Emoção marca cerimônia de formatura da primeira turma de alfabetização de funcionários da COPPE
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Data: 16/01/2006
“Se hoje a minha mulher estiver no norte e eu quiser mandar uma carta para ela, com certeza não vou precisar pedir pra ninguém escrever para mim!” Foi desta forma que João Eugênio Correia de Melo, há onze anos funcionário de serviços gerais da COPPE, expressou sua satisfação por aprender a ler. Ele é um dos 12 formandos da primeira turma do projeto “COPPE Alfabetização de jovens e adultos”. A cerimônia, realizada em dezembro no auditório da instituição, foi definida pela diretora da COPPE, professora Angela Uller, “como o evento mais emocionante” do qual participou nos últimos anos. Em seu discurso, a diretora incentivou os formandos ao relatar a trajetória de um colega que aprendeu a ler com mais de 20 anos. No período em que ela cursava o mestrado, ele estava concluindo o doutorado na COPPE. “Com dedicação, ele chegou à pós-graduação”, afirmou.
A cerimônia contou com a presença do Superintendente Geral de Pessoal da UFRJ, Roberto Gambini, a presidente da ONG Alfalit no Rio de Janeiro, parceira da instituição no projeto de alfabetização, Maxiene Ferreira, o gerente geral de infra-estrutura da COPPE, Manuel Babucar Sisse, e a funcionária da COPPE, Maria de Fátima Bacelar da Silva, professora da turma. “As aulas e a própria apostila da Alfalit, baseada em Paulo Freire, busca aliar a alfabetização com o resgate da cidadania” – explica Maria de Fátima.
O relato da formanda Gilmara Correia de Oliveira, 32 anos, revela o quanto é difícil exercer a cidadania, ou mesmo fazer as coisas mais simples, sem saber ler e escrever. “Eu tinha medo de fazer compras no mercado. Como não sabia fazer as contas direito, suava frio na hora de passar no caixa. Achava sempre que não teria dinheiro suficiente para pagar as compras. Também tinha dificuldade em pegar ônibus. Perdi muito emprego no centro da cidade por não saber pegar o ônibus certo e ter vergonha de perguntar” – afirma. Mas Gilmara sempre quis estudar, embora tenha sido impedida pelas circunstâncias. Mãe de seis filhos e com o sétimo a caminho, teve dificuldades em conciliar a escola com os compromissos domésticos. Mas agora não pretende mais parar. “Os meus filhos e o meu marido me incentivaram muito. Minha filha de nove anos me ajudou com os deveres. Hoje, sou eu que a ajudo” – orgulha-se.
O curso de alfabetização começou com um convite feito pela Assessora de Desenvolvimento Social da COPPE, Íris Guardatti, a Maria de Fátima Bacelar da Silva, secretária do setor de Programação Visual da instituição. Formada em pedagogia, Fátima já havia trabalhado voluntariamente com alfabetização de adultos em comunidades carentes, na Ilha do Governador.
Dos 12 alunos formados, quatro eram analfabetos totais e oito funcionais. As aulas passaram a acontecer na chamada “igrejinha”, uma sala no subsolo do bloco G, até então usada unicamente para os cultos religiosos de alguns funcionários, que a cederam. O primeiro desafio da professora Fátima foi convencer os funcionários da importância de aprender a ler, mesmo depois de adultos. Esta falta de motivação foi relatada por seu João, que contou ter sido estimulado a estudar desde o início de suas atividades na COPPE por seu chefe imediato e gerente geral de infra-estrutura, o guineense naturalizado brasileiro Manuel Babucar Sisse. Quando entrou na COPPE, seu João, que foi o orador da turma, disse a Babucar que começaria a estudar “no ano que vem”. Cumpriu a promessa em 2005, onze anos depois.
Querer aprender é fundamental, mas nem sempre é suficiente. Segundo os próprios alunos, esta foi uma oportunidade única. Todos os dias os funcionários eram liberados de seus afazeres, às 15 h, para freqüentarem duas horas de aulas ministradas pela professora Fátima.