Programa de Engenharia Elétrica celebra sua história e debate seu futuro
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Data: 14/12/2022
O Programa de Engenharia Elétrica da Coppe/UFRJ realizou na última terça-feira, 6 de dezembro, o seu 1º Colóquio de Engenharia Elétrica. Durante cerca de quatro horas, os professores Edson Watanabe, Richard Stephan, Afonso Celso Del Nero, Djalma Falcão, José Manoel de Seixas e Paulo Sérgio Diniz contaram a história do PEE, avaliaram problemas atuais e fizeram críticas construtivas.
O Colóquio teve como tema “56 anos do PEE – Perspectivas Históricas e Desafios Futuros” e também contou com a participação do professor Bertrand Laforge, da Université Sorbonne (França) que abordou um tema na fronteira do conhecimento da Física: a matéria escura, prevista nos modelos teóricos, mas cuja existência ainda não pôde ser comprovada.
Preocupado com o que considerou uma desvalorização da atividade pedagógica e com as divisões causadas pela descentralização acadêmica, o professor Paulo Sérgio Diniz fez críticas construtivas em busca de uma política acadêmica mais inclusiva que garanta renovação e excelência.
“Posso parecer amargo, mas acho que nós enquanto grupo precisamos reagir. Acho que estamos em uma decadência coletiva indesejável. Quando vejo os programas acadêmicos que receberam conceito 7 da Capes, não acho que sejam melhores do que nós, tampouco que sejam piores, mas são mais organizados. O modelo que nós adotamos está equivocado. Não estou dizendo que Coimbra errou. Ele fez o que podia fazer, só que depois deveríamos rever as divisões que foram feitas”.
Na avaliação do professor, os professores universitários dividem seus esforços em atividades de ensino, pesquisa e consultoria, mas lamentou que haja uma tendência a priorizar a consultoria. “O fato é que o docente que atua em pós-graduação tem que priorizar pesquisa, ele está formando futuros pesquisadores. A pesquisa é o alimento para o conhecimento, para o intelecto. E o professor tem que pesquisar, para alimentar seu intelecto e ensinar bem. Mas, quer ele seja um bom pesquisador ou não, a prioridade total é ser um bom docente. Dar boas aulas, dar conteúdo de qualidade. Temos muitos professores que fazem isso. Por outro lado, professor que entra em sala sem ter preparado seu material, sua aula… ensinar mal deveria ser proibido”, criticou Diniz.
“Temos que valorizar os professores que não são tão dedicados à pesquisa, como são à didática. Professor que não é pesquisador é discriminado. Tem professor que se dedica à universidade como ninguém. Qual o reconhecimento que ele tem? O veem como não sendo um bom pesquisador. Acho que não temos uma política capaz de incluir a todos, de acordo com suas capacidades e interesses. É preciso dar mais oportunidades ao docente que se dedica à didática. Ela não é valorizada. Isso mede a pobreza de espírito de nossa sociedade em geral. É preciso reverter esse processo. A UFRJ é o que nós temos de mais importante para contribuir ao país”, exortou o professor.
O professor Afonso Celso Del Nero falou sobre momentos-chave da história do Programa e destacou professores universitários que considera verdadeiros heróis. “Até 1970, poucas pessoas passavam 40h na universidade. Nem se sabia o que era dedicação exclusiva. Um dos responsáveis pela construção da pirâmide do conhecimento que temos hoje (ensino, pesquisa, dedicação exclusiva) foi aquele por cujo busto vocês passaram para entrar nesse auditório. Alberto Luiz Coimbra. No meu ponto de vista, ele foi um dos semeadores de ideias, dos plantadores de universidades. Outros plantadores de ideias foram o professor Casimiro Montenegro, criador do Instituto de Tecnologia Aeroespacial (ITA), e professor Zeferino Vaz, criador da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)”.
Segundo professor Afonso, não faltava dinheiro na Coppe. O país vivia o período de acelerado crescimento econômico, conhecido como milagre brasileiro. “Havia grana e Coimbra conseguia captar recursos para a Coppe. Não dependia dos recursos da UFRJ, vinham recursos do BNDE. Foi uma época de entusiasmo, a Coppe crescia e atraía. Cerca de 70% dos meus professores eram estrangeiros. Havia aulas em inglês e francês. Era uma experiência muito rica andar por esses corredores. Uma vontade de trabalhar, produzir, dar o coração”.
A época áurea terminou quando, de acordo com o professor, ocorreu a “revolta do Bloco H”, em 1973 e 1974, quando os coordenadores de Sistemas, Biomédica e Elétrica se rebelaram contra o diretor da instituição, o professor Alberto Luiz Coimbra. “Uma briga pública, traumática, que foi a grande crise da Coppe. Os quatro protagonistas saíram e muitos outros professores, por eles trazidos à instituição, também saíram. A Coppe sofreu um grande abalo. Veio um interventor, e o PEE quase acabou. Eu e Eugenius (Kaszkurewicz) dizíamos ‘olha o PEE andando pelo corredor’, quando víamos o Djalma Falcão”, relembrou.
Divertindo-se com a lembrança do colega, professor Djalma admitiu que, por cerca de dois anos, foi o único docente da área de sistemas de energia elétrica. “Dos 56 anos do PEE, eu estive presente em 50, como aluno e professor. Em outubro de 1974, eu entrei no corpo docente como auxiliar de ensino”.
Djalma Falcão fez uma abordagem da história do Programa, começando na época do “Finepão”, quando havia financiamento abundante do BNDE e depois da Finep, passando por um período de transição, em que os docentes passaram a sofrer maior cobrança para que publicassem em periódicos conceituados, e os “tempos modernos”, em que as pesquisas foram reorganizadas em laboratórios, mais do que em áreas.
