Coppe participa de proposta de mecanismo financeiro ao G20
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Data: 19/09/2024
Pesquisadores da Coppe/UFRJ e de outras instituições, que colaboram com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), apresentaram uma proposta inovadora de instrumento financeiro para garantir investimentos em mitigação climática em países do Sul global. A proposta, chamada Arquitetura de Garantias Multi-Soberanas (MSGA), foi submetida ao T20 (grupo de think tanks dos países do G20) e será discutida durante a reunião do G20, que ocorre em novembro, no Brasil.
Segundo Emilio La Rovere, professor do Programa de Planejamento Energético da Coppe e coautor do estudo, ações redução da emissão de gases de efeito estufa demandam altos investimentos iniciais e têm retorno financeiro a longo prazo, o que torna difícil atrair investidores. “Há uma preferência global por investimentos especulativos, que não contribuem para o financiamento produtivo necessário para enfrentar as mudanças climáticas”, comenta o professor. Para ele, este é um dos maiores desafios na luta contra a crise climática.
Com o espaço fiscal dos governos cada vez mais limitado, os autores da proposta defendem o uso de garantias públicas como forma de reduzir riscos e atrair fluxos de investimentos privados a custos mais baixos. A ideia é que países com alta credibilidade no mercado, avaliados com grau de investimento AAA, forneçam garantias que funcionariam como uma espécie de seguro para viabilizar projetos em países em desenvolvimento. Isso tornaria mais aceitável para os cidadãos de países ricos saber que seus impostos garantem investimentos (sendo gastos somente no fracasso dos projetos) em vez de transferências diretas de recursos.
La Rovere destaca que essas garantias não são uma solução milagrosa, mas, se bem desenhadas e aplicadas, podem desbloquear fluxos de capital privado e ampliar o financiamento para iniciativas de baixo carbono. Ele argumenta que a Arquitetura de Garantias Multi-Soberanas (MSGA) é essencial para alavancar o financiamento privado e apoiar as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) do Acordo de Paris.
O estudo visa contribuir para superar o desafio de multiplicar os investimentos em mitigação climática em várias regiões: de 7 a 14 vezes no Sul da Ásia, de 5 a 12 vezes na África, e de 6 a 8 vezes na América Latina, entre outras áreas. O professor explica que o “déficit de investimento climático” é resultado do “paradoxo da infraestrutura”, onde projetos com alto retorno potencial não recebem financiamento devido aos riscos iniciais elevados. Essa realidade afeta especialmente pequenas ilhas e regiões rurais, que ficam fora do radar dos grandes investidores.
Como exemplo de iniciativas multilaterais similares, La Rovere menciona a Just Energy Transition Partnership (Jet-P), uma iniciativa que envolveu países ricos financiando a transição energética de nações como África do Sul, Indonésia e Vietnã. Ele destaca que essas parcerias, que combinam doações e empréstimos, podem ser uma inspiração para o MSGA.
Investidores institucionais, como fundos de pensão, também se beneficiariam da MSGA, pois procuram projetos de longo prazo e baixo risco. “Ter países AAA como garantidores fornece a segurança necessária para atrair esse tipo de capital”, afirma o professor.
Em resumo, La Rovere reforça que, com maior mobilização de capital privado, mais recursos públicos podem ser direcionados para ações de adaptação climática, que, embora mais desafiadoras de financiar, são cruciais para o enfrentamento das mudanças climáticas.
Para mais informações sobre a MSGA, consulte o artigo completo em inglês, neste artigo