Mangabeira Unger defende desenvolvimento includente para Amazônia
Planeta COPPE / Engenharia de Produção / Notícias
Data: 19/08/2008
“É preciso fazer com que a floresta valha mais de pé do que derrubada”, afirmou o ministro de Assuntos Estratégicos, Roberto Mangabeira Unger, durante conferência proferida na COPPE, dia 15 de agosto, na abertura do workshop “Amazônia: a floresta em pé para quem?” Segundo Mangabeira, é necessário criar serviços avançados na Amazônia, municiando a região com quadros e meios técnicos qualificados. “A Amazônia não é mais vista como uma região atrasada que exija ações compensatórias, é um terreno para repensar o Brasil como um todo e que deve ser compreendida do ponto de vista de uma reconstrução institucional, com desenvolvimento sustentável e socialmente includente”.
Mangabeira anunciou a recente parceria firmada entre o Ministério de Assuntos Estratégicos com o Ministério de Educação para a reconstrução do ensino público a partir de um novo modelo de escola média. Também propôs mudanças na política indigenista. “A idéia é criar um programa econômico e educativo que dê apoio aos indígenas, evitando desintegração social. O País mantém ainda uma relação ambígua com os indígenas, ao mesmo tempo cruel e generosa. Os índios devem poder escolher entre manter suas tradições ou se rebelar contra elas”, acredita.
Coordenador do Plano Amazônia Sustentável (PAS) do governo federal, o ministro discutiu ações para o futuro da Amazônia e expôs os eixos estruturantes definidos pelo PAS. O Plano define sete eixos de atuação, que priorizam a regularização fundiária e o zoneamento ecológico e econômico da região. Segundo o documento, o essencial é resolver o problema da ocupação da terra, tirando a Amazônia da situação de insegurança jurídica, controlando com mais efetividade o domínio das terras públicas. “Hoje, menos de 5% das terras em mãos de particulares têm situação jurídica regularizada e 21% das áreas amazônicas são ocupadas por aldeias que estão desamparadas”, afirmou.
Promovido pelo Grupo de Altos Estudos (GAE) do Programa de Engenharia de Produção da COPPE, o evento contou ainda com um debate, na parte da tarde, do qual participaram a professora emérita da UFRJ, Bertha Becker, da reitora da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Marilene Corrêa, da diretora do Museu Goeldi, Ima Vieira, do presidente do Instituto de Terras do Pará (ITERPA), José Heder Benatti.
A professora da UFRJ, Bertha Becker, e o professor da COPPE, Roberto Bartholo, afirmam em recente artigo ser possível manter a floresta de pé utilizando seu potencial sem destruí-la e abrindo novas oportunidades de interação. Para isso, defendem uma utilização produtiva, não predatória e em ampla escala na região, com base no conhecimento científico, em tecnologias avançadas e na inovação.
“A comunidade científica brasileira tem a convicção de que a contenção do desmatamento e o desenvolvimento da Amazônia só se farão mediante um modelo de desenvolvimento inovador capaz de utilizar e conservar a floresta e os recursos aquáticos ao mesmo tempo. Essa via da sensatez não se resume à floresta. É possível modernizar a produção em áreas desmatadas produzindo até quatro vezes mais em metade da área que hoje se ocupa”, ressaltam os pesquisadores.