Ministro inaugura laboratório para produção de ligas metálicas
Planeta COPPE / Engenharia Metalúrgica e de Materiais / Notícias
Data: 05/05/2010
A Coppe iniciou o processo de produção da primeira liga experimental de Zircônio do Brasil para uso na área nuclear, batizada pelos pesquisadores de ZirBrasil-1. Com a inauguração do laboratório Mulltiusuário de Fusão a Arco – realizada dia 5 de maio, com a presença do ministro da Ciência e Tecnologia Sérgio Rezende – o país passa a deter tecnologia para o desenvolvimento de ligas metálicas especiais, entre elas a de Zircônico, utilizada na produção dos tubos que armazenam as pastilhas de urânio enriquecido dentro do reator das usinas nucleares. A previsão é de que com a detenção dessa tecnologia, o Brasil passe a economizar em torno de 15 % do preço do elemento de combustível importado, que é utilizado nas usinas nucleares Angra 1 e 2.
O investimento total no laboratório, no valor de R$ 4,4 milhões, contou com financiamento de R$ 3,8 milhões da Finep, e apoio do CNPq, Faperj e Fundação Coppetec. O objetivo é que essa tecnologia, ainda dominada por poucos países, seja transferida para a indústria nacional, possibilitando a produção desses materiais, desde a matéria-prima até a fusão propriamente dita.
“O futuro da área nuclear no Brasil deve ser baseado em tecnologias nacionais, o caminho é reunir esforços e implantar novos laboratórios como esse”, afirmou Sérgio Rezende. O ministro lembrou ainda que o Brasil, com a 6ª reserva de urânio do mundo, não pode abrir mão da energia nuclear. “O país vai continuar crescendo e precisará de mais energia para isso. Temos condições de dominar o ciclo completo do urânio, produzindo os elementos que exigem metalurgia avançada”, afirmou.
O diretor da Coppe, Luiz Pinguelli Rosa, destacou a importância de projetos como esse, onde a universidade cumpre um dos seus papéis que é transformar conhecimento em resultados e benefícios para a sociedade. Também falou sobre as dificuldades pelas quais as universidades e os institutos de pesquisa vêm passando em decorrência de medidas restritivas do Tribunal de Contas da União às suas Fundações de Apoio à Pesquisa. Pinguelli solicitou ao ministro que o governo tente encontrar uma solução para essa questão. “As medidas do TCU vêm dificultando e podem inviabilizar projetos de pesquisa como esse laboratório que inauguramos, que trazem benefícios à sociedade e só são viabilizados por meio das fundações”, afirmou.
O ministro concordou com o diretor da Coppe sobre as dificuldades que a área de ciência e tecnologia vem passando com as restrições do TCU e anunciou que na semana que vem será votada no Congresso uma emenda para regularizar a relação das entidades de pesquisa com as fundações de apoio, revelou o ministro.
Segundo o professor da Coppe Luiz Henrique de Almeida, coordenador do novo laboratório, o Brasil ainda não produz ligas de zircônio em escala significativa. “Essa é uma oportunidade para que o país se torne o primeiro produtor de ligas especiais no hemisfério sul”, afirmou.
A inauguração contou com a presença do presidente das Indústrias Nucleares do Brasil (INB), Alfredo Tranjan Filho, da pró-reitora de Ensino e Pesquisa da UFRJ, Angela Uller, do comandante do Instituto Militar de Engenharia (IME), general de brigada Amir Elias Abdalla Kurban, do presidente do CNPq, Carlos Alberto Aragão, do diretor de Produção da INB, Samuel Fayad Filho.
O novo laboratório é fruto de uma parceira entre o Programa de Engenharia Metalúrgica e de Materiais da Coppe, Indústrias Nucleares do Brasil (INB) e Instituto Militar de Engenharia (IME).
Tecnologia de ponta
O laboratório Mulltiusuário de Fusão a Arco produzirá ligas de zircônio, peças-chaves no armazenamento de elementos combustíveis de reatores nucleares para a geração de energia e ligas de titânio e níquel, utilizadas nas indústrias nuclear, química, aeroespacial, biomédica e de petróleo.
As ligas de zircônio são utilizadas, por exemplo, na recarga de 1/3 dos elementos combustíveis dos reatores nucleares de Angra 1 e 2,. Ao todo, são 115 km de tubos compostos por essa liga metálica especial.
A instalação possui um forno de fusão a arco de última geração, onde as ligas são processadas a vácuo, com capacidade de processamento de até 100 kg de liga. Em um teste-piloto feito no final do ano passado, os pesquisadores da Coppe conseguiram realizar a fusão de um lingote da liga de zircônio, comercialmente conhecida como Zircaloy-4, uma das mais utilizadas no mundo para a fabricação de varetas para o elemento combustível de reatores nucleares.
“A capacidade de processar esses materiais em escalas piloto e semi-industrial é essencial para estimular a produção desses metais e suas ligas no Brasil. Nossa equipe já conseguiu a fusão a arco de um lingote de titânio com dimensões adequadas ao processamento industrial (cerca de 70 kg), um passo fundamental nesse sentido”, festeja Luiz Henrique.