Erradicação da pobreza e controle de enchentes
Planeta COPPE / Engenharia Civil / Engenharia Química / Notícias
Data: 17/06/2012
A experiência bem sucedida da Coppe/UFRJ com o controle das enchentes na Baixada Fluminense poderá ser repetida no Espírito Santo. O governo capixaba está interessado no modelo do Projeto Iguaçu, uma cooperação entre a Coppe e o Governo do Estado do Rio que visa o controle de inundações e recuperação ambiental das bacias dos rios Iguaçu, Botas e Sarapuí. A intenção é usar a metodologia em Vitória, em áreas onde há risco de enchente. O anúncio foi feito pelo coordenador do Laboratório de Hidrologia da Coppe, Paulo Canedo, durante o painel Água de mais, água de menos, no segundo dia (14/6) da Conferência Futuro Sustentável – Tecnologia e inovação para uma economia verde e a erradicação da pobreza, promovida pela Coppe em seu auditório.
Uma enchente que matou milhares de pessoas e disseminou a leptospirose na Baixada em 1988, foi, segundo Canedo, a grande motivação para a implantação do projeto Iguaçu na região. “Quando chegamos à Baixada, encontramos uma região empobrecida. O que as famílias conseguiam, perdiam com as inundações. O gravíssimo problema social foi a nossa inspiração. Precisávamos criar algo para quebrar o ciclo das tragédias e do empobrecimento. A proposta é utilizar no Espírito Santo a mesma metodologia bem sucedida aplicada no Rio de Janeiro”, ressaltou o professor.
O Projeto Iguaçu, considerado pelo governo federal como a melhor iniciativa já apresentada ao Ministério das Cidades, se beneficia de uma inovadora tecnologia desenvolvida no Laboratório de Recursos Hídricos da Coppe/UFRJ, que simula com dados precisos o fluxo das águas quando os rios transbordam. Ao contrário dos modelos convencionais ainda usados no exterior, que tratam a área de inundação como uma simples bacia de acumulação (a água transborda, acumula-se e depois volta ao leito do rio), a ferramenta da Coppe vê essa área como uma bacia de fluxo dinâmico, exatamente como acontece na realidade. Assim, espera-se que as soluções já criadas sejam mais duradouras e eficientes, economizando recursos.
Os primeiros resultados do projeto já são visíveis para quem percorre os bairros mais carentes da região. Como não ocorreram enchentes nos últimos verões, graças à drenagem emergencial dos rios principais, os moradores já recuperaram sua capacidade de poupança e começam a investir em benfeitorias nas casas e em pequenos negócios, como bares e mercadinhos. Após a implantação do projeto ocorreu na região o que o professor Canedo chama de fenômeno do Tijolo vermelho. “A medida em que as pessoas recuperaram suas economias elas começaram a reformar as suas casas. Os tijolos vermelhos, ou novos, começaram a surgir, num sinal de renovação”, observou Canedo.
O projeto Iguaçu abrangendo uma área de 726 quilômetros quadrados, onde vivem 2,5 milhões de pessoas em seis municípios – Nova Iguaçu, Mesquita, Belford Roxo, Nilópolis, São João de Meriti e Duque de Caxias.
Especialistas fazem alerta
O painel Água de mais, água de menos contou ainda com a participação dos professores da Coppe Márcia de Carvalho Dezotti, coordenadora do Laboratório de Controle da Poluição das Águas do Programa de Engenharia Química, e Willy Alvarenga Lacerda, do Programa de Engenharia Civil, além do diretor do Projeto Rio Voadores, Gérard Moss.
O Professor do Programa de Engenharia Civil da Coppe/UFRJ, Willy Alvarenga Lacerda mostrou alguns fatores que contribuem para os deslizamentos de terra, as ressacas e as inundações, a exemplo do que ocorreu na Região Serrana do Rio no ano passado.
