Funcionária da Coppe desenvolveu aplicativo para apoiar deficientes auditivos na visita a museus
Planeta COPPE / Engenharia de Sistemas e Computação / Notícias
Data: 07/10/2019
A webdesigner Priscyla Gonçalves Ferreira Barbosa, funcionária da Coppe/UFRJ, desenvolveu um aplicativo inovador que possibilita o acesso de surdos a conteúdo de exposições em museus, sem precisar de um intérprete ao seu lado. A ferramenta que incorpora técnicas de realidade aumentada e linguagem em libras propiciará a pessoas com deficiência auditiva, que representam cerca de 5% da população brasileira, autonomia na visita a museus, facilitando a compreensão e interação com os acervos expostos. Por esse trabalho, Priscyla acaba de ser selecionada para participar do Programa de formação Mulheres na Ciência e Inovação (Women in Science), que é idealizado pelo British Council em parceria com o Museu do Amanhã. Assista ao vídeo e veja como funciona o aplicativo.
O programa tem como objetivo fortalecer a liderança feminina na inovação de base científica e tecnológica, e é voltado para mulheres que atuam nas áreas de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática e que desejam empreender.
O aplicativo desenvolvido pela webdesigner da Coppe foi elaborado no Laboratório de Realidade Virtual (Lab3D) da Coppe, no qual Priscyla trabalha. O projeto é fruto da dissertação de mestrado defendida por ela no Programa de Pós-Graduação em Informática da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), no ano de 2018, sob o título “Acessibilidade em museus: um estudo de caso para apoiar a visita espontânea de surdos com o uso da realidade aumentada”.
Para conceber essa ferramenta de inclusão, Priscyla pesquisou as características de acessibilidade e usabilidade necessárias para promover boa interação entre os surdos e os conteúdos expostos em um museu. Sob a orientação da professora Simone Bacellar Leal Ferreira, coordenadora do Núcleo de Acessibilidade e Usabilidade (NAU) do Departamento de Informática Aplicada da Unirio, Priscyla levantou e avaliou as diretrizes de acessibilidade para dispositivos móveis.
Segundo a webdesign da Coppe, a iniciativa partiu de uma demanda do Museu da Geodiversidade da UFRJ. “A vice-coordenadora do museu, professora Aline Rocha, contatou o Lab3D da Coppe para saber se havia tecnologia disponível para que surdos possam visitar museus de forma autônoma, sem a necessidade de um guia especializado. Hoje, ele precisa pré-agendar a visita para que o museu tenha disponível um guia capacitado. No entanto, muitos comparecem sem agendamento e, nesse caso, o museu não tem como prestar um serviço satisfatório”, explica Priscyla.
Quando a demanda surgiu, a funcionária da Coppe estava iniciando o seu mestrado no Departamento de Informática Aplicada da Unirio. “Como minha orientadora na UniRio coordena um laboratório voltado para acessibilidade, o NAU, vi uma oportunidade de aplicar os ensinamentos em um produto tecnológico que tem finalidade social. Conversei com minha orientadora e com a coordenação do Lab3D da Coppe. Todos ficaram entusiasmados e o desenvolvimento do aplicativo passou a ser o foco da minha dissertação de mestrado, com total apoio da professora Aline Rocha, vice-diretora do Museu da Geodiversidade”, conta Priscyla com entusiasmo”.
A coordenadora do Lab3D, professora Cláudia Werner, do Programa de Engenharia de Sistemas e Computação da Coppe, explica que o laboratório já vinha desenvolvendo pesquisas em parceria com o Museu da Geodiversidade há cerca de cinco anos. “Em 2017, chegou essa demanda voltada para acessibilidade. A Priscyla, que já estava iniciando o mestrado voltado para a interface homem máquina, se interessou pelo projeto, e passou a responder pelo desenvolvimento da tecnologia para o museu. Ela contou com todo o apoio da equipe do Lab3D. Essa parceria foi muito importante porque resultou em um aplicativo prático, com aplicações modernas, e pronto uso”, comemora a professora da Coppe.
Iniciativa inovadora no Brasil
Instalado em um tablet, o aplicativo disponibiliza imagens, texto, animação e vídeos com o apoio de intérpretes de libras. Para testar a tecnologia inovadora, a webdesigner da Coppe selecionou a exposição “Mares do Passado”, aberta ao público no Museu da Geodiversidade. A exposição retrata os processos que tornaram possível o desenvolvimento da vida da Terra, exibindo acervo com diversos fósseis marinhos.
