Pesquisadores fazem mapeamento das UPPs
Planeta COPPE / Engenharia de Produção / Notícias
Data: 11/10/2012
O tempo gasto na capacitação de policiais para trabalhar no policiamento comunitário e o custo para formar e manter esses profissionais são dois dos muitos desafios que o governo estadual terá de enfrentar se quiser levar as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), implantadas na capital, para outras áreas do Rio de Janeiro. Essas e outras questões são o tema do estudo Mapas conceituais sobre incertezas, pontos críticos e efetividade das UPPs, elaborado como trabalho de conclusão de curso pelos estudantes Felipe Figueiredo e Filipe Bordalo, do curso de Engenharia de Produção da UFRJ, sob a orientação do professor Marcos Estellita Lins e do pesquisador Luis Eduardo Madeiro Guedes, ambos do Programa de Engenharia de Produção da Coppe/UFRJ.
Os mapas conceituais sobre as UPPs possibilitam organizar todos os fatores de influência relacionados às unidades implantadas no Rio de Janeiro. Os mapas foram elaborados a partir de cinco entrevistas: um especialista em armas, um especialista em análise de dados sobre violência, um ex-subsecretário de Direitos Humanos, um especialista em assuntos estratégicos e um pesquisador de ONG. A proposta era ouvir também o secretário de Segurança do Estado do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame. Como não foi possível, a equipe complementou o mapeamento com as entrevistas dadas por Beltrame à imprensa para, dessa forma, ter a sua opinião.
Além da expansão das UPPs para outras regiões do estado, os mapas também apontaram, entre outros aspectos, as principais causas e consequências da violência e da criminalidade no Estado do Rio de Janeiro e o papel e efetividade das UPPs na política de segurança pública do estado. “Com a implantação das Unidades de Polícia Pacificadora, houve uma mudança de paradigma na área de segurança. A política de enfrentamento deu lugar a uma política de prevenção”, destacou o pesquisador Luis Eduardo Guedes.
Esses mapas são uma representação gráfica do mapeamento do pensamento, uma metodologia que vem sendo utilizada por pesquisadores, no Brasil e no exterior, na busca de soluções para os chamados problemas sociais complexos, que envolvem desafios nas áreas da saúde, educação, segurança, trânsito, entre outras.
Unidades têm efetividade local
O mapeamento também mostrou o papel das UPPs nas comunidades ocupadas. Na visão dos entrevistados, com a implantação das unidades, a política de segurança demonstrou preocupação em criar uma barreira entre as crianças e os traficantes. “A chegada das UPPs também foi uma maneira de institucionalizar a presença do estado nas comunidades”, explica Luis Eduardo Guedes.
Mas ainda há desafios a serem enfrentados. Apenas a presença das UPPs nas comunidades não é suficiente para afastar crianças e jovens do tráfico de drogas. É preciso implantar programas sociais, de educação e de qualificação profissional.
Segundo Luis Eduardo Guedes, ainda não há estudos que mostrem a efetividade das UPPs, mas a letalidade diminuiu nas áreas de entorno das unidades. Um dos aspectos apontados pelos entrevistados no estudo é justamente o caráter local da efetividade das UPPs. O tráfico sai das áreas pacificadas, mas migra para outras, na região metropolitana e no interior do estado. “Por meio das UPPs, o estado consegue fazer zonas seguras, mas não consegue fazer uma cidade e um estado seguros”, afirma Luis Eduardo.
A implantação das UPPs, no entanto, foi um golpe nas facções criminosas, segundo o pesquisador, já que, ao fugirem, os traficantes perdem seu território e com isso se enfraquecem. “A venda de drogas pode até continuar, mas o volume negociado caiu e, com ele, o faturamento do tráfico. Com isso, diminuem os recursos para compra de armas e munições”, explica ele.
De acordo com Luis Eduardo Guedes, existe a possibilidade de o estudo ser continuado. Para uma segunda fase, a ideia é ouvir moradores de locais onde há e onde não há UPPs. Em uma etapa seguinte, a equipe deverá quantificar os fatores apontados no trabalho, por meio de uma pesquisa mais abrangente.