Presidente da Petrobras afirma que investimentos em P&D serão mantidos
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Data: 20/12/2016
A Coppe/UFRJ recebeu nesta terça-feira, 20 de dezembro, o presidente da Petrobras, Pedro Parente, em sua primeira visita à instituição. O presidente da estatal se reuniu com diretores, coordenadores de programas e professores da Coppe e de outras unidades da UFRJ e apresentou o Plano Estratégico e o Plano de Negócios e Gestão 2017-2021. Em resposta às inquietações de alguns docentes, cujos projetos de pesquisa dependem da parceria com a Petrobras, Parente destacou que os cortes de despesas não atingirão os investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D). O encontro também contou com a participação de representantes de centros de pesquisas sediados no Parque Tecnológico da UFRJ.
“Nós não vamos reduzir projetos de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D). A nossa redução de despesas não passa por isso. Não tenho dúvida de que passamos por um momento muito difícil, mas o setor pode retomar o dinamismo, com os novos leilões que serão realizados em 2017, novas parcerias e desinvestimentos. Diria que estamos começando a trilhar o caminho da melhora”, tranquilizou o presidente da estatal.
No encontro, o presidente explicou que a redução de despesas (estimada em 18%), é uma tendência do setor de óleo e gás, que sofreu muito com a entrada no mercado do shale oil, o óleo de xisto, cujo modelo de negócios é muito diferente do tradicional, com ciclo de vida muito mais curto, e também com o grande aumento da oferta de óleo. “Todas as empresas petrolíferas estão otimizando portfólio, reduzindo custos e efetivo. A Petrobras precisaria fazer o mesmo, ainda que não tivesse ocorrido o aumento explosivo do seu endividamento”, informou Parente.
Conforme relatou Parente, a dívida da empresa passou a ser cinco vezes maior que a geração de caixa operacional. “É a maior dívida dentre as empresas do setor, tanto em termos absolutos quanto relativos. Pagávamos 1,7 bilhões de dólares em juros. Em 2015 passamos a pagar 6,3 bilhões. Nossa dívida quintuplicou e os juros dobraram, se nada for feito pagaremos 17 bilhões em juros”.
Em sua avaliação, o pilar da estratégia para a recuperação da empresa é a sua nova política de preços. “Não estaremos mais descolados dos preços internacionais. O marco regulatório cambiante prejudicou muito o setor, que é capital intensivo e tem longo prazo de maturação.O nosso planejamento passa ainda pela redução da alavancagem da dívida líquida/EBITDA (Lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização, na sigla em inglês), de 5,3, em 2015, para 2,5 em 2018, antecipando em dois anos a meta anterior”, informou Parente.
O professor Luiz Landau, do Programa de Engenharia Civil, lembrou os grandes investimentos de recursos públicos feitos em laboratórios que dependem da parceria com a Petrobras e enfatizou que é preciso continuar lhes “dando vida”. Parente buscou tranquilizar Landau e outros colegas da Coppe: “estamos organizando iniciativas junto a diretoria da Coppe para usarmos essa infraestrutura laboratorial para atender aos objetivos da Petrobras”.
Docentes de diversas unidades da UFRJ fizeram perguntas a respeito de assuntos importantes para o setor e para a economia do país, como a política de conteúdo nacional e a retirada da Petrobras de setores tido como estratégicos, tais quais o setor petroquímico e o de biocombustíveis. Parente esclareceu que a Petrobras está de fato se retirando da operação comercial destes setores – para se concentrar na recuperação da rentabilidade da empresa e redução de seu endividamento – mas não do desenvolvimento tecnológico destas áreas.
O diretor de Relações Institucionais e professor do Programa de Planejamento Energético da Coppe, Luiz Pinguelli Rosa, mostrou-se preocupado com a desvinculação da Petrobras de setores estratégicos para o país como o de distribuição. “A Petrobras tem uma importância enorme para o país por ser uma empresa de energia integrada. Parece um equívoco sair de setores como a distribuição, vendendo partes da empresa inclusive, e de biocombustíveis, que a meu ver, é importante para o futuro da Petrobras”, questionou Pinguelli. “Não vamos sair da distribuição. Oferecemos 49% das ações da BR Distribuidora. Vamos dividir o controle da BR , mas não vamos abrir mão da gestão”, respondeu Parente.
Parente declarou-se a favor, por convicção, da política de conteúdo local. “Dado o tamanho da empresa e de sua demanda, podemos contribuir para uma indústria brasileira que seja competitiva internacionalmente. Sou brasileiro e patriota, e gostaria de comprar tudo no Brasil, se prazo, preço e qualidade forem competitivos. Mas, não posso prejudicar a Petrobras. Tivemos que fazer leasing para encomendas que estavam atrasadas e que poderiam nos causar prejuízos de três bilhões”, avaliou.
