PPE homenageia professor Pinguelli, em sua Aula Inaugural

Planeta COPPE / Planejamento Enérgico / Notícias

Data: 10/06/2022

O Programa de Planejamento Energético (PPE) da Coppe/UFRJ promoveu, em sua Aula Inaugural 2022, uma homenagem ao ex-diretor da Coppe e ex-professor do PPE, Luiz Pinguelli Rosa. O evento, realizado no dia 23 de maio, contou com a participação do professor Maurício Tolmasquim (PPE), e dos professores Ildo Sauer (USP), Horta Nogueira (Universidade Federal de Itajubá – Unifei) e Sérgio Bajay (Unicamp).

Tolmasquim, colega de Pinguelli no PPE, fez um panorama da atuação de Pinguelli na universidade e na discussão dos grandes temas ligados à política energética no país e destacou que a amizade cultivada por ambos extrapolava o lado profissional e chegava ao convívio familiar.

“Eu conheci o Pinguelli, quando iniciei meu mestrado. Ele foi meu professor de Física e já se destacava pela postura crítica sobre o processo de transferência de tecnologia no acordo nuclear entre Brasil e Alemanha. Ele já era conhecido nacionalmente e eu o admirava pelo ativismo”, relembrou Tolmasquim.

“Pinguelli teve atuação central nos debates das questões nacionais relacionadas ao setor de energia. Em 1979, em depoimento ao Senado criticou vários pontos do Acordo Nuclear Brasil-Alemanha, como os custos que se mostraram muito maiores do que os previstos e a tecnologia escolhida. Ele participou do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), fazendo jus, com outros pesquisadores, do Prêmio Nobel da Paz dado ao IPCC em 2007. Foi convidado, então, a ser secretário-executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas”.

Tolmasquim lembrou ainda como ele, Pinguelli e outros especialistas buscaram alertar o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso acerca dos riscos de um apagão no setor elétrico, o que, efetivamente, aconteceu com o período de racionamento de energia, em 2011. “Nós acompanhávamos de perto a situação dos reservatórios e a gravidade da situação fez com que elaborássemos um relatório, eu, Pinguelli, Roberto d´Araujo e Sebastiao Soares, em 1999 e o enviamos ao presidente, mas, o risco era sempre negado e tratado como alarmismo. Dois anos depois, se concretizou”.

O professor do PPE destacou ainda o estudo feito pela Sociedade Brasileira de Física (SBF), com participação do professor Luiz Pinguelli Rosa, e que apontava a existência de instalações militares na Serra do Cachimbo para testes de artefatos nucleares, o que foi veiculado em junho de 1986 pelo jornal Estado de S. Paulo. “O governo Sarney desmentiu categoricamente, mas o presidente Fernando Collor reconheceu e fechou o poço”.

Compromisso social na discussão dos grandes temas

O professor Maurício Tolmasquim lembrou ainda a origem do Programa de Planejamento Energético, quando professor Pinguelli teve a iniciativa de criar uma área interdisciplinar na Coppe. “Notando que energia é um assunto transversal a diversas disciplinas e envolve questões ambientais, em uma iniciativa de vanguarda, Pinguelli criou o primeiro mestrado interdisciplinar em planejamento energético do país. Inicialmente era uma área dentro do Programa de Engenharia Nuclear e depois ganhou autonomia se tornando o PPE. Algum tempo depois, Unicamp, USP e Unifei seguiram o mesmo caminho, criando programas interdisciplinares em energia”.

O professor Sérgio Bajay também recordou a criação de cursos interdisciplinares na área de energia na Unicamp e também na USP, que motivou o estreitamento de laços entre os pesquisadores da área. “O Pinguelli nos procurou para termos atividades conjuntas. Nessa época surgiu a Sociedade Brasileira de Planejamento Energético (SBPE), sugestão inicial dele, que foi abraçada por nós imediatamente. Também decidimos criar a Revista Brasileira de Energia, que ainda existe e está fortalecida. Um de meus motivadores para ingressar no Planejamento Energético foi exatamente a militância do professor Pinguelli Rosa sempre presente na discussão dos grandes temas”.

Para o professor Horta Nogueira, Pinguelli personifica a trajetória de tecnologias energéticas das últimas décadas. “Um cara que sai da engenharia nuclear passa pelas energias renováveis, vai para meio ambiente. Tinha um humanismo, um posicionamento político, embora não concordasse com tudo, que eu acho brilhante. É importante que se preserve na visão de totalidade do Planejamento Energético, um compromisso social no seu sentido mais humanístico, na busca de qualidade de vida, redução de desigualdades e assimetrias. A universidade pública deve ter um compromisso permanente na busca dessas soluções”, elogiou o professor da Unifei.

Inspiração da luta por um país justo, fraterno e igualitário

“Quando 80 anos assim se vão e ficam tantas coisas, o que vale dizer é que a celebração dessa existência nos deixa reconfortados”, enalteceu Ildo Sauer

Frisando que aquele era um dia (de homenagem póstuma ao seu amigo) que ele preferia que não existisse, Ildo Sauer qualificou o professor Pinguelli como um dos maiores cientistas brasileiros que ele conheceu. “Sempre reconheci que Pinguelli foi uma grande inspiração como mestre, cientista e depois como amigo e companheiro de lutas pela transformação do país. Com ele aprendi a encarar com humildade as raras vitórias nestas lutas e com serenidade as tantas derrotas”.

“A sua trajetória é um marco para a vida brasileira no campo da ciência, da epistemologia. da tecnologia e da formação de cientistas e educadores. Teve um papel amplo. Como cientista engajado, foi um exemplo pelo rigor na construção, metodologia, jamais transigindo quanto ao rigor. Uma inspiração permanente na luta pela apropriação da ciência e tecnologia em favor da construção de um país justo, fraterno e igualitário. Contribuiu para a formulação de políticas públicas e desenvolvimento da ciência e da tecnologia, apropriação sustentável dos recursos naturais para promover transformação econômica e social. Esteve sempre em defesa do patrimônio público”, analisou o professor da USP.

“Nós debatemos muito. Convergências, quase sempre. Nuances? Muitas. Mas, o propósito que nos fez caminhar juntos me inspira até hoje, compromisso de continuar. Esse compromisso nos fortalece, apesar dos tempos sombrios que vivemos hoje. Quando 80 anos assim se vão e ficam tantas coisas, o que vale dizer é que a celebração dessa existência nos deixa reconfortados. Afinal, são poucos os que contribuíram tanto”, concluiu Sauer.


O evento foi transmitido no YouTube e ainda se encontra disponível.

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