Porto de Sepetiba: o futuro do Brasil no comércio internacional
Planeta COPPE / Energia / Notícias
Data: 04/08/2006
A participação do Brasil no comércio internacional nunca foi muito expressiva. Hoje, não chega a 1%. Mas especialistas acreditam que é possível reverter este quadro. Estudo realizado na COPPE mostra que uma alternativa seria investir no comércio de contêineres por navios. “O Brasil e a América do Sul estão hoje em uma posição de esquina no mundo. O comércio de contêineres agrega tecnologia e é lucrativo, portanto o mais indicado para mudarmos o placar deste jogo” – afirma Pedro Elia, pesquisador da COPPE.
De acordo com o estudo, que contou com a participação de especialistas do setor, para ampliar esse comércio é necessário atrair a participação das grandes companhias transportadoras de contêineres. “A solução é investir na expansão do porto de Sepetiba, que desde que começou a operar com contêineres, em 2000, já apresentou crescimento de 100% na quantidade de mercadorias recebidas. A simples introdução de Sepetiba nesse mercado já incentivou a competitividade entre os portos brasileiros, diminuindo os custos de movimentação de contêineres”, afirma Elia, que defendeu sua tese de Doutorado na COPPE sobre o tema e participa de um grupo de pesquisa no Programa de Engenharia de Produção, sob a coordenação economista Carlos Consenza, professor da COPPE.
Portos do Rio e de Santos não têm mais como crescer
Os portos localizados em metrópoles, como o do Rio de Janeiro ou o de Santos, além de não apresentarem condições naturais necessárias para receberem grandes navios, como profundidade do canal de acesso, sofrem a saturação inerente às metrópoles, principalmente relacionada ao transporte. “Também são cada vez mais raras grandes áreas de espaço contínuo e plano para abrigar os contêineres. Hoje, quem passa pela Linha Vermelha ou pela ponte Rio-Niterói, depara-se com vários com pequenos volumes de contêineres espalhados por vários lugares. Esta dispersão torna o comércio mais lento e menos eficaz”, exemplifica Elia.
Atualmente, o Brasil comercializa cerca de cinco milhões de TEUs (*) de contêineres por navios. Deste montante, cerca de 1 milhão de TEUs vai para o Porto de Santos, o maior no setor. Apesar desta posição de liderança, Santos não apresenta mais condições de crescimento. Seu canal, por exemplo, possui 12 metros de profundidade, o que torna inviável a atracação de navios de grande porte. Hoje, os maiores navios chegam a 8 mil TEUs de capacidade. “Para se ter uma idéia do problema, antes de Sepetiba entrar em operação como porto de contêineres, um navio de grande porte só poderia atracar no Brasil se reduzisse sua capacidade de carga pela metade. Caso contrário, correria risco de encalhar no porto de Santos”, relata pesquisador.
Para os pesquisadores da COPPE, Sepetiba é o único porto de todo o Atlântico Sul com capacidade para receber navios de grande porte, que carregam grandes quantidades de contêineres e são responsáveis por parcela significativa do comércio internacional. Segundo eles, as condições naturais do porto são excepcionais: possui um canal de acesso natural de aproximadamente 20 metros de profundidade, um cais de 14,5 metros e 40 km da restinga de Marambaia, que funcionam como uma barreira natural, mantendo sempre calmas as águas do local.
O estudo compara Sepetiba aos portos de Roterdã, Singapura, Hamburgo e Hong Kong, capazes de receber os maiores navios em operação no mundo, com capacidade de até 8 mil TEUs. Também destacam aspectos do porto brasileiro que facilitam atividades de logística necessárias a um porto concentrador. Entre elas, a grande área plana no entorno, capaz de abrigar contêineres e a localização privilegiada, próxima a centros produtores, como Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. “Essas características o torna o único com condições de elevar, tanto o comércio internacional brasileiro como da própria América do Sul”, acredita.
A localização de Sepetiba, o torna um candidato potencial a porto concentrador ou industrial,como são chamados os portos com grande infra-estrutura no entorno, dando condições tanto à distribuição dos bens comercializados para todo o país, quanto ao desenvolvimento industrial e comercial de sua área de influência. “Ele pode alcançar vários estados brasileiros e outros países da América do Sul e da costa oeste da África”, afirma Elia. “Mas para explorar todo o potencial do porto, é preciso realizar as obras de infra-estrutura já previstas no Plano Plurianual do país. Com os investimentos que propomos, o PIB da região aumentaria em torno de quatro vezes. Para se ter uma idéia, hoje, apenas o porto de Roterdam, na Holanda, um dos maiores do mundo, recebe cerca de 7 milhões de TEUs por ano de contêineres, dois a mais que todos os portos brasileiros somados.– conclui o economista Carlos Consenza.
Entre as melhorias previstas, destacam-se as obras de expansão para leste e oeste e a construção de 12 novos terminais, totalizando 25 berços de atracação. Está prevista também a construção de um arco-rodoviário do porto até a cidade de Magé, no Rio de Janeiro, que passará a ser a rodovia BR493. O objetivo é distribuir melhor entre as rodovias o tráfego comercial e de pessoas. Também está prevista a construção de um terceiro trilho na ferrovia que liga Sepetiba ao município de Barra do Piraí, no Rio, por onde passam trens de bitolas diferentes. Até agora, só os trens de bitola (distância entre os trilhos) de 1,60 m chegam ao porto. Os trens que vêm de outros estados e que usam a bitola de 1 m não conseguem passar.
A expansão do porto de Sepetiba implica em melhorias e expansão comercial em todo o país. O estudo prevê, inclusive, a interação com um canal do rio São Francisco para que, por meio de barcaças, os bens comercializados possam chegar ao interior do país. Também prevê a instalação de um aeroporto de cargas na proximidade do porto, uma necessidade de todo porto concentrador para suporte de cargas maior valor agregado. Como na região já existe a base aérea de Santa Cruz, os especialistas sugerem a construção de uma pista paralela a já existente, de modo a não atrapalhar as operações dos jatos da força aérea e, ao mesmo tempo, reduzir custos.
* TEU é a unidade equivalente a um contêiner de 20 metros (Twenty Equivalent Unity, na sigla em inglês).