Um dos alertas feito pelo professor foi sobre a construção de pontes. Segundo ele, o Departamento Nacional de Estradas de Rodagens precisa rever os projetos arquitetônicos para a construção dessas edificações.
“As construções não levam em conta eventos anormais como os deslizamentos, enchentes e ressacas que são mais comuns e mais intensas atualmente. O parâmetro de chuva no qual as obras estão baseadas é de 1940, por isso é preciso rever tudo”, ressaltou Willy.
Outro alerta veio professora Márcia Dezotti. Especialista na área de controle de poluição das águas, Márcia afirmou que as estações de tratamento de esgoto e de captação de água também precisam ser revistos.
“As estações não estão preparadas para retirar do esgoto a infinidade de substâncias químicas que temos hoje. No Brasil, o esgoto ainda é pouco coletado e pouco tratado. E se captamos água dos rios, o sistema de captação também precisa ser diferenciado. Avançamos nas tecnologias, mas estamos atrasados em questões básicas “, afirmou a professora.
Representante do Projeto Rio Voadores, Gérard Moss destacou a importância da Floresta Amazônica para o Brasil e o Planeta. Em sua apresentação, Moss afirmou que uma única árvore de 10 metros de copa plantada na região tem capacidade de jogar 300 litros de água por dia na atmosfera.
“A Amazonia não é a única floresta capaz de fornecer água para a atmosfera, mas é a única que está ameaçada. Precisamos atentar para isso”, afirmou o especialista, destacando que o objetivo do Projeto Rio Voadores é identificar a origem das partículas de água que se acumulam na atmosfera.
Debate sobre erradicação da pobreza questiona modelo de desenvolvimento
Ao lembrarem que os pobres e os grupos étnicos são os que sofrem os maiores impactos ambientais, os debatedores do painel Erradicação da Pobreza, defenderam um modelo de desenvolvimento mais sustentável e humano. O professor Sidney Lianza, coordenador de Extensão do Centro de Tecnologia da UFRJ, destacou que a discussão sobre a pobreza dominará os embates entre a Cúpula dos Povos e os representantes dos governos na Rio+20: “É preciso aprofundar a discussão, não se pode apenas passar uma tinta verde na economia. O capitalismo produziu um mundo insustentável.”
O presidente da Rede Nacional de Mobilização Social, André Spitz, disse que os pobres estão mais expostos aos eventos climáticos extremos, em todo o mundo, e que é preciso encontrar soluções. “No Brasil, 40 milhões de pessoas saíram da linha de pobreza, nas últimas décadas, mas continuam vulneráveis. Não podemos deixar que elas voltem à condição anterior, ao mesmo tempo que ainda temos que tirar outras 36 milhões que vivem abaixo dessa linha. Hoje, 50% dos indígenas estão nessa situação”, ressaltou Sptiz, que coordena o Laboratório Herbert de Souza de Tecnologias Sociais, da Coppe. Durante a Rio+20, a Rede e a universidade lançarão um banco de dados para ajudar populações mais pobres a se protegerem das mudanças do clima.
“O desafio é sair do discurso. O capitalismo tornou a natureza um recurso com o objetivo do lucro rápido, impactando tudo. A natureza é finita, a força de trabalho não. Mas não se pode reduzir o problema ao âmbito econômico”, disse Ana Fani Carlo, professora titular do Departamento de Geografia da USP. Mediadora da mesa, a geógrafa lembrou que a erradicação da pobreza já era um dos temas da Rio 92 e continuará na pauta por muitos anos.
Para Gonçalo Guimarães, coordenador da Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da Coppe, é preciso repensar o padrão de consumo. Gonçalo, que desenvolve projeto social de reciclagem de lixo eletrônico, criticou a cultura do descartável. “A lógica dominante é do descarte. Também é preciso valorizar as cooperativas de reciclagem, mudar a visão de que a doação de recicláveis é um favor aos recicladores.”