Martin Schmal, 80 anos: pioneiro da catálise no Brasil
Planeta COPPE / Engenharia Química / Notícias
Data: 20/12/2017
O professor Martin Schmal, do Programa de Engenharia Química da Coppe/UFRJ, foi homenageado com uma edição especial da revista Applied Catalysis, publicada em novembro, como reconhecimento pelo seu pioneirismo e importante contribuição à engenharia química, sobretudo no campo da catálise. A edição, coordenada pelos professores Fabio Passos (Universidade Federal Fluminense) e José Maria Bueno (Universidade Federal de São Carlos), inclui trabalhos científicos de pesquisadores brasileiros e estrangeiros, incluindo ex-alunos e colaboradores do professor Schmal.
Com oitenta anos de vida, completos em 2017, doutor em Engenharia Química pela Universidade Técnica de Berlim, membro do corpo docente da Coppe desde 1971, e Professor Titular desde 1985, Schmal é considerado um dos pioneiros e maiores expoentes da pesquisa e do ensino em Catálise no país, tendo sido responsável por identificar e reunir pesquisadores da área em todo o país, e trazer reconhecimento internacional ao conhecimento produzido neste campo, no Brasil. Tendo orientado 84 dissertações de mestrado e 58 teses de doutorado, Schmal deu valiosa contribuição à formação de pessoal qualificado para consolidar e elevar a pesquisa no país.
“Ele tem sido um exemplo para todos os seus alunos e colegas, com sua paixão intensa e seu entusiasmo pela catálise. Muitos de nós entraram no campo da catálise por causa de sua apaixonada defesa da importância de manter uma forte capacidade de pesquisa e desenvolvimento no Brasil e sua efetiva apresentação de grande contribuições da catálise para a sociedade”, escreveram Fábio Passos e José Maria Bueno, no prefácio da Applied Catalysis, Special issue in honor of Prof. Martin Schmal.
Admirado por colegas e parceiros
De acordo com a professora Vera Salim, do Programa de Engenharia Química (PEQ) da Coppe, Schmal tem um perfil que contempla de forma igualitária todas as facetas que devem existir em um professor: “uma brilhante carreira acadêmica; todas as gerações que estão em postos-chave da Catálise passaram por aqui e foram alunos dele; perfil de pesquisador de absoluta representatividade; e na extensão foi responsável pela estruturação da Catálise no Brasil, levando internacionalmente o nome da catálise brasileira”.
Neste sentido, é emblemática a criação do Programa Nacional de Catálise (Pronac), criado em 1983 e coordenado por Schmal, em parceria com outros pioneiros como Remolo Ciola (USP); Leonardo Nogueira (Cenpes/Petrobras); Roger Frety e Yu Lau Lam (ambos do Instituto Militar de Engenharia – IME).
“O Pronac estruturou a catálise em diversas universidades, percorrendo-as e identificando quais tinham potencial. Estruturaram o sistema nacional de pesquisa em uma área que identificamos que era estratégica para o país. O programa foi importante para trazer cientistas estrangeiros de renome para o país. Então, sem medo de errar, pode-se afirmar que o Schmal foi responsável por colocar a catálise brasileira em evidência no cenário internacional”, afirma Vera Salim, que fez seu pós-doutorado na Coppe, trabalhando em parceria com Schmal.
Para a pesquisadora Neuman Solange, orientada por Schmal no mestrado e doutorado, no PEQ, o professor foi um dos articuladores da criação da Sociedade Brasileira de Catálise (SBCat) e da Sociedade Iberoamericana de Catálise. “Com isso, tornou uma figura proeminente no cenário internacional. Sua atuação foi fundamental para uma comunidade relativamente pequena na época. Todo mundo que trabalhava com catálise acabou convergindo para a sociedade”, afirma.
Como relata a pesquisadora, Schmal iniciou sua trajetória com uma linha de pesquisa no PEQ, chamada catálise e cinética. “A área foi crescendo de tal forma, que foi juntando todas as pessoas que trabalhavam com catálise. Daí Schmal criou o Núcleo de Catálise (Nucat), com financiamento da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). Ele começou sem grande condição de infraestrutura, mas conseguiu fazer do seu laboratório uma referência na área de catálise”.
