Jovens aprendizes: uma nova oportunidade
Planeta COPPE / Engenharia de Transportes / Notícias
Data: 20/12/2011
Rafael Barbosa se tornou um Jovem Aprendiz por acaso. Aos 17 anos, ele trabalhava como vigia de estacionamento na mesma escola em que estudava, em São João de Meriti. Sua mãe, Dona Célia, o estimulou a se inscrever no “Jovem Aprendiz”, programa do Ministério do Trabalho e Emprego voltado para a formação e aprendizagem de jovens e adolescentes que trabalham como aprendizes em empresas. Após seis meses, Rafael começou a trabalhar no setor de Arquitetura e Conservação da Coppe e, ao final de seu contrato de dois anos, foi efetivado como auxiliar técnico.
Assim como Rafael, muitos jovens poderiam ser beneficiados por programas como o Jovem Aprendiz. No entanto, histórias assim não são maioria. Muitas vezes, o esforço se perde pelo caminho e eles acabam não sendo efetivados no emprego. As razões podem ser muitas, desde problemas de adaptação até dificuldades de ir e voltar do trabalho. Outras vezes, o empenho e a dedicação dos aprendizes podem não ser notados por um chefe desatento ou muito ocupado. Rafael, por sorte, escapou desse destino.
Empenhados em tornar mais comuns casos excepcionais como o de Rafael, pesquisadores do Laboratório de Trabalho & Formação da Coppe (LT&F) estão produzindo um novo material didático voltado para a formação de alunos e professores que atuam no Programa Jovem Aprendiz aplicado ao setor bancário. O projeto é fruto de uma parceria entre o Ministério do Trabalho e Emprego, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e a Coppe.
O LT&F está aplicando no projeto para o setor bancário sua experiência na produção da metodologia usada pelo Projovem, programa do Governo federal que, desde 2005, já formou 230 mil jovens no ensino fundamental e os preparou para a inserção no mercado de trabalho formal ou em projetos de geração de emprego e renda. O princípio da metodologia desenvolvida pelo LT&F é “conciliar aprendizagem prática e teórica, levando em conta a realidade do aluno”, explica Fabio Zamberlan, coordenador do Laboratório e professor do Programa de Engenharia de Produção da Coppe. O objetivo é transmitir o conhecimento de forma a enriquecer a formação geral do aluno e o seu entendimento da importância do trabalho na sociedade.
“Nosso material aborda situações do dia a dia de um aprendiz e inserimos no conteúdo soluções criativas que os próprios aprendizes desenvolveram em sua prática”, diz Amina Vergara, coordenadora do projeto.
O novo material pretende também suprir uma deficiência comum em programas de formação de aprendizes e estagiários: as dificuldades para o envolvimento das chefias no processo de aprendizagem dos jovens. O material ajuda a preencher essa lacuna através de aulas oferecidas por entidades formadoras, como o curso de formação e capacitação de jovens aprendizes do setor bancário, que tem duração de dois anos.
Para produzir o material didático do Projovem, a equipe da Coppe fez uma pesquisa prévia, em comunidades como o Morro dos Macacos e o Morro da Mangueira, na qual observou os jovens em seu cotidiano e avaliou suas expectativas. “Durante a pesquisa de campo no morro dos Macacos percebemos, por exemplo, que os jovens tinham pouca mobilidade dentro da cidade, ou seja, conheciam pouco o Rio de Janeiro. Quando fizemos a pesquisa na Mangueira, chamou nossa atenção o alto índice de otimismo entre eles. Nosso conteúdo leva tudo isso em consideração”, explica o professor Zamberlan.
Chance de aprender e crescer
Dona Célia, mãe de Rafael Barbosa, trabalhava como diarista quando ficou sabendo do Programa Jovem Aprendiz. Certo dia, sua patroa comentou que a empresa em que trabalhava contratava jovens de baixa renda que participavam de um curso de formação oferecido por uma instituição sem fins lucrativos. Empolgada, ela encaminhou ao programa o filho mais velho, na época com 17 anos.
Depois de aceito no curso, Rafael passou por uma verdadeira maratona até conseguir a primeira oportunidade de trabalho. Todos os dias, ele acordava às cinco e meia da manhã, pegava um ônibus e o metrô até Triagem, onde participava das aulas de formação geral e reforço escolar oferecidas pelo CAMP Mangueira. Ao meio dia, seguia para o colégio, onde trabalhava como guardador de carros até o final da tarde, quando entrava em aula. Chegava em casa depois das 23h. Após seis meses e quatro tentativas, ele finalmente foi contratado.
No início, Rafael foi colocado para trabalhar no setor de conservação e limpeza. Entre uma tarefa e outra, observava dois estagiários de arquitetura com quem dividia a sala. Interessado em desenho, aos poucos ele começou a aprender sobre o programa de construção virtual que os dois rapazes utilizavam. A chefe do setor chamou a atenção da arquiteta para o potencial do rapaz. A instituição bancou um curso de AutoCad, software de arquitetura, e ele passou a trabalhar no setor de arquitetura e conservação. Ao final dos dois anos de contrato como aprendiz, foi efetivado.
É por essa razão que, além de formar para o mundo do trabalho, a metodologia de ensino do projeto Jovem Aprendiz do Setor Bancário busca oferecer uma formação geral, que dá ao jovem o entendimento do valor do trabalho e da inserção social – para que ele seja capaz de aproveitar efetivamente a oportunidade aberta por sua entrada na empresa como aprendiz. Como aconteceu com Rafael.