Pesquisa da Coppe avalia gestão de resíduos sólidos no Rio de Janeiro
Planeta COPPE / IVIG / Planejamento Enérgico / Notícias
Data: 22/12/2010
De 15 mil toneladas de resíduos sólidos coletados no Estado do Rio de Janeiro, apenas 8% são selecionados para reciclagem. E desse reduzido percentual, somente 4% conseguem ser reaproveitados pela indústria. De acordo com a tese de doutorado defendida na Coppe pelo pesquisador Cícero Pimenteira, com uma melhor gestão pública e tecnologias disponíveis, hoje, 80% do material destinado para a reciclagem poderia ser reaproveitado na indústria, reduzindo prejuízos econômicos e passivos ambientais.
A má gestão e, no caso de alguns municípios, a falta de recursos para o orçamento aplicado na limpeza pública acarretam prejuízos ambientais e econômicos, podendo resultar em problemas de saúde, como, por exemplo, epidemias de dengue e leptospirose. “A quantia que o governo deixou de aplicar em limpeza pública provavelmente terá de ser gasta em ações emergenciais, tanto em saúde como em obras de contingenciamento. Em geral, os prejuízos são bem maiores”, adverte o pesquisador, que cita a tragédia ocorrida recentemente no Morro do Bumba, em Niterói, onde os moradores ocuparam o terreno de um lixão com a anuência da prefeitura.
No estudo que desenvolveu durante quatro anos para a tese de doutorado defendida no Programa de Planejamento Energético da Coppe, sob a orientação do professor Luiz Pinguelli Rosa, Cícero avaliou as ações dos gestores de resíduos sólidos de 19 municípios da região metropolitana do Rio de Janeiro e o impacto de suas decisões sobre outros setores da sociedade. Foram analisadas ações de médio e longo prazo propostas por municípios e avaliado como as decisões tomadas por gestores de políticas públicas no setor impactam a destinação dos gastos públicos empregados na gestão de resíduos sólidos.
Instalar um aterro no município de Seropédica é um equívoco
Como parte do estudo, Cícero também avaliou as propostas para a substituição do aterro de Gramacho, que recebe, diariamente, 8 mil toneladas de lixo, somente do Rio de Janeiro, fora outros municípios, e encontra-se em processo de encerramento. Uma das alternativas propostas para substituir Gramacho é instalar um aterro em Seropédica, município da região metropolitana do Rio.
Para o pesquisador, a transferência da disposição final de resíduos para o município de Seropédica é um equívoco, um erro no planejamento estratégico do estado no médio e longo prazo. “O local proposto está situado sobre o aquífero Piranema e próximo ao rio Guandu, que é responsável pelo abastecimento de água do Rio de Janeiro. O risco de contaminação é muito alto”, adverte o pesquisador. Segundo Cícero, a escolha de Seropédica também é um erro em termos de planejamento estratégico de longo prazo, se consideradas as condições físicas da região. O aterro de Gramacho já atingiu o seu limite. “É necessário um substituto imediato, mas, estrategicamente, é um equívoco em termos de planejamento e de risco ambiental”, critica.
Outro problema identificado durante a pesquisa é de capacitação técnica dos responsáveis pela gestão. “Muitas das prefeituras não dispõem de corpo técnico capacitado para tomar decisões acertadas. O que percebemos é que geralmente os gestores não sabem interpretar ou não analisam com qualidade todas as informações disponíveis”, acrescenta.
Por essa razão, Cícero insiste na qualificação continuada dos gestores de resíduos sólidos. Para ele, não se pode pensar a gestão apenas buscando tecnologias de melhor aproveitamento dos resíduos, sem preparar as pessoas responsáveis para a coordenação dessas ações. “Hoje, não entendemos como foi possível instalar o aterro de Gramacho em cima de um manguezal, mas discute-se a implantação de um aterro sobre um aquífero que poderá suprir o abastecimento de água para o estado. As consequências podem ser desastrosas”, alerta Cícero.
Avaliação de gestores de resíduos contraria dados oficiais
Para realização da pesquisa, Cícero elaborou um questionário que foi submetido a gestores de resíduos sólidos de 19 municípios da região metropolitana do Rio, que representam cerca de 80% da população do estado.
“Constatei nas respostas uma grande diferença entre os dados e resultados das estatísticas oficiais e a percepção dos gestores em relação ao trabalho. Muitos gestores, por exemplo, avaliaram de forma positiva os recursos disponíveis e a qualidade dos serviços, contrariando a avaliação do IBGE e do Pnud, que os consideram abaixo da média”, revela.
Para processar as informações coletadas durante a pesquisa e compará-las com dados de institutos de pesquisa oficiais, o pesquisador lançou mão da lógica fuzzy, uma sofisticada ferramenta de modelagem que contempla variáveis quantitativas e qualitativas, como volume de matéria orgânica e inorgânica, lixo per capita, orçamento municipal destinado à gestão de resíduos sólidos, tratamentos de disposição final do lixo empregados pelas prefeituras, coleta seletiva e reciclagem.
Segundo Cícero, a sociedade necessita de novas formas de consumo menos intensivas de recursos. “Toda a pesquisa que envolve análise de resíduos gerados pela sociedade direciona para uma necessidade de mudança no padrão de consumo. Reduzir o volume de lixo depende de uma maior capacitação técnica daqueles que administram os recursos públicos relativos à gestão dos resíduos sólidos”, acredita.
A pesquisa de campo foi realizada no Instituto Virtual de Mudanças Globais (Ivig) da Coppe e teve apoio do projeto Impactos Sociais de Políticas Públicas Relacionadas a Serviços de Saúde (Soci-Água), financiado pela Finep.