Ônibus elétrico a etanol é apresentado em Maricá

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Data: 31/05/2022

A Coppe/UFRJ e a prefeitura de Maricá apresentaram, dia 26 de maio, um ônibus elétrico que consome energia produzida a bordo a partir do etanol e que passará a circular no final deste ano pela cidade em fase de testes. O veículo é uma das respostas da Coppe, que passou a contar com a parceria de Maricá, a dois grandes problemas ambientais e econômicos: o pesado uso de diesel, combustível poluente de origem fóssil, para mover as frotas de veículos coletivos; e a ineficiência dos motores a combustão interna, que em média aproveitam apenas cerca de 20% da energia contida no combustível. Após a apresentação, o veículo ficou exposto na rodoviária de Maricá até o fim de semana para demonstração e explicação técnica sobre o projeto com a equipe da Coppe.

O novo veículo faz parte de uma série de três ônibus desenvolvidos no Laboratório de Hidrogênio da Coppe, sob coordenação do Professor Paulo Emílio de Miranda, com diferentes combustíveis não poluentes, que rodarão em Maricá, a partir de dezembro e durante um ano, em período de testes. Todos possuem tração elétrica e aos poucos entrarão em circulação com o objetivo de renovar a frota dos 125 ônibus Tarifa Zero, que circulam por toda a cidade com 36 linhas. O segundo ônibus é 100% elétrico e o outro é híbrido elétrico-hidrogênio, cujo protótipo da primeira versão foi lançado em 2010 e o da terceira versão em 2016, durante os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro.

Paulo Emilio discursa ao lado do prefeito Fabiano Horta

O ônibus híbrido elétrico-etanol tem a vantagem de utilizar um combustível que o Brasil domina como nenhum outro país: tem ampla infraestrutura de produção, distribuição e comercialização e vastas possibilidades de aumento de produção. De acordo com o professor Paulo Emilio, o veículo é equipado com um gerador de energia elétrica embarcado que, denominado CESE-Etanol (conversor de energia seguidor de eficiência a etanol), funciona como um extensor de autonomia e foi totalmente desenvolvido na Coppe. “O gerador funciona em regime permanente, proporcionando maior eficiência energética no seu uso. Neste veículo, a hibridização da energia tem a vantagem adicional de eliminar o maior inconveniente dos veículos elétricos abastecidos apenas na rede: a baixa autonomia”, explica o professor da Coppe.

Após período de testes, a cidade de Maricá irá escolher o modelo de ônibus a ser adotado no processo de descarbonização da frota municipal, podendo até optar em utilizar os três. Além de favorecer o meio ambiente, a iniciativa vai gerar recursos financeiros para a cidade com royalties e vendas futuras. O projeto envolve três esferas da prefeitura em seu desenvolvimento: Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico; Instituto de Ciência, Tecnologia e Inovação de Maricá (ICTIM); e Empresa Pública de Transportes (EPT).

“O desenvolvimento dos ônibus é um marco na construção de uma Maricá do presente, que dialoga com perspectivas de futuro. Estamos trabalhando para assegurar novas oportunidades para a cidade e reforçar políticas de mobilidade urbana inovadoras, marca do município ao longo da última década”, afirma o prefeito de Maricá, Fabiano Horta.

O diretor-presidente do ICTIM, Celso Pansera, ressalta que a iniciativa da gestão municipal chega em forte momento dos debates mundiais sobre avanços na utilização de energias renováveis em ambientes urbanos. “Estamos buscando uma matriz limpa, na qual o único descarte é a produção de água. Queremos criar um ambiente inovador, em um contexto mundial de busca por alternativas sustentáveis para o planeta”, diz Pansera.

O secretário municipal de Desenvolvimento Econômico, Igor Sardinha, que deu origem a essa iniciativa com a Coppe, afirma que Maricá tem a ambição de se tornar uma referência em economia sustentável. O objetivo, em médio prazo, é virar um centro de produção de soluções em energia com matriz baseada em fontes limpas. “Nós sempre procuramos aproveitar as possibilidades que temos com recursos atuais dos royalties do petróleo para pensar no momento posterior, tanto no aspecto ambiental como econômico. Buscamos diversificar a economia local e criar arranjos produtivos com novas tecnologias, gerando emprego e renda independentemente de variações do petróleo. Os ônibus com tração elétrica da Coppe são a porta de entrada para fortalecer nossa política econômico-ambiental”, diz Igor Sardinha.

Sobre o ônibus híbrido elétrico-etanol

Além de utilizar fonte renovável de energia, o veículo foi estruturado para garantir o máximo de eficiência energética e o mínimo – ou nada – de poluição. A chave é um inteligente sistema de hibridização e gestão da energia a bordo. Ao contrário de veículos elétricos convencionais, que carregam suas baterias exclusivamente na rede elétrica, o novo ônibus produz eletricidade a bordo, usando o CESE-Etanol. Além disso, também realiza o aproveitamento de parte da energia cinética em processos de frenagem e desaceleração, convertendo-a em energia elétrica para uso a bordo.  O protótipo possui confortos extras para os passageiros, como tomadas para o carregamento de celulares, laptops e outros dispositivos móveis.

Assim como outras metrópoles do planeta, as grandes cidades brasileiras consomem pesadamente combustíveis fósseis para movimentar suas frotas de veículos coletivos. Somando o consumo de gasolina pelos automóveis, o setor de transportes no Brasil responde por mais da metade do consumo de derivados de petróleo e menos de 0,4% do consumo de eletricidade. O ônibus da Coppe abre uma grande perspectiva de eletrificação dos transportes no país. Considerando que a maior parte da energia elétrica no país já vem de uma fonte renovável e não poluente – as hidrelétricas –, esta é uma oportunidade para o Brasil inverter totalmente o panorama do seu transporte urbano, tornando-o um dos mais sustentáveis do mundo.

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