Professor da Coppe é premiado na sede da ONU, em Nova York

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Data: 07/12/2018

O professor do Programa de Engenharia Nuclear da Coppe/UFRJ, Martinus Theodorus van Genuchten, foi contemplado com o 8º Prêmio Internacional Príncipe Sultan Bin Abduaziz de Água (PSIPW), na categoria “Prêmio Águas Subterrâneas”. A premiação, no valor de 133 mil dólares,contempla pesquisadores responsáveis por soluções pioneiras para os problemas de escassez de água potável no planeta. A cerimônia foi realizada, dia 29 de outubro, na sede das Nações Unidas (ONU), em Nova York, EUA.

O professor van Genuchten usa modelos matemáticos, aplicados a partir de softwares, para identificar e prever os impactos da poluição por contaminantes nas águas subterrâneas, como resíduos industriais, radioativos, entre outros. Suas pesquisas também propõem alternativas para o uso sustentável e o melhor aproveitamento desse recurso natural para o consumo humano e na agricultura.

“No mundo, mais de 1,5 bilhão de pessoas não têm acesso à água potável e 3 bilhões não têm acesso ao saneamento. Além disso, a água doce disponível, per capita, vem diminuindo anualmente”, afirmou van Genuchten durante seu discurso na cerimônia de premiação. Segundo o professor, o volume, que em 1950 era superior a 20.000 m3/ano, caiu para cerca de 7.500 m3/ano, em 2010. “A previsão para 2020 é de 5.000 m3/ano, valor que representa uma redução de quatro vezes em apenas 70 anos”, estima.

Resíduos do acidente com o Césio-137 é tema de um dos artigos destacados

Durante a cerimônia, a PSIPW destacou cinco trabalhos de van Genuchten. O mais recente, “Reassessment of the Goiânia radioactive waste repository in Brazil using HYDRUS-1D”, publicado em 2018, apresenta resultados de estudos sobre os repositórios de concreto que armazenam os resíduos radioativos gerados pelo acidente com o Césio-137, na cidade de Goiânia, em 1987. Na época, o manuseio indevido de um aparelho radioterápico abandonado no Instituto Goiano de Radioterapia, provocou a contaminação de centenas de pessoas e a limpeza das áreas afetadas gerou seis mil toneladas de lixo radioativo.

“Trabalhamos com a Comissão Nacional de Energia Nuclear para fazer uma reavaliação de segurança dos repositórios e identificar os possíveis impactos dos resíduos ao meio ambiente”, explica van Genuchten, que escreveu o artigo em parceria com os pesquisadores da Coppe Su Jian e Elizabeth M. Pontedeiro, e os membros da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) Paulo F. Heilbron e Jesus Perez-Guerrero.

Os pesquisadores simularam fluxos de água para testar se haveria possibilidade de contato entre o material radioativo armazenado nos repositórios e os lençóis freáticos. O estudo concluiu que é desprezível a quantidade de material radioativo que atingirá as águas subterrâneas durante a vida útil do repositório, de aproximadamente 400 anos. De acordo com o estudo, o aquífero local não representa risco de contaminação para as pessoas que vivem na região. Para realizar os cálculos, os pesquisadores utilizaram o software HYDRUS-1D, padrão da indústria para modelar fluxos de saturação variável e transporte de soluto.

Segundo o professor Su Jian, do Programa de Engenharia Nuclear da Coppe, um dos autores do artigo, esse prêmio é muito importante e chama a atenção da comunidade internacional para a qualidade das pesquisas desenvolvidas nas instituições de ensino brasileiras. “van Genuchten é um cientista conhecido mundialmente e sua premiação mostra a excelência da Coppe na área de estudos de recursos hídricos. A questão da água é um dos temas centrais hoje, o que faz com que seu trabalho traga muita visibilidade para nós.”

Sobre o premiado

Martinus Theodorus van Genuchten nasceu na cidade de Vught, na Holanda.

Concluiu sua graduação em Física dos Solos, em 1968, na Wageningen University, na Holanda, e em 1971 tornou-se mestre pela mesma universidade. Em 1975, obteve o título de doutor em Física dos Solos, na New Mexico State University, nos EUA.

Van Genuchten é professor colaborador da Coppe desde 2008. Até 2016 fez parte do Programa de Engenharia Mecânica e em 2017 migrou para o Programa de Engenharia Nuclear, onde trabalha atualmente.

Também é professor associado do Departamento de Geologia Aplicada da Universidade Estadual de São Paulo e professor visitante do Departamento de Ciências da Terra da Utrecht University, na Holanda.

Confira os demais artigos citados na cerimônia de premiação:

“A closed-form equation for predicting the hydraulic conductivity of unsaturated soils”, que já acumula mais de 10 mil citações registradas no ISI Web of Science, no qual van Genuchten descreve a umidade e permeabilidade do solo a partir de uma nova equação por ele desenvolvida. “Eu o escrevi quando era aluno de pós-doutorado. Aprimorei uma equação e agora ela é usada não só na agricultura ou hidrologia, mas também em outras áreas, como na engenharia de petróleo, e para analisar as membranas do corpo humano”, explica o professor.

“Multiscale modeling of dual-porosity media; a computational pore-scale study for flow and solute transport”, publicado em 2017, que mostra como a modelagem de uma rede de porosidade dupla pode ser usada para compreender e quantificar as trocas de soluto no solo. O artigo foi escrito em parceria com Enno T. de Vries e Amir Raoof.

“Recent developments and applications of the HYDRUS computer software packages”, publicado em 2016, no qual analisou os recursos e aplicabilidades incorporados ao pacote de software HYDRUS, de 2008 em diante. Este assinado em parceria com Jiří Šimůnek e Miroslav Šejna.

– “Mass transfer studies in sorbing porous media: I. Analytical solutions”, de 1976, que descreve estudos nos quais foram desenvolvidos modelos de dupla porosidade para o transporte de solutos em solos macro porosos e rochas fraturadas. O artigo foi escrito  em parceria com Peter J. Wierenga.

Sobre o prêmio

A PSIPW é uma organização internacional, não governamental, sem fins lucrativos, que premia cientistas, pesquisadores e inventores por trabalhos pioneiros que busquem soluções para os problemas de escassez e poluição da água em todo o mundo.

Criada em 2002, pelo falecido Príncipe Sultan Bin Abdulaziz, então príncipe herdeiro da Árabia Saudita, a instituição distribui os prêmios de forma bienal, divididos em cinco categorias: Prêmio Água Superficial; Prêmio Águas Subterrâneas; Prêmio Recursos Hídricos Alternativos; Prêmio Gerenciamento e Proteção de Água; Prêmio Criatividade.

O prêmio concedido a van Genuchten será usado para aprofundar as pesquisas sobre solos, hidrologia e meio ambiente no Brasil e no mundo, especialmente em áreas áridas e semiáridas.

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