Praias em risco: estudo da Coppe revela ameaça real à orla do Rio de Janeiro
Planeta COPPE / Engenharia Civil / Notícias
Data: 03/07/2025

Imagine um futuro sem as faixas de areia de Copacabana ou Ipanema. Sem espaço para estender uma canga, caminhar à beira-mar ou simplesmente contemplar o oceano. Esse cenário, que parece distópico, é justamente o alerta trazido por um estudo inédito da Coppe/UFRJ, publicado na revista Natural Hazards.
Fruto de uma pesquisa liderada por especialistas do Programa de Engenharia Civil da Coppe, o trabalho projeta, com alto nível de detalhamento, os impactos da elevação do nível do mar na região do Rio de Janeiro — um dos pontos mais vulneráveis da costa brasileira. E o que revela é preocupante: praias urbanizadas podem desaparecer de forma irreversível até o final do século.
Ciência com impacto: modelagem inédita e resultados alarmantes
Utilizando o modelo ROMS (Regional Ocean Modeling System) acoplado a um Modelo Digital de Elevação de alta precisão, os pesquisadores simularam os efeitos da elevação do nível do mar — projetada em até 69 centímetros até 2100 — em áreas costeiras e urbanas do Rio. A abordagem, inédita no Brasil, permite uma visão localizada, considerando fatores como uso do solo, batimetria, marés e características ambientais. “As projeções globais não abordam inundações costeiras de forma detalhada. O modelo regional permite enxergar dinâmicas específicas, como correntes, marés e mudanças no nível do mar ao longo do tempo — o que os modelos globais não capturam”, explica a pesquisadora Raquel Toste, uma das autoras do estudo.
Praias como Copacabana e Ipanema em risco
O estudo aponta que bairros como Copacabana, Ipanema, Leme, Leblon, Botafogo e Flamengo estão entre os mais ameaçados. Em muitos casos, não há espaço físico para a faixa de areia se mover à medida que o mar avança, o que pode levar à perda total dessas áreas de lazer e identidade cultural.
Além disso, a simulação mostra um aumento preocupante na extensão das lagoas costeiras, como a Lagoa Rodrigo de Freitas e a Lagoa de Piratininga, e risco de desaparecimento dos manguezais remanescentes da Baía de Guanabara — ecossistemas cruciais para o equilíbrio ambiental e a contenção de enchentes.
Mais do que um alerta, o estudo, realizado pelo Laboratório de Métodos Computacionais em Engenharia (Lamce), oferece uma ferramenta estratégica para políticas públicas. Mesmo em cenários climáticos mais otimistas — com o aquecimento global sendo estabilizado até 2100 — os impactos sobre o litoral carioca são inevitáveis se medidas locais de adaptação não forem adotadas desde já. O detalhamento das áreas mais suscetíveis a inundações, com análise da frequência, profundidade e duração dos alagamentos, permite: mapear zonas de risco real; orientar investimentos em infraestrutura de drenagem e contenção; avaliar soluções de engenharia para a preservação das praias; planejar a realocação de populações vulneráveis; proteger ecossistemas costeiros sob ameaça.
Ciência que orienta decisões
Este estudo mostra que enfrentar a crise climática exige ações ancoradas em dados, ciência e planejamento de longo prazo. A pesquisa da Coppe reforça o papel estratégico da universidade pública na geração de conhecimento aplicado, com potencial direto para orientar políticas públicas, proteger populações vulneráveis e preservar o patrimônio ambiental e cultural da cidade.
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