Pesquisadores da Coppe implantam técnica inovadora para analisar marcha de pacientes com pé caído
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Data: 26/08/2024
Uma tecnologia que associa saúde e engenharia, está sendo aplicada por pesquisadores do Programa de Engenharia Biomédica (PEB) da Coppe/UFRJ, de forma inédita no mundo, para avaliar pacientes diagnosticados com a “marcha do pé caído”. O método, que inclui análise tridimensional, está sendo utilizado em pacientes que tiveram hanseníase e estão em acompanhamento no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF) da UFRJ. De lá, eles são encaminhados ao laboratório da Coppe, onde são feitas as avaliações, cujos resultados da análise são encaminhados para a equipe da Faculdade de Medicina da universidade, que é parceira desta pesquisa.
Na hanseníase, o pé caído está associado à lesão do nervo fibular causada por uma bactéria denominada mycobcterium leprae. Mesmo depois da cura da infecção, a progressão da lesão neural pode continuar provocando sequelas, incapacidades físicas e deficiências com consequências no trabalho e na vida social. A análise da marcha gera dados precisos que descrevem a dinâmica dos movimentos dos membros inferiores, isto é, o padrão da marcha desses pacientes, antes e após a correção cirúrgica do pé caído, tornando-se um importante aliado no tratamento desta sequela.
De acordo com o professor Luciano Menegaldo, coordenador do Laboratório de Biomecânica do PEB/Coppe, onde a tecnologia inicialmente foi implantada, o pé caído dificulta ou gera incapacidade na movimentação do tornozelo, devido à fraqueza ou à paralisia dos músculos responsáveis por esse movimento. Conhecidos como dorsiflexores do tornozelo, estes músculos possibilitam que a ponta do pé seja levantada durante o caminhar, evitando que ela seja arrastada. Este tipo de lesão faz com que o paciente adote uma marcha anormal que afeta todo o movimento de locomoção.
A hanseníase é uma doença infecciosa crônica. Segundo a Organização Mundial da Saúde, em 2022 houve 174.187 casos registrados no mundo, sendo o Brasil o segundo país com maior número de casos, com 19.635 novos, índice mais alto das Américas. No mundo, fica atrás apenas da Índia.
O HUCFF da UFRJ possui um centro de referência de reabilitação física, cirúrgica e social de pacientes com sequelas de hanseníase. Uma equipe interprofissional e interdisciplinar composta por médicos ortopedistas, médicos dermatologistas, médicos neurocirurgiões, assistentes sociais, psicólogos, terapeutas ocupacionais e fisioterapeutas atende cerca de 80 pacientes por mês. A recuperação física é feita por meio da fisioterapia e/ou cirurgia de transferência de tendão de um músculo que até então cumpria outra função. Sem a instrumentação da Coppe, os profissionais dependiam apenas de suas análises subjetivas, observacionais, baseadas em suas experiências, sem auxílio de dados quantitativos que guiassem a avaliação do tratamento cirúrgico.
A avaliação quantitativa da marcha desses pacientes serve para orientar a indicação cirúrgica e o acompanhamento pós-cirúrgico de pacientes. “Esta avaliação biomecânica nos permite aferir com mais precisão a marcha do paciente e oferece elementos que garantem boa função dos seus pés e, portanto, uma melhor qualidade de vida”, explica a médica dermatologista do HUCFF Maria Katia Gomes. Professora do Programa de Pós-Graduação da Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFRJ, Maria Katia faz parte da equipe de profissionais que atua diretamente no tratamento dos pacientes do HUCFF. “Esses marcadores são comprovações científicas da resposta funcional ao tratamento cirúrgico do paciente, de forma objetiva”, diz.
Menegaldo explica que esta avaliação quantitativa é o primeiro passo para fazer um tratamento com chance de maior eficácia. Para gerar esses dados, são utilizados instrumentos de captura tridimensional de movimento, com oito câmeras infravermelhas (mesmo sistema utilizado em jogos e na produção de animação gráfica), e duas plataformas de força. “Nunca se estudou a biomecânica dessa lesão com esse nível de refinamento, pois os países desenvolvidos que já possuíam essa tecnologia sofisticada, em geral, não são acometidos pela hanseníase”, afirma o professor.
A professora colaboradora do PEB/Coppe, Adriane Muniz, acrescenta que para obterem os dados também utilizam marcadores reflexivos afixados nas pernas dos pacientes, para capturar o posicionamento dos segmentos corporais e quantificar ângulos, velocidades e acelerações de cada articulação do corpo. “E com a ajuda das plataformas de força, podemos quantificar os torques gerados, ou seja, as forças que geram o movimento nas articulações. No todo, trata-se de uma análise de forma quantitativa que ainda não havia sido realizada e, além disso, podemos analisar outros dados complementares, a exemplo dos que capturamos com eletromiografia da ação muscular durante o movimento”, explica Adriane, que também é professora da Escola de Educação Física do Exército (EsEFEx).
A partir de agora, as análises serão realizadas no Laboratório Clínico de Análise do Movimento (Lacam), também coordenado pelo professor Menegaldo, que foi implantado no recém-lançado Núcleo de Tecnologia e Inovação em Engenharia Biomédica (NTIEB) da Coppe. Neste novo espaço outros pacientes do HUCFF e também do Instituto de Pediatria (IPPMG) e de outras unidades do Complexo Hospitalar da UFRJ, poderão ser atendidos para análises semelhantes, envolvendo outras doenças, como mal de Parkinson, paralisia cerebral e acidente vascular cerebral (AVC), dentre outras.
Com base neste estudo, foi publicado na Revista Clinical Biomechanics o artigo Gait analysis of leprosy patients with foot drop using principal component analysis, em 2023, sendo o primeiro da literatura científica a abordar uma análise tridimensional da marcha de pacientes com pé caído causado por hanseníase. Além dos professores Luciano Menegaldo, Maria Katia Gomes e Adriane Muniz, são coautores do artigo os pesquisadores do PEB/Coppe, Roberto Carvalho Junior e Henrique de Oliveira; o médico ortopedista do HUCFF Jose Carlos Cohen; a fisioterapeuta do HUCFF, Silvana Miranda; e o médico pediatra do HUCFF e professor da Faculdade de Medicina da UFRJ, Antonio Jose Ledo da Cunha.
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