Primeira visita virtual ao Atlas aberta ao público desperta curiosidade

Planeta COPPE / Engenharia Elétrica / Notícias

Data: 23/06/2017

A Coppe/UFRJ recebeu um bom público em seu auditório, na última quinta-feira, 22 de junho, para a primeira visita virtual, aberta ao público, ao Atlas, experimento de detecção de partículas instalado no Cern, o maior laboratório de física do mundo. Concebido com a contribuição da Coppe, o Atlas desempenhou papel fundamental na descoberta do bóson de Higgs – a chamada “partícula de Deus”.

A visita começou com uma breve palestra, proferida pelo professor José Manoel Seixas, do Programa de Engenharia Elétrica da Coppe, e que coordena, juntamente com o professor Fernando Marroquim (Instituto de Física da UFRJ), a equipe brasileira no Atlas. Em seguida, teve início uma videoconferência, com o pesquisador Denis Damásio, formado pela Coppe, no Atlas Visitor Center. O evento atraiu pessoas de diversas unidades da UFRJ e mesmo de outras instituições, como Furnas. Parte do público chegou cedo ao evento, sendo recepcionada no Espaço Coppe Miguel de Simoni, em seu nicho “A recriação do começo dos tempos”.

A parceria entre a Coppe e o Cern começou oficialmente em 1988, mas a sua origem está na viagem feita no ano anterior pelos professores da Coppe, Zieli Dutra, Luiz Calôba, Jano Moreira, e pelo professor Fernando Marroquim (IF/UFRJ). A partir daí quatro alunos de doutorado seguiram para o Cern, dois dos quais integram o quadro de docentes da instituição:José Manoel Seixas, Cláudia Werner, diretora de Assuntos Acadêmicos da Coppe e professora do Programa de Engenharia de Sistemas e Computação (PESC).

À exemplo da corrida tecnológica aeroespacial, as pesquisas desenvolvidas no Cern, embora tenham seu foco na física básica, resultaram em várias conquistas tecnológicas de uso no dia a dia. A mais famosa dessas contribuições é o protocolo www, que se tornou o padrão para a navegação na internet. A primeira página web do mundo foi desenvolvida no Cern. Além disso, há várias outras aplicações de tecnologias inicialmente concebidas para uso no laboratório: telas touch screen; diagnóstico por imagens de doenças como o câncer de mama (permitindo constatar calcificações de 1 mm) e esquizofrenia; radioterapia, biotecnologia; computação de alto desempenho; criogenia; ímãs supercondutores; dentre outros.

De acordo com Seixas, o Atlas possui quatro partes: tracking chamber (câmara de rastreamento); eletromagnetic calorimeter (calorímetro eletromagnético), hadron calorimeter (calorímetro hadrônico) e muon chamber (câmara de múons). O conjunto de detectores busca eventos físicos de interesse em meio aos 60 terabytes de informação que o Large Hadron Collider (LHC) é capaz de gerar, no Atlas, a cada segundo. “A maior parte é descartada no Atlas pelo processo de filtragem online, que tem participação da Coppe, tanto para a detecção de elétrons, como para a de múons, os principais canais físicos de interesse no LHC”, ponderou o professor.

A maior parte é descartada no Atlas pelo processo de filtragem online, que, hoje, tem participação decisiva da Coppe, tanto para a detecção de elétrons, como para a de múons, os principais canais físicos de interesse no LHC.

Despertando a curiosidade dos futuros colegas

O trabalho feito pelo Atlas e demais conjuntos de detectores  instalados ao longo dos 27 km do LHC permitiu ao Cern, anunciar ao mundo, em 2012, a descoberta do bóson de Higgs, conhecida popularmente como “partícula de Deus”. “Quase cinquenta anos depois de ser previsto pelo físico inglês Peter Higgs,  graças a essas colisões, juntamos estatística suficiente para comprovar a existência do bóson de Higgs, essa partícula que explica a existência de massas diferentes para as demais partículas e, portanto, permite a existência da vida, como a concebemos”, explicou Seixas.

No momento, o LHC gera entre 20 a 25 eventos por cada colisão, pela passagem dos feixes de prótons. Segundo Denis Damazio, são 2.317 pacotes de prótons (isolados a partir de átomos de hidrogênio) de cada lado que colidem a cada passagem de feixe pelo acelerador. Cada colisão gera 13 tera eletron-volts (13 trilhões de elétrons-volt, a unidade de medida utilizada em aceleradores de partículas).

O plano dos pesquisadores é aumentar o número de eventos por colisão para 200, até 2024. “A gente aumenta a estatística de observação de eventos muito raros. O upgrade do Atlas vai aumentar o ‘palheiro’ no qual teremos que procurar essas ‘agulhas’ de 10-21 m”, relatou Seixas.

Ailton Souza, funcionário do IPPN

A apresentação de Denis Damazio despertou a curiosidade do público presente. Houve espectador fazendo perguntas técnicas acerca da obtenção dos prótons e da aceleração dos mesmos, ao passo que alguns estudantes quiseram saber como deveriam se qualificar para futuramente serem colegas de trabalho de Denis, no laboratório europeu.

Ailton Souza, funcionário do Instituto de Pesquisas de Produtos Naturais Walter Mors (IPPN-UFRJ), foi o primeiro a participar das visitas virtuais ao Atlas a ter coragem e curiosidade de perguntar acerca das tensões entre religiosidade e ciência, quando pesquisadores buscam a origem da matéria e a origem da vida. Denis foi hábil em esquivar da polêmica: “trabalham no Cern pessoas das mais variadas origens e das mais variadas crenças. A ciência permite que em um mesmo laboratório trabalhem juntos judeus e muçulmanos, ateus e cristãos, e cheguem juntos a respostas sobre a constituição do universo”, ponderou o pesquisador.