Pesquisa revela os vilões do trânsito no Centro do Rio
Planeta COPPE / Engenharia de Transportes / Notícias
Data: 27/02/2007
Os motoristas cariocas são os principais responsáveis pelos constantes engarrafamentos no Centro do Rio de Janeiro. Protagonistas de irregularidades como fila dupla, avanço de sinal e infração a regras básicas do trânsito, os motoristas dificultam o fluxo, reduzindo a velocidade operacional média do tráfego no Centro. Esta é uma das conclusões da pesquisa inédita realizada por uma equipe de 20 pesquisadores do Programa de Engenharia de Transportes da COPPE, sob a coordenação do professor Paulo Cezar Martins Ribeiro.
Os pesquisadores da COPPE passaram um mês coletando dados e observando o trânsito em 51 cruzamentos que cortam as principais avenidas do Centro da cidade. “Constatamos que a solução para os problemas de tráfego no Centro do Rio não está em simplesmente restringir a circulação de veículos de passeio, uma proposta que vez em quando vem à tona”, afirma Paulo Cezar. Para comprovar sua tese, o especialista revela resultados obtidos com o uso de um simulador usado pela equipe durante a pesquisa. A simulação registrou que o trânsito na Av. Rio Branco pela manhã flui a uma velocidade média de 25,7 km/h. No entanto, na realidade a velocidade é menor, devido ao desordenamento causado pela condução dos motoristas que violam regras básicas, desrespeitando preferenciais, avançando sinais, estacionando em locais proibidos, e pela falta de uma fiscalização mais eficiente. Segundo o professor, a velocidade medida na Av. Rio Branco é razoável para um centro urbano e muito próxima da que se poderia obter caso fosse adotada uma medida mais radical, como impedir totalmente a circulação de veículos particulares na região, em média 26,7 Km/h. “Isso não resolverá o problema. Com uma fiscalização eficaz e maior conscientização por parte dos motoristas, o custo benefício seria maior e todos sairiam ganhando”, garante.
Mas há outros fatores que colaboram para congestionar o tráfego no Centro. A extensão das filas formadas por veículos parados nos sinais que bloqueiam os cruzamentos é um deles. Os pesquisadores chegaram a registrar filas com 120 veículos parados entre as ruas República do Paraguai e Evaristo da Veiga, onde o sinal é mantido verde por apenas 46 segundos. Para este caso, a solução é simples. Segundo os especialistas, aumentando para 76 segundos o tempo de sinal aberto para veículos é possível reduzir de 120 para 30 o número de veículos parados, diminuindo significativamente o impacto na Rua Evaristo da Veiga, onde a quantidade de tráfego é pequena.
Pesquisadores sugerem corredor exclusivo para ônibus e alteração nos semáforos
Mais importante do que revelar os vilões do trânsito, o estudo da COPPE resultou numa grande base de dados que, segundo Paulo Cezar, será de grande valia para prever o comportamento do trânsito no Centro do Rio e sugerir medidas preventivas. Com base nestas informações, os especialistas relacionaram uma série de medidas para solucionar os principais problemas, que vão desde mudanças no sentido do fluxo até alteração no tempo dos sinais de trânsito, cujos dados de sincronização dos semáforos foram fornecidos pela CET-Rio.
As simulações confirmaram algumas medidas já sugeridas pelo coordenador do estudo. Uma delas é a criação de corredores exclusivos para ônibus. “Os corredores podem propiciar aumento na velocidade média dos ônibus, diminuindo o tempo de percurso. Com isso, esses veículos se tornarão mais atrativos, podendo resultar na redução do número de vans, kombis e no próprio número de ônibus no Centro da cidade, já que o tamanho da frota se dá em função do tempo que eles levam para completar os percursos na região”, explica Paulo Cezar. Segundo o professor, a medida trará benefícios até mesmo para o meio ambiente, implicando na redução da emissão de gases poluentes.
Rio Branco recebe milhares de veículos por hora
Não por acaso, a Rio Branco foi objeto das primeiras análises e simulações da equipe da COPPE. Desde 1905, ano de sua inauguração, a Rio Branco foi adotada pelos moradores da cidade como sua principal passarela. Além de ser constantemente palco de manifestações públicas, que vão desde passeatas a blocos de carnaval, é uma das mais importantes vias do Centro da cidade, apresentando tráfego intenso na maior parte do dia. Com cerca de 2 km de extensão, a Rio Branco funciona como uma espécie de mar na qual deságuam milhares de veículos por hora.
Para se ter uma idéia do grau de impacto na avenida, os pesquisadores registraram que dos 3.250 veículos que por hora passam pela Presidente Vargas, sentido Estácio – Candelária, 50% têm a Rio Branco como destino. São em média 387 carros de passeio, 300 ônibus, 297 táxis, 47 caminhões e 521 vans e kombis. Somando os veículos já em curso na Rio Branco, antes mesmo de chegar à Avenida Nilo Peçanha esse contingente aumenta, totalizando 530 automóveis, 575 ônibus, 948 táxis, 35 caminhões, e 379 vans e kombis. Segundo os especialistas, no período das 8 às 10 horas da manhã cerca de 2.500 veículos trafegam pela Avenida Rio Branco.
“É preciso tomar medidas de curto, médio e longo prazo. Alterar o tempo dos semáforos sem prejudicar os pedestres, por exemplo, é uma ação simples que pode ajudar a mediar à intensidade de tráfego em algumas partes da via”, sugere Paulo Cezar. O especialista afirma que com base nas informações obtidas na pesquisa, é hoje possível prever impactos e soluções para o tráfego no Centro da cidade, cuja intensidade conseguiu até mesmo abalar o tradicional bom-humor carioca.