A professora Leda Castilho, também do PEQ, foi aluna de Schmal ainda na graduação, na Escola de Química (EQ/UFRJ), em uma disciplina chamada Cinética e Reatores Químicos. “Depois do doutorado, eu prestei o concurso, virei professora e me tornei colega do Schmal. Uma coisa que sempre o marcou foi a preocupação em trazer benefícios para a instituição como um todo. Auxiliando a gente como jovem docente, Schmal coordenou projetos de infraestrutura e destinou parte desta verba para ajudar novos laboratórios. É importante destacar que ele não se preocupava só com seu próprio laboratório, mas com a instituição. É uma característica dele. Querer ajudar os outros”, reconhece Leda.
Além do convívio como aluna e docente, outro ponto em comum que une os professores Martin Schmal e Leda Castilho, é a Alemanha, terra natal de Schmal. “Tenho muito carinho por ele. Temos esse vínculo, que é a Alemanha, onde fiz doutorado. Lembro que pedi uma bolsa de pesquisa para o órgão alemão, o DAD, e quando fui entrevistada, o Schmal seria membro da banca, mas pediu para sair porque ele me conhecia. O que foi corretíssimo, é o que deve se fazer nesta circunstância”, elogia a professora.
“O professor transmite prazer de trabalhar com ciência. Dificilmente alguém resiste a isso. É extremamente cativante. Seu entusiasmo faz com que a gente o siga. Além do carisma, é extremamente determinado. O sucesso de sua carreira mostra isso. Determinação, entusiasmo e carisma são o tripé da carreira do Schmal”, elogia sua ex-aluna.
Na avaliação de Neuman Solange, a catálise é muito valorizada mundialmente, pois não há processo que não passe por catálise e Schmal provou ser um homem de visão por ter vislumbrado essa importância, há décadas. “Hoje os pesquisadores brasileiros têm projeção internacional porque ele foi um dos pioneiros na área. É um pesquisador visionário, ele tem uma “biruta” e sempre vê onde o vento está indo. Schmal catalisou a catálise no Brasil”.
Schmal ajudou ainda a aprimorar a literatura técnica no país, escrevendo quatro livros-textos sobre Engenharia de Reação Química e Catálise. Suas contribuições para o campo obtiveram o reconhecimento nacional e internacional por meio de diversos prêmios: Humbolt Research Award (2003), Science and Technology Prize of Mexico (2003), Scopus/Elsevier/Capes Prize (2009 and 2011), Senior Research prize of FISOCAT e Max Planck Medal of Germany (2014).Desde 2014, Martin Schmal leciona como Professor Visitante, na USP.
Sobre o Nucat
O professor Schmal fundou o Nucat, em 1992, um centro de excelência vinculado ao Programa de Engenharia Química da Coppe que desenvolve pesquisas fundamentais e aplicadas em catálise. Seus principais tópicos de pesquisa são petroquímica e polimerização, membranas e monólitos, química fina, biomassa, hidrotratamento e refino, nanotecnologia e novos materiais, e catálise ambiental.
O Núcleo dá ênfase especial a temas inovadores como novas formas de energia, materiais nanoestruturados para produção de catalisadores, catálise para polimerização, reatores nanoestruturados, modelagem molecular aplicada à catálise e fotossíntese fotovoltaica.
De acordo com Neuman, pesquisadora do Nucat, o Núcleo foi constituído de forma inovadora, com a elaboração de um estatuto, o qual garantia que ele seria regido pela universidade, assegurando o compromisso com a formação de alunos e a sua qualidade acadêmica. Haveria a participação da diretoria da Coppe e da Reitoria da UFRJ em seu Conselho, e o aporte financeiro de empresas mantenedoras ajudaria a manter o Nucat autossustentável.
“Temos linha forte na nanotecnologia, o que é natural porque o universo da catálise é na esfera nano. Preparação de catalisadores. Tudo que abrange a caracterização dos catalisadores. Temos estudos em carbetos, biomassa, estudo cinético da aplicação dos catalisadores; fotocatálise; metais e óxidos”, exemplifica a pesquisadora.