Estudo da Coppe revela aumento de emissões de CO² no estado do Rio de Janeiro
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Data: 12/06/2017
O estado do Rio de Janeiro emitiu 92,71 milhões de toneladas de CO² equivalente (CO²e)* em 2015, resultando em um aumento de 40% em relação a 2005, de acordo com estudos do Centro Clima da Coppe/UFRJ, em parceria com o governo estadual. Apresentado, dia 8 de junho, no Museu do Amanhã, o estudo consta do “Terceiro Inventário de Emissões de Gases de Efeito Estufa – GEE do Estado do Rio de Janeiro e a Análise da Evolução das Emissões, no período 2005-2015”.
“É como se cada cidadão do estado emitisse 5,6 toneladas de gás carbônico por ano. Um aumento de 30% em relação ao cenário de 2005 (4,3 toneladas de CO²e por habitante). No mesmo período a economia fluminense cresceu 25,5%, ou seja, as emissões superaram o crescimento do PIB”, destacou o professor da Coppe, Emílio La Rovere, coordenador geral do inventário, o terceiro produzido pelos pesquisadores da Coppe/UFRJ, em parceria com a Secretaria de Estado do Ambiente (SEA/RJ), a Superintendência de Mudanças Climáticas e o Instituto Estadual do Ambiente (INEA/RJ).
O inventário foi dividido em quatro grandes setores: Energia, Processos Industriais e Uso de Produtos (IPPU, na sigla em inglês); Agricultura, Florestas e Uso do Solo (Afolu); e Resíduos, seguindo a metodologia proposta pelo Painel Internacional de Mudanças Climáticas (IPCC). O amplo estudo – que incluiu atualização metodológica e ampliou os gases de efeito estufa contemplados, como hidrofluorcarbonos, perfluorcarbonos e hexafluoreto de enxofre – foi realizado em apenas oito meses, de outubro de 2016 a junho de 2017.
“As emissões totais cresceram tanto no período de 2005 a 2010 (13,6%), quanto de 2010 a 2015 (23,2%)”, lamentou Emílio La Rovere, professor do Programa de Planejamento Energético da Coppe. Segundo o professor, o aumento se deve principalmente ao setor energético. “Houve também aumento de 16,5% nas emissões, por habitante, no setor de esgoto, na contramão do esforço de reduzi-las em 2/3. Apesar disso, identificamos reduções significativas, sobretudo nos setores de Agricultura, Florestas e Outros Usos da Terra e de Resíduos”, explicou.
O professor da Coppe também chama atenção para a contribuição do setor florestal. “A ampliação das áreas de conservação ambiental e das atividades de reflorestamento (retirando carbono da atmosfera) foram fatores decisivos para reduzir o percentual de aumento de emissão de gases, totalizando em 40%, em dez anos. Sem esse fator o aumento na emissão seria de 54%”, destacou La Rovere.
Segundo La Rovere, a desagregação do resultado por região revelou que o impacto ambiental foi mais considerável nas regiões Norte- que concentra a geração de energia- e Metropolitana- que concentra a maior parcela da população e das atividades produtivas do estado -, além do Médio Paraíba, por conta da atividade industrial. “Mas existem aspectos conjunturais que devem ser levados em conta na análise, pois 2015 foi ano da crise hídrica, o que levou ao acionamento de usinas termelétricas, consequentemente aumentando as emissões do setor de energia”, ponderou La Rovere.
De acordo com a pesquisadora Carolina Dubeux, coordenadora técnica do inventário, a equipe do Centro Clima seguiu à risca a metodologia do IPCC, mas utilizou também a metodologia do Greenhouse Gas Protocol, que aconselha tratar em escopos diferentes emissões de naturezas distintas. “Separamos transportes para que o setor ficasse em evidência. Separamos as emissões dos processos industriais do consumo das indústrias, e também as emissões dos resíduos industriais, pois assim fica mais fácil para avaliarmos as responsabilidades setoriais do que utilizando apenas a classificação ortodoxa do IPCC”, relatou Carolina.