O aplicativo é uma das primeiras iniciativas no Brasil para promover visitas espontâneas de surdos a museus. De acordo com a coordenadora do NAU/Unirio, Simone Bacellar, trata-se de um passo importante para dar mais autonomia a essas pessoas. A professora diz que já existem alguns aplicativos que traduzem do português para Libras, mas não com o diferencial do uso de realidade aumentada, que permite uma interação mais natural, bem próxima a que um intérprete faria se estivesse ao lado do surdo.
O usuário pode optar pela forma de visualizar o conteúdo exposto: se por meio de textos ou pela linguagem em libras. “O protótipo foi submetido à avaliação de especialistas em acessibilidade e testado por um grupo de surdos. A avaliação, no contexto real de uso, identificou demandas e os resultados na promoção da acessibilidade com o uso da realidade aumentada”, explica Priscyla.
“Esperamos que no futuro, iniciativas desse tipo sejam estendidas a todos. A pesquisa da Priscyla é um exemplo de como a tecnologia pode contribuir para a cidadania”, elogia Simone Bacellar. Segundo ela, os surdos têm muita dificuldade de ler textos escritos em português. “Como a língua materna deles é a Língua Brasileira de Sinais (Libras), que possui uma estrutura gramatical diferente, eles acabam não aprendendo o português direito. Para eles o português é como se fosse um idioma estrangeiro. Isso acarreta muitas dificuldades, principalmente porque a sociedade desconhece esse fato e pensa: como assim? Surdo sabe ler! Por que ele não entendeu?”, alerta a professora que já orientou 29 estudos voltados para acessibilidade, dos quais três resultaram em aplicativos, incluindo o da Priscyla.
A nova ferramenta também é pioneira para o Museu da Geodiversidade da UFRJ. Segundo a vice-diretora, professora Aline Rocha, essa é a primeira tecnologia portátil disponibilizada para dar autonomia a pessoas com deficiência durante visitas ao museu. “O ideal seria termos uns dez tablets com este aplicativo instalado para atender a demanda, do público espontâneo. Mas para chegar a este número precisamos de mais parceiros e incentivos financeiros”, ressalta Aline.
“Esse aplicativo nos ajudará a ampliar a comunicação com as pessoas que visitam a exposição de forma espontânea. Como até o momento só temos o protótipo piloto, o estamos utilizando apenas em visitas demonstrativas”, explica a vice-diretora do museu.
Parceria entre laboratórios contribuiu para o sucesso do projeto
Para desenvolver o aplicativo a webdesigner contou com a cooperação da equipe do Lab3D da Coppe, entre eles dois bolsistas que a ajudaram na programação dos códigos funcionais do aplicativo e na produção da animação. Priscyla fez questão de destacar o envolvimento e a orientação da pesquisadora Claudia Susie Rodrigues, responsável pela área de realidade aumentada no Lab3D.
Susie a ajudou a incorporar a realidade aumentada na ferramenta com especificidades para atender ao público-alvo. “Foi muito prazeroso contribuir neste projeto. Esse trabalho tem um valor muito grande e foi realizado pensando o tempo todo no público-alvo, facilitando o uso do tablet e a obtenção das informações em relação ao que está sendo exibido, com autonomia. A Priscyla se colocou no lugar dos surdos, conversou com especialistas que trabalham com esse público, e juntas fomos fazendo todos os ajustes necessários para chegar a um resultado satisfatório”, conta Susie.
Outros grupos da UFRJ também colaboraram no projeto. Para incluir no aplicativo o conteúdo de geologia, textos e imagens sobre o Museu da Geodiversidade e as peças expostas em “Mares do Passado”, Priscyla contou com o apoio de dois bolsistas do museu. A tradução do português para a língua de sinais foi feita por dois alunos da Faculdade de Letras e a edição dos vídeos por um aluno da Escola de Comunicação (ECO). Os vídeos foram gravados e produzidos com apoio da técnica Andrea Nascimento e outros integrantes da equipe do Laboratório de Produção Multimídia (LPM) da Coppe, que é ligado ao Lab3D.
O aplicativo foi destaque na Coluna do Ancelmo Gois, no jornal O Globo, em 14 de outubro, e no Globo Online, na Plataforma Celina, no dia 22 do mesmo mês.
- deficiência auditiva