Estudo estabelece padrão brasileiro para peso de bebê ao nascer
Planeta COPPE / Engenharia Elétrica / Notícias
Data: 04/03/2011
Um padrão de peso ao nascimento de acordo com a idade gestacional, específico para aplicação no Brasil, foi desenvolvido por pesquisadores da Coppe, do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (IPPMG/UFRJ) e da Universidade Federal Fluminense. Fruto de um trabalho de parceria entre a Engenharia e a Medicina, a pesquisa analisou cerca de 8 milhões de dados referentes à partos de nascidos vivos. É o maior estudo desse tipo já realizado no mundo e o primeiro com dados colhidos em todo o Brasil.
O principal resultado do trabalho, que na Coppe foi coordenado pelo professor Carlos Pedreira, do Programa de Engenharia Elétrica, em breve estará disponível para médicos de todo o país: são gráficos e tabelas que ajudarão pediatras e neonatologistas a identificar se uma criança nasceu com o peso adequado para a idade gestacional correspondente. Essa relação indica se a gravidez foi saudável, possibilita o prognóstico de doenças e agiliza o início do tratamento, sobretudo no caso de bebês prematuros – que em geral nascem abaixo do peso e, por isso, carecem de mais cuidados e atenção.
O estudo ganhou o prestigiado Prêmio Nicola Albano, concedido pela Sociedade Brasileira de Pediatria, como o melhor entre mais de 800 trabalhos apresentados no Congresso Brasileiro de Perinatologia, em novembro de 2010. A Pesquisa completa será publicada em junho de 2011 nos Anais da Academia Brasileira de Ciências.
Confiantes no impacto social de seu trabalho, os pesquisadores esperam que, a partir da publicação e com a colaboração da Sociedade Brasileira de Pediatria e do Ministério da Saúde, as tabelas e gráficos venham a se tornar a referência nacional para a relação peso por idade gestacional.
O estudo foi desenvolvido por Carlos Pedreira em conjunto com Elaine Sobral da Costa, do IPPMG; Sylvia Porto, do IPPMG e do Hospital dos Servidores do Estado; e Francisco Carlos Pinto, da UFF.
Partos prematuros
No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, em média 6,6% dos bebês nascidos vivos são prematuros, por causa de complicações durante a gravidez. No mundo todo, 1.500 mães morrem diariamente pela mesma razão, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Até o momento, as tabelas utilizadas pelos médicos para acompanhar o crescimento intrauterino e avaliar o peso do bebê ao nascer se baseiam em curvas de crescimento produzidas em outros países ou, quando muito, numa pesquisa brasileira de 1995, que analisou apenas 4,4 mil casos, todos em Brasília. Ao trabalhar com os dados de 8 milhões de casos, recolhidos em todo o território nacional, o novo estudo reflete efetivamente a realidade dos nascidos no Brasil.
Tratamento precoce
Segundo a médica Sylvia Porto, a hipertensão arterial materna é o problema mais comum relacionado a partos prematuros, podendo exigir uma intervenção médica – no caso, um parto por cesariana antes do tempo normal de gestação – para não colocar em risco a vida da mãe ou a da criança. Fatores externos, como fumo e bebida durante a gestação, também contribuem para o nascimento prematuro de crianças.
Os bebês com baixo peso – que é o quadro de todo nascido-vivo prematuramente – são sujeitos a diversas doenças, que podem se iniciar no nascimento e deixar seqüelas futuras, explica a médica. “Identificar se o peso e o tamanho de um recém-nascido estão dentro da normalidade é importante para prognosticar doenças e iniciar o tratamento o mais cedo possível”, diz ela.
Genética brasileira
Padrões desenvolvidos especificamente para uso no Brasil são necessários porque, como explica Sylvia Porto, as pesquisas internacionais ou com poucos casos analisados não refletem com precisão as características genéticas da população brasileira. Para os padrões norte-americanos, os recém-nascidos brasileiros seriam considerados menores que o tamanho ideal, mas segundo os padrões brasileiros, não.
O estudo tem ainda a vantagem de ser o mais amplo realizado no mundo até agora. Antes disso, o levantamento mais abrangente foi feito nos Estados Unidos na década de 60 e se baseou em dados de cerca de 3 milhões de nascimentos. Os dados relativos aos 8 milhões de nascimentos do levantamento brasileiro, fornecidos pelo SUS, foram referem-se a maternidades de todos os estados brasileiros no período 2003-2005.
Reunir tal volume de dados e transformá-los em informações úteis, excluir possíveis erros e gerar uma curva que represente todo esse processo não é trabalho fácil. Só para formatar os dados foram necessários cerca de seis meses. Programas de análise de dados específicos foram escritos para eliminar erros das informações originais e facilitar as interpretações médicas.
Segundo Carlos Pedreira, da Coppe, os principais problemas encontrados durante esse processo foram erros de dados: “Desenvolvemos programas que filtravam os casos absurdos, como o de crianças nascidas com 16 kg ou com 160 gramas. Neste ponto, os parceiros médicos tiveram papel fundamental para garantir coerência aos resultados”, diz ele.