“Precisamos entender porque houve queda na avaliação Capes, se a qualificação docente foi mantida. A minha avaliação é que diminuiu o entusiasmo. Eu visitei as universidades federais de Santa Maria (RS) e São Carlos (SP), ambas com conceito 7 na Capes. Estão em pequenas cidades, com custo de vida mais baixo e condições de atrair professores em dedicação exclusiva”, analisou professor Djalma.
Buscando soluções
O professor Richard Stephan contou como a história do elevador dos fundos do prédio H (Richard preferiu se referir assim ao Bloco, devido ao cacófato) está intimamente ligada ao MagLev-Cobra, trem de levitação magnética desenvolvido na Coppe sob sua coordenação. “Eu tive que desobstruir o hall do elevador do térreo. Removemos o velho e inauguramos o novo na mesma data da conferência internacional sobre tecnologia de levitação magnética. Passado um mês constatamos que o poço começou a encher de água. Tentamos tirar manualmente, impermeabilizar. Constatamos que muitos problemas vinham da área externa e tentamos de tudo, sem termos recursos”.
“Em 2021, escrevi um projeto de Mobilidade para Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) pedindo recursos também para recuperação daquela área e contamos com ajuda do decano Walter Suemitsu e do superintendente Agnaldo Fernandes. A turma do Agnaldo conseguiu impermeabilizar para valer e fazer uma antessala de contenção e a monitoram. Oito anos depois, neste exato dia (6 de dezembro), o elevador do Prédio H é reinaugurado”, celebrou Richard.
Falando sobre o MagLev-Cobra, professor Richard celebrou o rápido desenvolvimento do projeto, da concepção ao protótipo em escala real, entre 2000 e 2014. “Até março de 2020 transportamos mais de 20 mil pessoas. Garantimos o nível TRL (nível de prontidão tecnológica) 7. Alguma coisa aconteceu no país a partir de 2015 e isso fica para os historiadores explicarem. Nós reagimos muito quando temos direcionamento. Exemplos disso são o Proálcool, Embraer, exploração de petróleo e o próprio MagLev. A competência tática não é nada sem o direcionamento estratégico e eu fui encontrar o nosso problema estratégico em um livro clássico, de Caio Prado Jr, em que ele diz que nossa economia está organizada como fornecedora de produtos primários para o mercado externo. E, infelizmente, continuamos assim”.
Richard pediu ainda uma solução para equacionar as dívidas relativas ao restaurante Burguesão. “O Afonso todo mês manda um email passando o chapéu para tentar salvar o restaurante. Não acho justo ele botar dinheiro do próprio bolso, eu já passei por isso e não dá certo. Precisamos encontrar uma solução para isso e a minha proposta é que a Associação de Docentes assuma isso. Eles devem ter caixa e devem reconhecer que o Burguesão fez parte da nossa comunidade”, sugeriu.
Desafios para o futuro da Engenharia Elétrica
O ex-diretor da Coppe, professor Edson Watanabe, preferiu falar sobre um dos grandes desafios para os quais a comunidade da Ciência e tecnologia se prepara para o futuro próximo, a transição energética. Watanabe explicou que a transição é o caminho para a substituição dos combustíveis fósseis por fontes renováveis de energia e tomou como exemplo a China, que faz há décadas um grande esforço de desenvolvimento socioeconômico, mas a um grande custo ambiental.
“Em 2011, o sistema elétrico chinês estava crescendo um Brasil (100 Gw) de energia por ano, a base de carvão, o que causa uma grande emissão de gases de efeito estufa, além de prejuízos à saúde. O jornal O Globo, em 2017, alertava que a poluição atmosférica custava um bilhão de reais à China, anualmente, e as pessoas já usavam máscaras por causa desse problema”, relatou o professor.
Watanabe ponderou que os investimentos em energia nuclear devem voltar à pauta e que haverá mais normas internacionais para incentivar que os países respeitem seus compromissos climáticos. “Acredito que haverá uma imposição internacional. Biden ( presidente americano) já anunciou uma taxa sobre as importações de países que não se esforçam para atingir compromissos de redução de emissões de gases de efeito estufa”.
O professor José Manoel de Seixas, por sua vez, falou sobre como a instrumentação e o processamento inteligente de sinais possuem múltiplas dimensões e discorreu sobre a sua aplicação em armas inteligentes, sonar passivo para a Marinha, auxílio na triagem e diagnóstico de doenças infecciosas como tuberculose e Covid-19, e nos projetos de detecção de partículas subatômicas, nos quais a Coppe atua em colaboração com o Cern (Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear), o mais importante laboratório de Física de partículas do mundo.
“Em 1989, nosso querido Zieli (professor Zieli Dutra, falecido este ano) nos levou a essa aventura (colaboração com o Cern). Instrumentação Eletrônica e Processamento de Sinais acessam área política de ordem superior e a área de Inteligência Computacional deu possibilidade ao PEE de travar contato com várias áreas e por meio de colaborações resolver problemas bastante complexos”, lembrou, emocionado, Seixas.
“Nós só conhecemos 5% da matéria que nós reconhecemos que existe. Existe Supersimetria? Levamos tantos anos para encontrar o Bóson de Higgs… e se ele for um dentre onze bósons, como prevê o modelo da Supersimetria? Hoje, o Cern já se volta para novos mapeamentos, calibração de assimetrias sutis. Já pensam em construir o Future Circular Collider (FCC), de 100 km de perímetro para substituir o Large Hadron Collider (LHC, com 27 km)”, o LHC vai parecer um brinquedo de criança”, explicou.