Estudo da Coppe pode aumentar ecoeficiência e baixar custos do etanol
Planeta COPPE / Engenharia de Transportes / Notícias
Data: 13/04/2012
Um estudo da Coppe para melhorar a ecoeficiência no transporte rodoviário de combustíveis líquidos fornece indicações que podem contribuir para aumentar a competitividade do etanol brasileiro, tanto em relação ao etanol norte-americano no mercado externo como em relação à gasolina no mercado interno.
O trabalho mostrou que as rodovias, que respondem por 96% da movimentação do etanol pelo território nacional, são o pior meio entre nove alternativas possíveis, quando se levam em conta os impactos econômicos e ambientais. As melhores alternativas incluem o uso de transportes intermodais, mas, de acordo com o estudo, o Brasil ainda não tem infraestrutura suficiente para deslocar o combustível por esses outros modos. Por isso, seria viável aperfeiçoar o transporte rodoviário, reduzindo os custos econômicos e ambientais com medidas como a diminuição do número de acidentes rodoviários, alterações nos valores de frete e utilização de até 100% de biodiesel no abastecimento dos caminhões-tanque que transportam o etanol.
Realizado pelos professores Marcio D’Agosto e Ilton Curty, ambos do Programa de Engenharia de Transportes da Coppe, o estudo mostra que o uso de 100% de biodiesel nos caminhões-tanque pode reduzir em 78% as emissões de CO2. Essa proposta, porém, depende do aumento da oferta de biodiesel no mercado. O estudo da Coppe mostra também a necessidade de redução de pelo menos 40% no número de acidentes nas estradas. Cada acidente de transporte rodoviário no Brasil custa em média R$ 65.350,00 e só o estado de São Paulo registra uma média anual de 135 acidentes com transportadoras de líquidos inflamáveis. “Se esses números forem reduzidos, o custo do transporte pode cair na mesma proporção e, como consequência, teremos queda também no preço do etanol”, calcula o professor Ilton Curty.
Os professores da Coppe explicam que, até 2010, o Brasil e os Estados Unidos eram responsáveis por 70% da produção de etanol no mundo, e que a vantagem norte-americana em relação ao Brasil está na eficiente logística, que proporciona melhor preço do produto para o usuário final. “O forte do etanol nacional é sua produção sustentável com baixo custo, e o dos Estados Unidos é a boa rede de distribuição até os portos”, resume Marcio D’Agosto.
De acordo com o levantamento dos professores da Coppe, o Brasil tem uma grande diferencial que precisa ser aproveitado. O país produz por hectare quase o dobro da produção norte-americana e praticamente pela metade do custo. Enquanto a produção brasileira é, em média, de 6,4 mil litros por hectare, a um custo de US$ 137 por tonelada, os Estados Unidos produzem 3,3 mil litros, que custam U$ 235 por tonelada. Mas 60% do produto norte-americano é transportado até os portos por ferrovias, 10% por hidrovias e 30% por rodovias. “Isso torna a operação bem mais barata e menos poluente do que no Brasil, já que 96% de nossa produção segue pelas rodovias, com alto consumo de diesel e lubrificante, emissão de gases de efeito estufa e outras formas de poluição atmosférica”, explica Marcio D’Agosto. Há também os impactos dos acidentes com caminhões-tanque, que, nesse caso, geram mais impactos ambientais, como poluição do solo, da água e também do ar – sem contar os danos pessoais e os danos econômicos aos proprietários.
Do ponto de vista da exportação, a redução dos impactos ambientais do transporte do etanol brasileiro aumentaria a aceitação desse derivado da cana-de-açúcar no exterior, principalmente na Europa, onde os países estão mais exigentes e aumentam as restrições à importação de produtos com impactos ambientais durante a produção. Do ponto de vista do mercado interno, a redução de custos gerados por acidentes pode contribuir para aliviar as altas de preços provocadas por eventuais desequilíbrios na oferta do produto.
Por apresentarem menor custo de energia, maior segurança e melhor desempenho ambiental, os dutos de grande vazão mostraram-se, no estudo da Coppe, o melhor meio para transportar o combustível das áreas de produção até os portos. No Brasil há apenas projetos como o do alcoolduto, que ligará o município de Senador Canedo, em Goiás, ao porto de São Sebastião (SP). Já as ferrovias e as hidrovias não estão estruturadas para movimentar o produto. Os professores da Coppe dizem que não há embarcações apropriadas e que os trens não têm vagões-tanque suficientes, além de estarem a serviço de outros setores da economia, a exemplo das mineradoras, como ocorre nas regiões próximas às usinas de cana no Sudeste e Centro-Oeste.
Estudo premiado
O estudo para melhorar a ecoeficiência no transporte rodoviário de produtos perigosos rendeu aos dois professores da Coppe o Prêmio CNT de Produção Acadêmica 2011, concedido pela Confederação Nacional do Transporte durante o 25º congresso da Associação Nacional de Pesquisa e Ensino em Transportes (Anpet). Para realizar o estudo, os professores utilizaram uma técnica por eles desenvolvida, denominada método de escolha modal (MEM). Como cenário, usaram o etanol produzido no eixo Centro-Sul do Brasil com destino ao porto de São Sebastião, em São Paulo, que possui um terminal da Transpetro e deverá ser o principal terminal exportador dessa biomassa.
Além disso, os professores usaram como base as estatísticas disponibilizadas pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), referentes ao ano de 2009, que apontam o Sudeste como a região de maior movimentação de cargas perigosas, principalmente de etanol. Marcio D’Agosto diz que, no país, a companhia paulista é a única empresa que tem essas informações, mas, como São Paulo é o maior produtor e consumidor desse produto na região Sudeste, tais estatísticas podem ser representativas para todo o território nacional.
A partir de dados da Transpetro, os professores da Coppe identificaram a rede de transporte do etanol; as alternativas modais, levando em conta os terminais existentes e projetados; a hidrovia Tietê–Paraná; e o projeto do alcoolduto que ligará Senador Canedo, em Goiás, ao porto de São Sebastião. Os professores analisaram as atuais redes ferroviárias e rodoviárias, tendo como ponto de partida Tuverlândia, uma cidade goiana que está entre as dez maiores produtoras de etanol no país. Tal município também foi escolhido por sua posição geográfica, que permite a utilização de várias alternativas de transporte.