Estudo aponta desperdícios no transporte de cargas no RJ

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Data: 12/09/2014

Reduzir a sobreposição de rotas e solucionar o problema da falta de padronização e de comunicação entre transportadoras e estabelecimentos estão entre os principais desafios do transporte de cargas na cidade do Rio de Janeiro. Um município onde há, em média, 43 veículos de carga para cada um de seus 10 mil quilômetros de vias. Estas são algumas das principais conclusões apontadas na primeira fase do estudo Gestão sustentável do transporte de carga no apoio à prática de logística verde em megacidades realizado por pesquisadores do Laboratório de Transportes de Cargas (LTC) da Coppe/UFRJ.

O Rio de Janeiro serviu como modelo para o levantamento de dados do estudo. Os pesquisadores da Coppe constataram que um veículo de carga percorre em um dia cerca de 55 quilômetros, a uma velocidade média de 17,9 km/h devido aos congestionamentos no trânsito da cidade. Além disso, em um único dia 50% do tempo da rota de um caminhão são desperdiçados apenas com a espera para descarregar. Seja na procura por local para estacionar ou aguardando ser atendido pelo estabelecimento, já que em muitos casos seus funcionários não sabiam a que horas a mercadoria iria chegar, não estando preparados para recebê-la.

Com apoio do Center for Transportation & Logistics do Massachusetts Institute of Technology (MIT) e do CNPq, o estudo teve início em 2013 e a previsão de conclusão é maio de 2015. Os resultados preliminares foram apresentados dia 11 de setembro, durante o II Megacity Logistics Workshop, evento realizado pelo LTC/Coppe.

Segundo o coordenador do projeto, o professor Márcio D’Agosto, do Programa de Engenharia de Transportes da Coppe, o objetivo é identificar e desenvolver soluções inovadoras que proporcionem sustentabilidade sócio-ambiental no transporte de cargas nas megacidades. Para realizar o estudo, os pesquisadores monitoraram as atividades de quatro empresas que transportam produtos de cinco diferentes segmentações, mapeando rota, tempo, velocidade, distância percorrida e tempo de descarga dos produtos. Também identificaram como são feitas as entregas, incluindo o número de funcionários da transportadora envolvidos na operação. As empresas participantes foram Grupo Pão de Açúcar (frutas, legumes, verduras e outros alimentos), Lafarge (material de construção), Coca-Cola (bebidas) e Correio (outras cargas).

Na primeira fase do projeto, além de mapear as melhores metodologias praticadas em outras cidades no mundo, tidas como referências, os pesquisadores também avaliaram a implantação de técnicas de gestão inteligente da mobilidade. Entre as tecnologias estão os sistemas de comunicação online, em tempo real, para otimizar a infraestrutura de transporte já existente e a operação dos veículos envolvendo a programação de entrega de carga e o roteiro a ser seguido.

Estudo aponta sobreposição de rotas, falta de padrão e de comunicação

De acordo com os pesquisadores da Coppe, a sobreposição de rotas identificada no estudo ocorre porque em muitos casos os motoristas escolhem seus próprios trajetos, que nem sempre são os mais apropriados. Além disso, também devido à falta de padronização, foram identificados camin hões da mesma empresa realizando entregas em estabelecimentos diferentes a poucos metros de distância, o que para os pesquisadores gera desperdício e tráfego. A falta de comunicação entre entregadores e clientes é outra questão que chama atenção devido aos impactos provocados: foram detectados casos em que os estabelecimentos foram pegos de surpresa com a chegada da mercadoria em horários não previstos, não estando, portanto, preparados para recebê-las. Com isso, há um grande aumento de tempo para efetuar a entrega. Esses fatores oneram as empresas, prejudicam o fluxo no trânsito, a logística e a vida na cidade.

Por essa razão, a infraestrutura do Rio de Janeiro e suas regras de trânsito são objetos de estudo dos pesquisadores da Coppe e estão entre os desafios das transportadoras. O estudo mostrou que o município possui muitas vias estreitas por onde passam caminhões e tem poucos estabelecimentos com locais adequados para descarga de mercadorias. Além disso, a proibição de circularem, das 6h às 10h e das 17h às 20h, é outro desafio que, segundo os pesquisadores da Coppe, pode ser superado com a implantação de novas metodologias de gestão e tecnologias de monitoramento online, em tempo real.

“A implantação destas técnicas poderá contribuir para a redução do tempo de entrega de mercadorias, do número de caminhões parados em congestionamentos e de emissões de poluentes, uma vez que menos combustível fóssil será queimado”, afirma o professor D’Agosto.

O estudo também sugere o uso de novas tecnologias para a propulsão dos veículos, utilização de fontes de energia mais limpas, incluindo novos combustíveis, como o diesel de cana, por exemplo.