Novos desafios, soluções inovadoras
Antes do encontro, Parente e a comitiva da Petrobras foram recebidos pela diretoria da Coppe. O diretor da Coppe, professor Watanabe apresentou alguns dos principais projetos da instituição, como a Boca de Sino Multifuncional (BSMF) e a Boia de Sustentação de Risers (BSR), projetos vencedores do Prêmio ANP 2015; o robô Dóris, utilizado na exploração offshore; ônibus híbrido a hidrogênio e eletricidade; o Maglev-Cobra.
O professor Watanabe também apresentou a Parente o projeto Sistemas Inteligentes de Produção Óleo e Gás (Sipog). A iniciativa visa consolidar um conjunto de propostas para aumentar a eficiência na exploração offshore, com medidas como: minimizar o tamanho das plataformas; maximizar a quantidade de equipamentos no fundo do mar, em vez dispersá-los por uma área maior; construção de poços inteligentes, mais produtivos; redução de custos; automação e robotização; melhoria da manutenção.
Em curto prazo, a proposta prevê avanços na produção de materiais, inovação industrial, construção naval e descomissionamento de instalações offshore. No médio prazo, o Sipog levaria à geração de energia renovável, no uso do gás natural dos poços para a geração de energia elétrica, e transmissão de energia em corrente contínua.
O diretor da Coppe aproveitou a ocasião para apresentar outros projetos inovadores para o futuro, como o Sistema autônomo de produção submarina de óleo e gás, em desenvolvimento pela unidade Coppe-Embrapii; e o Centro de Tecnologia da Construção Naval e Offshore, cujo objetivo é consolidar um polo de padrão internacional, integrando laboratórios e dando apoio à transferência de tecnologia e à formação de mão de obra. De acordo com o professor Segen Estefen, do Programa de Engenharia Oceânica, qualificar os estaleiros do ponto de vista técnico e aprimorar a formação de mão de obra seria estratégico para o setor e para o país.
De acordo com o diretor de Orçamento e Controle da Coppe, Fernando Peregrino, “há um crescimento visivel da burocracia, é preciso sim ter formalidades, mas elas precisam ser mantidas em um nível que não afogue os processos”, criticou Peregrino, que entregou uma carta do Conselho Nacional das Fundações de Apoio às Instituições de Ensino Superior (Confies) sobre o tema.
“Não poderia concordar mais. Sempre fui crítico desse sistema de controle que olha o processo e não a eficiência dos resultados. Por ter passado pelo que passou, a empresa sofreu grande pressão pelo aumento de controle. Infelizmente,não se mede o custo dos recursos gastos com o excesso de vigilância quanto a formalidades”, observou Pedro Parente.
Nesta primeira reunião, realizada apenas com a diretoria da Coppe, além dos diretores Watanabe e Peregrino, estiveram presentes o reitor da UFRJ, professor Roberto Leher; o decano do Centro de Tecnologia, professor Fernando Ribeiro; o diretor de Relações Institucionais, professor Luiz Pinguelli Rosa; e o professor do Programa de Engenharia Oceânica da Coppe, Segen Estefen.
Acompanharam o presidente da Petrobras, a diretora de Exploração e Produção, Solange Guedes; o diretor de Estratégia, Organização e Sistema de Gestão, Nelson Silva; o gerente executivo do Cenpes, Joper Cezar de Andrade Filho; e as assessoras da Presidência, Leandra Peres e Marcella Campos.
Coppe e Petrobras, 39 anos de parceria
Após as reuniões, a comitiva da Petrobras embarcou no Maglev-Cobra, o trem de levitação magnética desenvolvido pela Coppe, e visitou o LabOceano, onde está instalado o tanque oceânico mais profundo do mundo.
Capaz de deslocar-se silenciosamente e sem emitir poluentes, o Maglev-Cobra tem uma série de vantagens se comparado a outros meios de transporte. A principal delas é o baixo custo de implantação por quilômetro, que é de cerca de 1/3 do valor necessário para implantação do metrô na mesma extensão.
Com profundidade de 15 metros em toda sua extensão, um poço central com 10 metros adicionais e dimensões de 30 metros por 40 metros, o LabOceano Faz pesquisas em hidrodinâmica experimental e computacional (CFD) e em modelagem numérica de sistemas oceânicos.
Ao final, o presidente Pedro Parente se disse surpreso com o que viu nas instalações da Coppe, o que seria difícil imaginar sem a visita.
Fundada em 1963, apoiada em três pilares – excelência acadêmica, dedicação exclusiva de professores e alunos e aproximação com a sociedade –, a Coppe é o maior centro de ensino e pesquisa em engenharia da América Latina. e, ao longo de cinco décadas, formou mais de 13 mil mestres e doutores nos seus 13 programas de pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado). Primeira universidade a formalizar um projeto em parceria com a estatal, em 1977, a Coppe realizou 2000 projetos em parceria com a Petrobras, nos últimos 12 anos, envolvendo recursos da ordem de um bilhão de reais, com benefícios mútuos.
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