Especialistas apontam ações para Baixada e Zona Costeira
Planeta COPPE / Engenharia Oceânica / Notícias
Data: 14/12/2009
As recentes imagens dramáticas de enchentes que destruíram centenas de casas na Baixada Fluminense, região localizada no Estado do Rio de Janeiro, são um exemplo concreto das possíveis consequências dos fenômenos meteorológicos extremos previstos nos cenários de clima.
A Baixada é uma área de 1.100 quilômetros quadrados permeada por rios, canais e afluentes que deságuam num único ponto da Baía de Guanabara e que inclui alguns dos municípios mais populosos e pobres do estado.
A região é vulnerável tanto às chuvas cada vez mais intensas quanto a um possível aumento do nível do mar. Só na área do rio Sarapuí, um dos vários que deságuam na Baía de Guanabara, vive uma população pobre de 1,5 milhão de pessoas. A elevação do nível do mar poderá ter um efeito perverso duplo sobre essas áreas. Ao mesmo tempo em que o escoamento de águas pluviais fica mais difícil por causa da elevação do nível do mar e das chamadas marés meteorológicas, aumentando o risco de enchentes, a intrusão salina avança para o interior, dificultando a captação de água doce para a agricultura e provocando a salinização de alguns lençóis freáticos, com alterações na fertilidade e na vegetação.
“A população carente será a maior vítima das mudanças climáticas”, explica o professor Paulo Canedo, do Laboratório de Hidrologia da Coppe/UFRJ. Canedo gerenciou, de 1991 a 1996, um projeto de US$ 10 milhões, financiado pelo Banco Mundial, considerado a maior obra de contenção de cheia urbana, na região da cabeceira dos rios Sarapuí e Pavuna. Hoje, ele trabalha em cooperação com a Secretaria do Ambiente do Estado do Rio de Janeiro no sentido de mapear e recuperar áreas de conservação, corredores ecológicos e de reflorestamento, a fim de formar uma espécie de “colchão” para eventuais cheias.
Faz parte ainda da proposta um redesenho dos eixos rodoviários, com uma nova estrada ao longo de 12 quilômetros do rio Sarapuí, acompanhada de obras de contenção no rio e novas oportunidades de emprego e renda em uma área depauperada onde moram 3 mil famílias. A obra faz parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e está orçada em R$ 1,2 bilhão. Saiba mais sobre o projeto.
Numa outra região menos populosa do Estado do Rio de Janeiro, porém importante do ponto de vista da agricultura e da indústria, o Norte Fluminense, o projeto Campos dos Goytacazes – feito pelo Laboratório de Hidrologia da Coppe em parceria com o governo federal – prevê a construção de canais interligando o rio Paraíba do Sul, a Lagoa Feia e o mar, para evitar as enchentes que periodicamente afetam vastas áreas, prejudicando plantações e matando o gado. A obra já começou, com a abertura do Canal das Flechas, cujo objetivo é ligar a Lagoa Feia ao mar.
Zona costeira do Rio: adaptações necessárias
“A questão de aquecimento global é como a do saneamento básico: todos sabem que há muito que fazer, mas protelam as decisões importantes e a ação concreta”, comenta o professor Paulo Rosman, do Programa de Engenharia Oceânica da Coppe, autor do Estudo de Diagnóstico de Vulnerabilidade da Zona Costeira (do Estado do Rio de Janeiro). Para ele, o grande problema é a incompatibilidade dos períodos legislativos (geralmente, de quatro anos) com os prazos longos demandados pelas ações de mitigação dos efeitos das mudanças climáticas.
As medidas de adaptação para proteger as zonas mais afetadas pela elevação do nível do mar no litoral (o Estado do Rio de Janeiro tem uma costa de 635 quilômetros de extensão) são totalmente factíveis do ponto de vista tecnológico e financeiro – sejam elas o “engordamento” das praias (como realizado em Copacabana), a segmentação em várias enseadas (solução ideal para a praia da Barra da Tijuca) ou diques de contenção em locais intensamente construídos. Segundo Rosman, a engenharia costeira já conhece as soluções para os impactos na região litorânea, e elas não são caras. O problema é o ônus da decisão política de intervenção.
O diagnóstico do litoral é uma importante ferramenta para fazer face aos impactos decorrentes da conjugação de três fatores: a elevação lenta e gradual, porém permanente, do nível médio do mar; os eventos meteorológicos severos, como secas prolongadas e chuvas mais intensas; além da mudança nos padrões de circulação atmosférica, com alteração no regime das ondas.
“Nada protege o litoral de maneira mais eficiente do que a praia. Ela amortece as ondas, organiza a sedimentação e funciona como fator de dispersão de energia” diz Rosman. “O problema da crescente urbanização é que os calçamentos, as ruas e as avenidas geralmente ocupam o primeiro cordão de dunas, deixando pouco espaço para que a natureza se acomode.”
A Baixada Fluminense e as praias são apenas dois exemplos de áreas afetadas por problemas decorrentes do aquecimento global e suas possíveis soluções. Os resultados obtidos em Copenhague dirão se os líderes mundiais estão dispostos a pagar hoje o preço para evitar catástrofes futuras há muito anunciadas.
Texto: Kristina Michahelles (jornalista colaboradora)