Último trem para Alexandria é tema de aula inaugural do PEQ

Planeta COPPE / Engenharia Química / Notícias

Data: 01/10/2019

“A Educação não é negócio, mas responsabilidade do Estado e nossa como cidadão. Tem que ser pública para priorizar a liberdade de pensamento. O pensamento intelectual precisa ser independente”, ressaltou o professor emérito da Coppe/UFRJ, Luiz Bevilacqua, que proferiu a aula inaugural da disciplina Metodologia Científica do Programa de Engenharia Química da Coppe/UFRJ, no dia 25 de setembro.

Ao abordar o tema “Último trem para Alexandria” Bevilacqua fez um paralelo entre o apogeu e decadência da cidade histórica fundada por Alexandre Magno (300 a.C. a 300 d.C)  com o avanço do conhecimento e do desenvolvimento tecnológico no Brasil, dos anos 1960 até o momento atual, no qual o governo brasileiro inicia uma espécie de ‘Guerra Santa’ contra a Ciência e a Educação.

Em sua exposição, o professor do Programa de Engenharia Civil da Coppe falou sobre  conquistas, descobertas e invenções de brasileiros, como o câmbio automático, a rádio transmissão, o motor a álcool e tecnologias para a extração  de petróleo em águas profundas. Também apresentou gráficos mostrando a evolução da produção cientifica do País, do número de docentes e discentes e do crescimento do orçamento do Ministério da Educação e do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações. “Conseguimos coisas extraordinárias nessas últimas décadas, bastante avanços”, afirmou, completando que, apesar disso, as universidades brasileiras não estão preparadas para o futuro.

Universidade do futuro: independência intelectual e fim dos departamentos

“O cerne da formação universitária é promover o exercício da independência intelectual, da redução da aversão ao risco e não o entupimento da formação com créditos virtuais”, explica o professor, que propõe uma universidade do futuro, em que as fronteiras do conhecimento se dissolvam e que não existam departamentos. Nesse novo modelo quatro grandes áreas seriam contempladas na formação básica na graduação, que são elas: Matéria, Energia, Filosofia e Antropologia. Modelo parecido já é aplicado na Universidade de Harvard e na Universidade Federal do ABC (UFABC).

Bevilacqua sugeriu a adoção de medidas urgentes, à margem das diretrizes do Estado, para driblarmos as ameaças ao Conhecimento. Segundo o professor da Coppe e ex-Reitor da UFABC, é preciso fortalecer a cooperação entre as universidades brasileiras, inclusive promovendo intercâmbio de professores e alunos entre instituições nacionais; aumentar o número de publicações em revistas nacionais; reduzir a carga horária obrigatória para os cursos de graduação; assumir riscos nas pesquisas, informar a sociedade sobre o que é feito dentro das universidades, dentre outras ações. “Se a gente só reconhecer o conhecimento dos outros países, em detrimento do nosso próprio, a gente não vai para frente. Temos que reconhecer que podemos fazer coisas boas e valorizar as nossas conquistas”.

Em debate aberto com estudantes e professor, que lotaram o auditório da Coppe, Bevilacqua aproveitou para realçar a importância do investimento público para o avanço do conhecimento e para o desenvolvimento tecnológico. Referindo-se diretamente ao projeto Future-se, do Ministério da Educação, criticou a proposta do governo que, segundo ele, ameaça a liberdade de pensamento.

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