Jogos com propósito ganham espaço na Coppe
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Data: 07/08/2025

Jogos não são apenas formas de entretenimento — podem ser, também, ferramentas sofisticadas de aprendizado, sensibilização e mobilização social. Foi com essa convicção que a Coppe/UFRJ lançou a primeira edição do Clube de Jogos Coppe, em 6 de agosto. Mais do que uma vitrine de produtos finalizados, o evento funcionou como um espaço de experimentação e troca de ideias sobre jogos com propósito, criados dentro dos laboratórios da universidade.
Nos bastidores, o trabalho é denso e multidisciplinar. O Laboratório de Ludologia, Engenharia e Simulação (Ludes), coordenado pelo professor Geraldo Xexéo; e o Centro Avançado em Sustentabilidade, Ecossistemas Locais e Governança (Casulo), coordenado pela professora Amanda Xavier; são os núcleos responsáveis pelo desenvolvimento dos jogos, que surgem a partir de demandas reais da sociedade, de professores, de gestores públicos e de instituições parceiras. “Trabalhamos com jogos que têm uma formulação teórica robusta e um objetivo claro: gerar impacto. Seja em saúde, educação, sustentabilidade ou cidadania”, explicou Xexéo, professor do Programa de Engenharia de Sistemas e Computação da Coppe.
Técnicas e metodologias: a engenharia dos jogos com propósito
O processo de criação envolve engenharia de sistemas, design instrucional, metodologias ágeis, simulações computacionais, narrativas interativas, elementos de gamificação, realidade aumentada e geolocalização. Os jogos são pensados como ambientes interativos de aprendizagem, onde o usuário é convidado a explorar, refletir, escolher e decidir — sempre de forma lúdica, mas com base em dados, evidências e objetivos concretos. Entre as abordagens utilizadas, destacam-se:
● Design centrado no usuário: o público-alvo é envolvido desde as etapas iniciais, garantindo pertinência temática e acessibilidade;
● Aprendizagem baseada em jogos (game-based learning) e serious games, com roteiros construídos para facilitar a assimilação de conteúdos complexos;
● Gamificação de cenários reais, com uso de geolocalização e realidade aumentada, aproximando o jogo do cotidiano das pessoas — como nos modelos inspirados em Pokémon Go;
● Simulações e sistemas de decisão que reproduzem dilemas reais e permitem ao jogador experimentar consequências e soluções alternativas;
● Representatividade como princípio estrutural: os jogos refletem a diversidade racial, de gênero, territorial e social do Brasil, tanto em personagens quanto nas narrativas.
“Queremos que o jogo vá até o território. Que interaja com a realidade local e proponha descobertas e soluções”, diz Xexéo. “É uma forma de levar ciência, cidadania e pensamento crítico para o dia a dia das pessoas.”

Um espaço para cocriação
Além da apresentação dos jogos já desenvolvidos, o Clube também se propõe a ser um catalisador de novas ideias. Estudantes, professores, pesquisadores, líderes comunitários, formuladores de políticas públicas, desenvolvedores e ativistas sociais são convidados a participar de forma ativa — sugerindo temas, propondo parcerias ou apresentando protótipos de jogos em desenvolvimento.
“Esse é um espaço de troca e aprendizado conjunto. Queremos ouvir, testar, criar junto”, destacou Xexéo.
Para o subsecretário de Ciência e Tecnologia da Prefeitura do Rio de Janeiro, Gabriel Medina, presente no evento, o Clube dos Jogos Coppe revela o potencial dos games como ferramentas para o engajamento cívico e a formulação de políticas públicas:
“Esses jogos nos ajudam a pensar os ODS, a entender as cidades, a divulgar a ciência e a ampliar o acesso ao conhecimento. Eles aproximam a universidade da sociedade, e também ajudam a formar lideranças e criar soluções.”
Jogos com impacto real: da saúde à responsabilidade social
Os jogos apresentados no Clube dos Jogos Coppe revelam a potência dos games como ferramentas para educar, sensibilizar e transformar realidades. A seguir, veja como diferentes áreas têm se beneficiado dessas iniciativas.
Ciência e Educação em Saúde
● Screener (tabuleiro) e DiscoverX (digital)
Desenvolvidos com o professor François Noël (ICB/UFRJ), explicam, de forma lúdica, o processo de desenvolvimento de medicamentos.
– Uso: graduação, pós-graduação e divulgação científica para jovens;
– Distribuição: o Screener foi adotado por instituições em todo o país.
● SOS SCA (digital)
Jogo de simulação criado com o Parque Tecnológico da UFRJ, treina protocolos de emergência em casos de infarto em UPAs, com base em diretrizes da Sociedade de Cardiologia do Estado do Rio de Janeiro.
Educação Inclusiva e Neuropsicologia
● Zigurate (tabuleiro)
Criado pela parceria entre o Casulo (PEP/Coppe) e o Projeto Panda (IP/UFRJ), é utilizado em grupos de reabilitação de crianças e adolescentes com dificuldades de aprendizagem.
– Mecânica: inspirada no Jenga, com foco em atenção, planejamento, reconhecimento de letras e conhecimento geográfico.
– Impacto: promove vínculo terapêutico e engajamento das crianças, além de ser ferramenta de formação para estagiárias.
Formação Acadêmica e Orientação de Carreira
● Jornada da Pesquisa (tabuleiro)
Desenvolvido pelo doutorando Mateus Espanha (PESC/Coppe), orienta estudantes sobre o funcionamento da pós-graduação no Brasil.
– Objetivo: tornar mais acessível e compreensível a trajetória acadêmica, seus caminhos e possibilidades.
Sustentabilidade, ESG e Cidadania
● Jogos de tomada de decisão e ESG
Simulam dilemas reais enfrentados por empreendedores, como o equilíbrio entre lucro e responsabilidade ambiental.
– Mecânica: o jogador toma decisões sem saber o impacto imediato, sendo levado a refletir sobre consequências futuras.
– Abordagens: responsabilidade socioambiental, ética, governança e impacto coletivo.
“Esses jogos ajudam a exercitar o pensamento crítico, simular realidades e propor soluções para desafios complexos da vida real”, explica o professor Geraldo Xexéo.
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