos para atestar que não representa nenhum risco para o meio ambiente ou comunidades vizinhas.
Confira abaixo as notas que a pesquisadora aferiu aos depósitos visitados utilizando o IQA:
Depósito – Nota – Condição
Barra do Piraí – 0,86 – Inadequado
Barra Mansa – 1,43 – Inadequado
Cantagalo – 1,79 – Inadequado
Cordeiro – 1,14 – Inadequado
Itatiaia – 1,60 – Inadequado
Macaé – 8,29 – Adequado
Mendes – 2,29 – Inadequado
Nova Friburgo – 5,29 – Inadequado
Petrópolis – 4,07 – Inadequado
Piraí – 8,71 – Adequado
Quatis – 2,00 – Inadequado
Resende – 5.07 – Inadequado
Teresópolis – 0,71 – Inadequado
Valença – 1,43 – Inadequado
Vassouras – 1,14 – Inadequado
Volta Redonda – 1,64 – Inadequado