O aquecimento da Terra e as florestas brasileiras

Planeta COPPE / Notícias

Data: 01/11/2000

“Há uma forte pressão dos EUA para que o Brasil concorde em tornar a Amazônia uma espécie de refém dos países industrializados. A proposta, que prevê uma ajuda financeira em troca da preservação da floresta, exime os EUA da responsabilidade de reduzir suas emissões de gases poluentes, conforme o estabelecido pelo Protocolo de Kyoto, em 1997”, criticou o vice- Diretor da COPPE, Luiz Pinguelli Rosa, durante um seminário que reuniu na COPPE especialistas e representantes da comissão que representará o Brasil na VI Conferência da Convenção do Clima, de 13 a 24 de novembro, na cidade de Haia – Holanda. Estiveram presentes ao seminário, o Secretário de Transportes do Estado do Rio de Janeiro, Luís Alfredo Salomão, o Diretor Superintendente da Faperj, Antonio Celso Pereira, o Coordenador Executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas/Presidência da República, Fábio Feldman, o Presidente da Agência Aerospacial Brasileira e Coordenador de Mudanças Globais (MCT), Luiz Gylvan Meira, o Coordenador do LBA, INPE e Comissão de Mudanças Climáticas da SBPC, Carlos Nobre, Vice Presidente Executivo do CBDES – Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável, entre outros.

Como manter a autonomia das florestas brasileiras foi o tema central do debate sobre a proposta brasileira em relação à redução de gases de efeito estufa e aquecimento global, que será apresentada na próxima reunião mundial sobre mudanças climáticas. As atenções voltam-se para a floresta amazônica, que, de acordo com a proposta americana, funcionaria como uma espécie de fiador para que os países desenvolvidos pudessem continuar emitindo gases poluentes, como o dióxido de carbono (CO2), principal responsável pelo efeito estufa. Preocupado com a autonomia do país, o presidente da Agência Aeroespacial Brasileira, Luiz Gylvan Meira, ressaltou que a posição do governo brasileiro é de que “a cooperação entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento não pode ser concebida como uma forma de transferir aos países em desenvolvimento a responsabilidade pela redução global das emissões”.

O lobby americano

Em visita à COPPE, o Diretor Executivo do American Council for Energy-Efficient Economy (ACEEE), Howard Geller, confirma a pressão americana. “Há um lobby muito grande de empresas de óleo e gás e de carvão dentro do Congresso Americano, afirmando que o Protocolo é prejudicial ao país” revelou. Membro do President Council of Advisers on Science and Technology, grupo de consultores que assessoram o Presidente dos Estados Unidos na tomada de decisões estratégicas sobre investimentos na área de ciência e tecnologia, Geller acrescenta que caso haja uma vitória do candidato George Bush, por exemplo, será praticamente impossível que o protocolo seja regulamentado. Ele alerta que as emissões de CO2 nos EUA têm aumentado 1% ao ano.

Brasil: florestas em chamas

Segundo o coordenador do INPE, Carlos Nobre, integrante da Comissão de Mudanças Climáticas da SBPC, é preciso criar atrativos para evitar o desmatamento. “O Brasil emite relativamente pouco, mas está entre os 10 maiores poluidores do mundo. A maior parte desta emissão é proveniente do uso da terra, com as queimadas e o desmatamento na Amazônia”, afirma. Segundo Nobre, entre junho de 1998 e outubro de 2000, foram registradas cerca de 64 mil queimadas na região. Um percentual que extrapola até mesmo os benefícios obtidos com a exploração da pecuária. Segundo o pesquisador, a região nem possui vocação para tal atividade, registrando inclusive índices baixíssimos de cabeças de gado por hectare, de 0,6% a 0,2% nas áreas mais úmidas. Já o Coordenador de Mudanças Globais (MCT), José Miguez, alerta para o fato de que o Brasil caminha para um crescimento de suas emissões. A estimativa é de que até 2010 o índice de emissão do Brasil aumente 14 vezes devido ao programa do governo de geração termelétrica.

Transportes: um dos vilões do C02

Outra grande preocupação dos especialistas concentra-se no setor de transportes, uma das atividades que mais contribuem para a emissão de gases poluentes. Para se ter uma idéia, o setor de transportes consome cerca de 22% de toda energia produzida no mundo, o que corresponde a cerca de 50% do consumo mundial de petróleo e 22% das emissões globais de CO2. Nos últimos trinta anos, a evolução da emissão mundial de CO2 na atmosfera cresceu 46%, enquanto as provenientes do setor de transportes aumentaram 72%. Trata -se de um problema mundial que tem como principais vilões os países ricos. Só os EUA respondem por 23% das emissões de dióxido de carbono, ou seja, 1/4 de todo o CO2 emitido no mundo.

Durante o evento, foi realizado o lançamento do livro Transporte e Mudanças Climáticas, de autoria de Suzana Kahn Ribeiro, Cláudia do Valle Costa, Eduardo Gonçalves David, Márcia Valle Real, Márcio de Almeida D’Agosto, que trata do impacto do setor de transportes sobre as mudanças climáticas.