República Dominicana adota tecnologia desenvolvida por pesquisador brasileiro para construção de casas populares
Planeta COPPE / Engenharia Civil / Notícias
Data: 29/11/2002

O Governo da República Dominicana acaba de concluir 100 casas populares construídas com técnica brasileira desenvolvida na COPPE pelo professor Francisco Casanova. As moradias foram inauguradas em novembro, durante a 12 ª Cúpula Íbero – Americana, que reuniu governantes de 21 países. No evento, realizado em novembro deste ano, na cidade de São Domingos, na Republica Dominicana, os governantes, entre eles o Presidente Fernando Henrique Cardoso, tiveram a oportunidade de conferir os resultados da técnica desenvolvida no Brasil que, além de custos mais baixos, traz vantagens sócio-ambientais: gera empregos e reduz em 90 % o consumo de energia em relação ao método de construção convencional.
As casas possuem uma área entre 40 e 50 m2 e foram levantadas em regime de mutirão, a um custo médio por unidade de 5 mil reais. A técnica brasileira resultou em uma economia significativa para o governo daquele País. Segundo Franscisco Casanova, professor do Programa de Engenharia Civil da COPPE, a aplicação desta tecnologia possibilita uma redução de custos de 30 a 50% em relação às aos métodos de construção tradicionais.

A convite do Ministro da Ação Social da República Dominicana, Embaixador Pedro Velasquez, o professor Casanova esteve em São Domingos, em setembro de 2001, onde ministrou um curso para 250 profissionais , entre engenheiros, arquitetos, técnicos da indústria civil e professores da Universidade Autônoma de São Domingos. O engenheiro repassou sua técnica e capacitou os alunos a transmitirem e utilizarem a técnica desenvolvida por ele na COPPE para a construção de habitações destinadas à população de baixa renda.
Em agradecimento ao trabalho desenvolvido pelo engenheiro brasileiro àquele país, o Ministro da Ação Social, Pedro Musa Velasquez, prestou uma homenagem ao professor Francisco Casanova, em nome do Governo da República Dominicana, no dia 23 de outubro, durante sua visita ao Brasil. A cerimônia foi realizada na Universidade Federal do Rio de Janeiro e contou com a presença do Reitor, professor Carlos Lessa.
Vantagem técnica e econômica
Inspirado por antigos métodos de construção que tem o solo como base, o professor Francisco Casanova aperfeiçoou uma técnica de construção, denominada solo-estabilizado. A principal parte da tecnologia consiste na confecção de tijolos a partir da combinação de solo, cimento, cal, produtos químicos e resíduos industriais, minerários e agrícolas.
“O processo de confecção de tijolos é muito simples, mas tem que ser controlado tecnicamente. A proporção de cimento na composição do tijolo varia entre 5 e 10%, dependendo do tipo de solo. A mistura deve ser corretamente formulada e compactada em prensas manuais ou hidráulicas e compactada. Após serem retirados da prensa, os tijolos permanecem em ambiente úmido, na ausência de vento e de sol, durante pelo menos uma semana. As peças são produzidas para serem simplesmente encaixadas uma nas outras, podendo dispensar o uso de argamassa de acordo com o modelo”, explica o professor.
A grande economia gerada pelo solo-estabilizado reside no ganho de tempo. A obra leva metade do tempo para ser finalizada em relação à alvenaria convencional. Segundo Casanova, utilizando o método tradicional, para construir uma casa de 50m2, leva-se , em média, 60 dias. Com a técnica do solo-cimento, uma equipe bem treinada pode concluir uma casa exatamente igual em apenas 40 dias. Na ponta do lápis, o professor garante que é possível economizar cerca de 35% só em mão-de-obra. Além da vantagem econômica, esta técnica proporciona conforto térmico e acústico superior ao das construções convencionais e praticamente elimina o desperdício de material, comum na maioria dos canteiros de obra. Para se ter uma idéia, ao contrário dos tijolos de argila queimada e dos blocos de concreto, que quando quebram têm que ser jogados fora, os de solo-cimento podem ser moídos e reaproveitados.
A economia de energia é outra vantagem apresentada por esta tecnologia. Aplicada em regime de mutirão, a redução de gastos com energia pode chegar a 90% em relação aos métodos tradicionais. Para se ter uma idéia, mil tijolos de argila queimada (o tijolo tradicional) precisam de 1 m3 de madeira para serem produzidos, o que equivale a cerca de seis árvores de porte médio ou 120 quilos de óleo combustível. O custo do frete e o ICMS são eliminados quando os tijolos são fabricados utilizando o solo d próprio local onde a casa será construída.
Questão Social
Segundo Casanova, esta tecnologia é uma amálgama entre arquitetura, engenharia, tecnologia e liberdade social. “ Considero uma ironia que, na era pós-industrial, tenhamos que recorrer as bases de um método utilizado por nossos ancestrais para gerar uma alternativa para a solução do grave problema de déficit habitacional”, afirma Casanova.
A ONU estima que, para satisfazer as necessidades mais elementares de moradia no mundo, são necessárias pelo menos 500 milhões de novas moradias ultra-econômicas. “Dentro do quadro econômico-social vigente, o solo se revela como o material com maior vocação para retomar o hábito de compatibilizar harmonicamente o projeto arquitetônico, os materiais locais e o sistema construtivo”, pondera o pesquisador.
Conhecimento milenar
Há pelo menos dez mil anos o homem utiliza o solo como material de construção. Como evidência destas técnicas, utilizadas intensivamente pelos gregos e difundidas pelos romanos, temos como vestígios edificações que estão de pé até hoje desafiando o tempo, após milhares de anos.
No Brasil, cidades como Ouro Preto, Diamantina e Paraty têm em comum quatro séculos de história que testemunham o uso intensivo da taipa-de-pilão, do adobe, e da taipa-de-sopapo ou pau-a-pique. “O solo não é de modo algum um material estranho à nossa herança cultural. Pelo contrário, estas cidades atestam ainda hoje todas as possibilidades destas técnicas”, afirma o Casanova.
Os métodos de construção utilizando solo foram intensamente utilizados até 1845, quando surgiu um novo material, o cimento Portlant. A partir de meados do século XIX, o solo começou a ser visto como material de segunda categoria e passou a ser utilizado, quase que exclusivamente, nas áreas rurais.