Em evento no Coppe-I, Celso Pansera defende parceria entre universidade e capital privado

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Data: 22/03/2023

Professor Améziane Aoussat, professora Amanda Xavier (traduzindo para o francês) e o ex-ministro Celso Pansera. Foto: Clara Santiago – Prop-ME/Coppe

Em visita ao Ecossistema de Inovação da Coppe/UFRJ, o ex-ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação e futuro presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Celso Pansera, defendeu a parceria da iniciativa privada com as universidades públicas, o uso do poder de compra do Estado para o fomento à inovação e a destinação de parte do Fundo Social do Pré-Sal para a Ciência e a Tecnologia.

Pansera participou do evento Novas perspectivas em pesquisa, inovação e tecnologias emergentes, promovido pelo Programa de Engenharia de Produção e pelo Ecossistema de Inovação (Coppe-I). Também estiveram presentes o diretor do Laboratório de Concepção de Produtos e Inovação (LCPI) da Arts et Métiers Paristech, professor Améziane Aoussat; o coordenador de Projetos Tecnológicos do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA) e professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio), Jorge Lopes; e as professoras do Programa de Engenharia de Produção (PEP) Amanda Xavier (mediadora do evento) e Carla Cipolla.

No entendimento de Celso Pansera, há uma questão fundamental e que não foi digerida ainda no ambiente das universidades públicas, que são responsáveis por 85% ou 90% da produção intelectual: “Existe uma dificuldade em aceitar a participação da iniciativa privada, de aceitar a ideia do lucro. De aceitar que conhecimento é lucro, é ganho, é riqueza, e que isso que vocês produzem aqui dentro tem que se transformar em bens e serviços em benefício da população que financia por meio do pagamento de impostos o funcionamento das universidades. A relação da instituição pública de ensino com o capital privado é boa, necessária e fundamental”.

Segundo o presidente da Finep, o Brasil investe somente 1,2% de seu Produto Interno Bruto (PIB) em pesquisa e desenvolvimento. “Isso é muito pouco. O nosso objetivo é chegar em 2%. A China investe 2,5%, os Estados Unidos investem 3% e Israel, 4%. Uma das coisas que tenho defendido para que o setor possa dar um salto são as compras públicas para inovação. O Estado usar o seu poder de compra para financiar a inovação. Nas grandes economias, o principal cliente é o poder público. Finlândia e Holanda compram cerca de 20% de seus PIBs. Nos EUA, o que financia a indústria farmacêutica é a necessidade de o Estado comprar remédios. A vacina da AstraZeneca foi desenvolvida em Oxford e trazida ao Brasil em uma parceria com a Fiocruz”.

“Eu conversei com (o prefeito) Eduardo Paes para que o Maglev-Cobra saia daqui e vá substituir os BRTs no Rio de Janeiro. Estamos testando em Maricá os ônibus daqui para pegar a melhor tecnologia e substituir a nossa frota de ônibus. Em vez de comprar ônibus chineses, vamos comprar tecnologia daqui e gerar um ecossistema de inovação”, contou o ex-ministro, que à época, presidia o Instituto de Ciência, Tecnologia e Inovação de Maricá (ICTIM).

Outra forma de ampliar o financiamento da C&T, segundo Pansera, é mediante a destinação de recursos do Fundo Social do Pré-Sal. “De 2022 a 2031, a cadeia de valor da indústria petrolífera deve gerar 1,25 trilhão de dólares e o Fundo Social deve arrecadar 117 bilhões de dólares no período. Deste montante, 50% vai para Educação, 12,5% para a Saúde. Nós estamos propondo destinar 25% para C&T”.

De acordo com Pansera, o Brasil tem legislação de referência na área de inovação, mas que ainda é recente. “Lei de Inovação, Lei do Bem, Lei de Biossegurança, Código Nacional da Ciência e Tecnologia. É tudo muito novo no Brasil e o país não experimentou a fundo ainda essa legislação. Houve um conjunto de avanços legais que precisa se refletir em bem-estar para a sociedade, estar a serviço do combate à fome, à pobreza, à desigualdade social”.

Celso Pansera listou ainda conquistas do novo governo nos primeiros meses, como a recomposição orçamentárias das instituições federais de ensino (IFES), o reajuste de 40% nas bolsas da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a liberação de 4,2 bilhões de reais em recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT).

Parceria forte com a indústria para superar desafios

Carla Cipolla (Coppe), Améziane (Arts et Métiers), Amanda Xavier (Coppe) e Jorge Lopes (PUC-Rio e IMPA). Foto: Clara Santiago – Prop-ME/Coppe

O professor Améziane Aoussat fez uma apresentação do Arts et Métiers Paristech, instituição na qual leciona. Criado em 1780, com o compromisso de enfrentar os desafios tecnológicos da indústria, o Arts et Métiers é considerada a melhor instituição de ensino de pós-graduação em Engenharia Mecânica da França e conta com 6.300 alunos em oito campi. A instituição mantém ainda uma associação de ex-alunos, a Société des ingénieurs Arts et Métiers (Soce), com mais de 34 mil associados em todo mundo.

Coordenador do Laboratoire Conception de Produits et Innovation (LCPI), Aoussat discorreu sobre as atividades de seu laboratório, vocacionado para a otimização do design e do processo de inovação. O LCPI reúne uma equipe multidisciplinar que congrega também ciências humanas e sociais, reunindo cinco competências principais: prototipagem para realidade virtual de fabricação rápida; Engenharia Kansei e concepção ecológica; ciclo de vida do produto; inovação prospectiva e análise de uso. “Nossas atividades de pesquisa se beneficiam de ancoragem acadêmica e parceria industrial forte, o que constitui, para nós, um vetor importante de modernidade e competitividade”, explicou Aoussat.

A professora Carla Cipolla, da Coppe, e o professor Jorge Lopes, da PUC-Rio e IMPA, apresentaram as atividades coordenadas por ambos em seus respectivos grupos de pesquisa e debateram com Aoussat. Carla contou que conhecia, da época de estudante, os produtos e apresentações da Arts et Métiers e que sonhava trazer para o Brasil o que estava nas novas fronteiras de tecnologia, arte e design. “Eu penso se entrar nessa competição deve ser uma inspiração para nós, como país, ou devemos buscar um caminho diferente? O uso de Inteligência Artificial nos serviços médicos, por exemplo, seria para todos ou agravaria a desigualdade social?”, questionou a professora do Programa de Engenharia de Produção.

O professor Jorge Lopes ressaltou algumas dificuldades no trabalho de pesquisa com realidades estendidas, realidade aumentada, bioprinting. “Temos tido alguns problemas interessantes com dados. Pesquisadores sempre me pedem para comprar mais capacidade de armazenamento para os computadores, mais espaço em nuvem. Ferramentas de Inteligência Artificial impactam muito em serviços médicos e em design de produto também. Algumas vezes falta o hardware para dar vazão às ideias que surgem e essas ideias vêm justamente pelo avanço do hardware. É um paradoxo que surge”, avaliou.

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