Reflorestamento e conservação reduziram 395 toneladas de CO²e
Entre 2010 e 2015, o reflorestamento e a conservação de áreas de preservação permitiram “sequestrar” 395 toneladas de CO² equivalente no estado do Rio de Janeiro. Segundo André Corrêa, secretário licenciado de Ambiente, o estado há cinco anos mantém “desmatamento zero”, aferido pela ONG SOS Mata Atlântica. No período, o governo acrescentou 28 mil hectares às áreas de conservação ambiental, criou o primeiro refúgio da vida silvestre do Vale do Paraíba, na divisa com São Paulo, e instituiu um projeto de monitoramento ambiental semanal via satélite, coordenado pela professora Carla Madureira, do Instituto de Geociências (Igeo/UFRJ).
“Um dos males da política brasileira é a descontinuidade da política pública. Nós procuramos dar seguimento ao bom trabalho que foi desenvolvido pelo Carlos Minc. Espero que o inventário possa ser um estímulo. Nós somos passageiros. Gostaria que (o inventário) fosse institucionalizado no planejamento e empoderado por esse corpo técnico maravilhoso do Inea. O Inea foi capaz em elevar em 55% a quantidade de fiscalizações e licenciamentos, mesmo em plena crise. Inea e Sea têm o melhor capital humano do governo estadual, e seu esforço fez superar as adversidades que o estado vem enfrentando”, afirmou o secretário.
A apresentação do Inventário contou com a presença do diretor da Coppe/UFRJ, professor Edson Watanabe; de Alfredo Sirkis, secretário-executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas; Olga Wehb, superintendente estadual de Mudanças Climáticas; Ricardo Piquet, diretor do Museu do Amanhã; Alfredo Tomalsquim, diretor de Conteúdo do Museu do Amanhã; e José Magela, diretor presidente da empresa Prumo Logística. Durante o evento, os pesquisadores do Centro Clima, William Wills , Mauro Meirelles, Michele Walter e Saulo Loureiro, fizeram breves apresentações dos quatro setores (Energia, IPPU, Afolu e Resíduos) nos quais se desdobram o inventário.
Emissões de gases tiveram crescimento superior ao PIB : 40% x 25,5%
O compromisso assumido pelo Brasil no Acordo de Paris foi reduzir em 43%, até 2030, as emissões de GEE (em relação aos níveis de 2005). No caso do estado do Rio de Janeiro, as suas metas setoriais de mitigação foram definidas no Decreto 43.216/2011, que regulamenta a Política Estadual sobre a Mudança Global do Clima e Desenvolvimento Sustentável (Lei 3690/2010).
As metas estaduais de redução previstas até 2030 são: 65% de emissões no esgotamento sanitário; 65% no tratamento de resíduos sólidos; 30% no setor de transportes e também 30% no consumo energético do setor público (em relação aos níveis de emissões de 2005). Em resumo, a meta de mitigação requer que a intensidade de carbono do PIB (emissão de CO²e a cada real produzido pela economia) estadual em 2030 seja inferior a de 2005. No entanto, a intensidade elevou-se 11,5% no período analisado.
Em 2005 o estado emitia 66,22 milhões de toneladas de CO² equivalente (CO²e). Em 2010, passou a emitir 75,56 milhões de toneladas e, em 2015, 92,71, resultando em aumento de 40% (54%, caso seja descontado o reflorestamento muito efetivo neste período). O PIB cresceu 25,5% no período, ou seja, as emissões cresceram mais rapidamente do que a economia, na contramão dos objetivos da política ambiental fluminense.
Segundo o professor Emílio La Rovere, o inventário é um instrumento de planejamento, e não um fim em si mesmo. “É para conhecermos o passado, anteciparmos tendências e planejarmos o futuro, sabendo onde priorizar e focar nossa ação. Os números estão frescos ainda. Precisamos nos debruçar sobre eles, dar um zoom para partirmos para um plano de ação. Se os resultados forem mais lentos, eu não vejo problema em rever as metas. Meta não é algo escrito na pedra, a gente pode ajustar ao ritmo. O importante é não achar que, como um maná, o resultado cai do céu”, enfatizou .
La Rovere defendeu que o planejamento deve ser dinâmico. Por isso, ferramentas, como o inventário, devem ser constantemente atualizadas. “O processo é tão importante quanto o resultado. Além dos números gerados, a capacitação e a formação são importantes para que as entidades estaduais possam implementar propostas para a redução das emissões de gases causadores de efeito estufa”, concluiu o professor.
* unidade que congrega todos os gases causadores do efeito estufa