Marina Silva fala na COPPE sobre Amazônia e diálogo dos saberes
Planeta COPPE / Notícias
Data: 14/08/2008
Professores e alunos lotaram o auditório da COPPE para ouvir a senadora Marina Silva falar sobre Meio Ambiente e Desmatamento da Amazônia. Marina começou sua conferência fazendo uma homenagem à COPPE e ao seu fundador, professor Alberto Luiz Coimbra que, há 45 anos, motivado por uma insatisfação com os cursos de engenharia oferecidos no Brasil, criou a COPPE. “Coimbra fez algo nobre, que já formou inúmeros doutores e mestres e possui doze programas de excelência. Tudo isso começou, fruto de uma insatisfação”, afirmou Marina, destacando a importância do que chamou de diálogo dos saberes, citando como exemplo a parceria entre o Ministério e a academia, sem a qual, segundo ela, não seria possível implementar ações corretas e com respaldo técnico.
A ex-Ministra aproveitou a ocasião para agradecer ao Diretor da COPPE e Secretário Executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, Luiz Pinguelli Rosa, por sua colaboração técnica enquanto esteve à frente do Ministério do Meio Ambiente, e ao professor Emilio La Rovere, coordenador do Laboratório Interdisciplinar de Meio Ambiente (Lima) da COPPE, pelo desenvolvimento de projetos, como o de Avaliação Ambiental Estratégica. Ressaltou ainda pesquisas importantes desenvolvidas na instituição voltadas para o meio ambiente, como os estudos sobre mudanças climáticas e energias alternativas, dando como exemplo a tecnologia inovadora para geração de energia a partir das ondas do mar.
A senadora disse reconhecer a necessidade de o Brasil aumentar sua oferta de energia elétrica, mas ressaltou que nem por isso daria licenciamento para empreendimentos que possam afetar negativamente o ecossistema brasileiro. “Como Ministra do Meio Ambiente, não poderia ter permitido o licenciamento ambiental para a construção de usinas hidrelétricas, como a do Rio Madeira, sem que fossem acatadas as medidas de preservação recomendadas”, explicou.
Marina também falou sobre o veto do presidente Lula a um artigo da Medida Provisória que condicionava a regularização fundiária de propriedades na Amazônia Legal ao zoneamento ecológico e econômico dos estados. De acordo com a ex-ministra, a ampliação do limite das áreas públicas ocupadas, de 500 para 1.500 hectares, podendo ser vendidas sem licitação, traz um prejuízo para o Brasil e é uma contradição ao Plano de Combate ao Desmatamento. Segundo a senadora, o novo limite possibilita que haja ocupação ilegal em terras públicas e é uma ameaça aos mais de 25 milhões de hectares das áreas florestais que ainda não foram legalmente destinadas. “O desmatamento ainda é um grande desafio do Brasil. Não é uma questão simples e puramente do setor ambiental, mas de segmentos de toda a sociedade”, alertou a senadora, enfatizando que há muitas áreas e interesses distintos envolvidos na política do meio ambiente.
Conquistas e futuros desafios relatados em bom tom
Marina aproveitou para fazer um balanço das contribuições de sua gestão frente ao Ministério e não se esquivou de falar sobre o que ainda precisa ser concluído. Segundo a ex- ministra, o governo conseguiu reduzir consideravelmente as áreas devastadas no Brasil: em 2004 estas somavam 27 mil km, passando para 11 mil km em 2007. “Conseguimos este avanço devido aos três eixos centrais criados pelo Ministério de Meio Ambiente, dos quais o que mais caminhou foi exatamente o de combate às práticas ilegais, graças a parceria com o Ministério da Ciência e Tecnologia, que resultou no desenvolvimento de sistemas de monitoramento. Quem também teve importante papel neste processo foi a Policia Federal. A senadora relatou que por meio de um trabalho de inteligência foram realizadas quase 300 operações por ano, comparada a uma média de 140 em anos anteriores.
“O aumento das operações permitiu combater 20 transações ilegais, acarretando na prisão de 60 pessoas e na identificação de 120 servidores que propositalmente lançavam dados errados no sistema de controle ambiental, caracterizando-se como cúmplices das práticas ilegais. O Mato Grosso passou a liderar o desmatamento, ultrapassando o Pará. Iniciamos, então, a operação Curupira que durante 22 meses contou com a participação de 480 policiais federais e 37 servidores do Ibama para combater a exploração ilegal de madeira. Foi uma operação de arrepiar os cabelos e identificamos uma quadrilha que agia dentro do próprio Ibama”, lembrou a ex-ministra.
A inibição de 60 mil propriedades de grilagem na região amazônica, pelo Incra, foi outra atuação recordada pela senadora. “Não foi fácil, mas conseguimos aplicar 4 bilhões em multa e retirar 1.500 empresas, de acordo com o Ibama. Depois desta operação houve uma redução de 59% do desmatamento e detenção de 700 criminosos que praticavam todos os tipos de contravenção que se possa imaginar. Já no Distrito Federal Sustentável, que abrange a BR 163, foram criadas unidades de conservação, com 24 milhões de hectares, o que contribuiu para a redução de 500% do desmatamento na região. Parece muita coisa, mas é apenas o começo. Se tivermos a intenção de diminuir o desmatamento para os brasileiros, vamos fracassar. Temos é que reduzir com os brasileiros”, concluiu com humildade a senadora.
Descontração após a conferência